*23 Eu, a inconsciência. filosofia
*23 Eu, a inconsciência.
Quanto mais avanço no entendimento sobre algo, sobre um assunto, mais descrente me torno. Descubro que o saber é inútil, e que o domínio de uma teoria, de um conceito, aceito como base, como ponto de partida; é o vazio que me surge, que não satisfaz a minha especulação voraz, que como um “monstro que se alimenta da sua própria fome, não encontra o limite para o seu apetite. Não aceito nada como fim, nem como começo, não sei aonde esta estrada vai dá, aonde chegarei neste caminho insólito que peguei de olhos fechados; que apesar dos buracos, das pedras em que não raro tropeço, não me enfado, nem me canso de andar, muitas vezes corro para ver se alcanço uma outra vereda, menos desértica...
Tornei-me insuportável, ninguém agüenta meu silêncio, nem tão pouco o meu discurso; chamão-me de “ignorante”, de homem frio, de louco triste. É difícil conviver comigo mesmo, pois, para compreender os outros, até que eu me esforço, e às vezes me saio bem, ou mais ou menos, porém, comigo sou deveras radical, impaciente, até injusto, não perdoou as minhas falhas, minhas limitações no campo do saber, da tolerância, a minha capacidade de juntar informações, de organizar idéias, não me convence. Quero mais, muito mais, quero o universo todo de um gole só, em pouco tempo alcançarei o fim de tudo, não suporto a lentidão do sistema, a dificuldade dos homens donos do saber. É muito frouxo o método, a didática “superior” a impressão que eu tenho é que são crianças no jardim de infância, aonde rasteja a inteligência humana...
Às vezes penso que não tenho mais coração, aquele coração subjetivo aonde se processam as idéias, as emoções. Como me tornei demolidor das coisas sólidas, dos templos antigos, das crenças infundadas, me vejo como uma sombra sem sombra, sem identidade, sem referência, ou origem, sem rumo sem objetivo “nobre”; estou ilhado, para onde olho não vejo nada nem algo que me indique um caminho, todas as opções são miragens, não é água o que penso que é mar, não é terra o que acho que é ar. Estou flutuando em órbita de planetas invisíveis, não há gravidade que me empurre para cima ou para baixo, para outro ponto de vista, ou para outra paisagem, na verdade não tenho consciência de nada, nada é nada para mim. E eu quem sou? A inconsciência de mim mesmo!
Eu não tenho estilo, não escrevo sobre isso ou aquilo, só os fracos se auto definem, ou permitem que os outros os definam. Limitar um assunto é para mim carência de estudo sobre tal ciência. Ter, portanto, um ponto de vista é estacionar, desistir da busca dos porquês, é se cansar de uma jornada nobre, é acampar à beira da estrada de um ideal.
A exemplo da natureza que não dorme, nem tira folga do seu labor, da mesma maneira procede a mente arguciosa do homem inquieto. É imponível calcular a subjetividade, o que o meu inconsciente já produziu e produzirá, de modo que a soma da consciência banal, o senso comum não pode também ser medido, nem mapeado; todavia, os “sábios” insistam em chamar de conhecimento superficial. A despeito desta crença eu pergunto: de onde achas que vem as teorias que hoje classificamos de ciências, sobretudo, as forjadas a partir da ciência mãe, a filosofia? E mesmo esta ciência mãe qual foi de fato a sua origem, sua gestação se efetuou no útero mental humano de seres que engravidaram pelo processo da observação e da dedução, para darem à luz a um conceito lógico que já se desenvolvia no senso comum, embora não tenha chegado a uma verdade absoluta. Eis aí o motivo pelo qual eu digo e vivo a minha teoria: “o saber não se limita, não se pode definir algo ou alguém”. Se não concordas comigo é por que já te permitistes uma definição. O que posso dizer a teu respeito? Que és um sábio que não sabe nada, ou um ignorante que desconhece tudo.
Porém, minha consciência dirá: estais cometendo o mesmo erro... Só que isto é um outro texto, outro assunto.