Não seja mané, novo não significa melhor.

O homem ocidental está atualmente certo de que há um curso da história concomitante com a evolução em todos os aspectos. Ele acredita firmemente que, com o passar do tempo, tudo evolui e melhora num fluxo histórico onde o fim último de tudo é alcançar a perfeição. Desnecessário dizer que esta "perfeição" é uma interpretação pessoal e limitada de perfeição, que em nada se aproxima do sentido real da palavra, não por má intenção de quem o faz, mas pela incapacidade humana de englobar toda a estrutura da realidade.

É claro que, com o pressuposto de que os acontecimentos seguem rumo a um destino de perfeição, estas pessoas esperam que os fatos sempre mudem conforme esta ideia de evolução. Desta forma sempre devem acontecer menos assaltos, menos agressões, os filhos devem sempre ser melhores que os pais, as leis de hoje têm que ser melhores que as de ontem. Por isso que, quando algo que não corrobora esta ideia acontece, todos falam que aquilo é um retrocesso, ou quando o grupo ao qual compactua toma as medidas que pioraram a situação, fazem um esforço mental homérico para apontar conspirações e sabotagens que não permitiram a evolução por parte de algum grupo rival de pessoas más e retrógradas.

Logo, quem pensa e sente desta forma está condenado a crer que há pessoas boas, que colaboram com a evolução, e pessoas más, que são agentes do retrocesso humano, com suas crenças e hábitos ultrapassados. É deste lugar que surge o culto moderna à juventude e a necessidade de ser vanguardista. Recentemente foi feito um estudo pelo MIT com vários dilemas morais, onde as pessoas deveriam dizer quem deveria ser salvo caso fosse impossível evitar o acidente. Nos países ocidentais ficou evidente a tendência a salvar os jovens, enquanto os orientais preferem salvar os mais velhos. Numa analogia tosca, os orientais preferem salvar as pinturas e os ocidentais a tela em branco.

Trocando em miúdos, os orientais tendem mais a preferir os conhecimentos e experiências do que é antigo ao invés do potencial e das possibilidades do que é novo. Evidente que, quando adotamos o novo em troca do velho existe a possibilidade do novo ser melhor. Porém a mente que associa o fluxo temporal com a evolução necessariamente acredita que o novo sempre será melhor que o atual, ignorando a possibilidade do contrário acontecer, assim ignorando um aspecto vital da realidade circundante.

É óbvio que devemos, em alguns momentos, trocar coisas velhas por coisas novas, mas depois de análise, sem assumir que o novo é sempre melhor. Nunca devemos trocar o certo pelo duvidoso.

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