O homem, um ser condicionado.
-Como assim?- pergunta um imbecil, que acha que ele não é, que não está condicionado em todos seus “sentimentos” que é dono dos seus movimentos e desejos. Não vou muito longe para provar esta, que não é uma teoria, e nem é minha visão do obvio, é sim um fato. Não falo só de hábitos comuns a todos os homens, pois estes são notórios, como os nossos desejos, necessidades diárias, como a hora de dormir, de acordar, de comer, enfim, os nossos reflexos, físicos involuntários, mesmo estes estão condicionados à outra ação exterior...
Com o passar dos dias tenho me aproximado do fim! È esta sensação de todos que caminham para a madureza da velhice. Não vejo isto no meu caso, fim do quê? Se vamos para fim, onde então ficou o início? Quando foi que comecei minha jornada? Onde peguei a estrada que me leva para este lugar que chamamos de madureza? Não tenho consciência deste regimento, da regência do tempo, sou independente deste círculo vicioso, que envolve as pessoas comuns. Não me interessa saber que dia é, que horas são, se o rio sobe ou desce para o mar. Nem me importa que outros nadem contra ou de acordo com a maré, eu sei onde estou, e isto me basta. De onde vim? Para onde vou? Isso é detalhe sem importância, a satisfação de viver o hoje, o agora, é tudo o que possuo.
O amanhã não existe ainda para mim, não sou dono do que lhe pertence, o que é meu de fato é o hoje, este agora em que penso, que vivo e escrevo neste piscar, neste instante que sou capaz de ser: um pensamento, uma mão que rascunha no papel idéias desencontradas que tu não consegues compreender facilmente, porque não consegues apartar-te da tua própria história, do teu passado, e do que esperas do futuro. Não sabes nada do que te espera do outro lado da folha em branco do livro da tua vida. O pavor que te assombra, a incerteza que te assusta, é porque não aprendestes a escrever com tuas próprias mãos a tua história. Convido-te para uma reflexão, à uma observação, ao exercício que produz a sublime intuição. Esquece-te de tudo o que ouviste até aqui, te imagines se for capaz, como um livro de páginas brancas. Não consegues? Dar-te-ei uma ajudinha; te empresto a borracha da desconfiança: sabes tudo que te ensinaram verbalmente, o por mímicas, por erros repetidos dos teus ancestrais? Pois bem, não é teu, foi usurpado, ou te apossastes indevidamente pelo método cruel da hereditariedade, por herança. Pergunto-te: o que tens de realmente teu? É tão pouco que não sabes onde está. Posso te indicar o caminho para encontrares o que te pertence realmente. O que tens de teu, é só a tua mente vazia, teu livro em branco; isto é, se a minha borracha te serviu. Se serviu, comeces já, agora, a escrever tua singular história: observar tudo em tua volta com outros olhos, olha por traz das evidências, demora-te na contemplação das coisas mortas, para entenderes as coisas vivas, porque elas parecem mortas aos teus olhos. Te surpreenderas ao compreender que, os vivos na verdade não vivem de fato, são os seres mortos que respiram outro ar, outro estado de consciência; ao passo que fores capaz de ver o inverso das formas, de tudo que te cerca, quando entenderes o que realmente há em tua volta, poderás começar também a respirar outro oxigênio, que hoje mata os seres “vivos”, então tu atingirás um estado superior, uma forma única eterna de vida, que separa o ser do não ser, que está acima do “bem e do mau”, do doce e do amargo, do gozo e da dor. Este lugar não reside fora de ti, está dentro do teu próprio universo que é único impar, singular, é teu, só teu; porém, é aí que mora o perigo, uma vez que assumires teu trono, teu posto de guardião deste tesouro não poderás te ausentar da tua posição soberana, não serás mais capaz de viver em outro mundo, em outro sistema sem seres dono, rei, deus da tua própria existência, senhor do teu próprio destino. Outra coisa; lembra-te, que este tesouro está escondido, camuflado pelos vermes da solidão eterna, não terás vizinho nem companhia neste mundo de glória, e de reconhecimento da tua inteligência, beberás em taças de ouro o vinho divinamente maligno da tua vaidade...