OLHO O TEMPO...

Olho o Tempo.

... fazem 11 anos que busco um meio de parar e descansar.

Busco Tempo para enxugar uma lágrima teimosa, que tarde da noite me escapa dos olhos, quando observo meus filhotinhos a dormir... gostaria de poder ser outro tipo de Mãe e de Avó... mas, como diz o indianista Antonio Gonçalves Dias, em seu poema Canção do Tamoio:

"Não chores, meu filho;

Não chores, que a vida

É luta renhida:

Viver é lutar.

A vida é combate,

Que os fracos abate,

Que os fortes, os bravos

Só pode exaltar. 

II

Um dia vivemos!

O homem que é forte

Não teme da morte;

Só teme fugir;

No arco que entesa

Tem certa uma presa,

Quer seja tapuia,

Condor ou tapir.

III

O forte, o cobarde

Seus feitos inveja

De o ver na peleja

Garboso e feroz;

E os tímidos velhos

Nos graves concelhos,

Curvadas as frontes,

Escutam-lhe a voz!

IV

Domina, se vive;

Se morre, descansa

Dos seus na lembrança,

Na voz do porvir.

Não cures da vida!

Sê bravo, sê forte!

Não fujas da morte,

Que a morte há de vir!

V

E pois que és meu filho,

Meus brios reveste;

Tamoio nasceste,

Valente serás.

Sê duro guerreiro,

Robusto, fragueiro,

Brasão dos tamoios

Na guerra e na paz.

VI

Teu grito de guerra

Retumbe aos ouvidos

D'imigos transidos

Por vil comoção;

E tremam d'ouvi-lo

Pior que o sibilo

Das setas ligeiras,

Pior que o trovão.

VII

E a mão nessas tabas,

Querendo calados

Os filhos criados

Na lei do terror;

Teu nome lhes diga,

Que a gente inimiga

Talvez não escute

Sem pranto, sem dor!

VIII

Porém se a fortuna,

Traindo teus passos,

Te arroja nos laços

Do inimigo falaz!

Na última hora

Teus feitos memora,

Tranqüilo nos gestos,

Impávido, audaz.

IX

E cai como o tronco

Do raio tocado,

Partido, rojado

Por larga extensão;

Assim morre o forte!

No passo da morte

Triunfa, conquista

Mais alto brasão.

X

As armas ensaia,

Penetra na vida:

Pesada ou querida,

Viver é lutar.

Se o duro combate

Os fracos abate,

Aos fortes, aos bravos,

Só pode exaltar!"

Que avó eu seria se parasse de lutar pela vida, com a dignidade que herdei das Minhas Antigas?

Que exemplo daria aos que vieram após mim?

Enxugo essa lágrima teimosa e vou a luta... pois se a noite foi chuvosa, o dia será frio... se eu não me ergo e luto, corro o risco de enferrujar antes do tempo.

Aho.

Adda nari Sussuarana
Enviado por Adda nari Sussuarana em 13/03/2019
Código do texto: T6596927
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