TRANSTORNO DEPRESSIVO

Ao final da consulta de hoje, doutora Tâmara me perguntou quantos comprimidos eu ainda tinha. Dada a resposta, veio a orientação:

- Durante uma semana você vai tomar em dias alternados. Na semana seguinte, a cada dois dias e, a partir do dia 28 de fevereiro, você vai parar. Isso quer dizer, moça, que o tratamento acabou, você está de alta!

Ela se referia ao tratamento com medicação para o diagnóstico de um ano atrás, quando admiti a necessidade de apoio profissional para lidar com as emoções diante da exposição a estresses do cotidiano (a mente cheia de afazeres e decisões a serem tomadas; marcas do passado pesando sobre minhas costas; família; casa; trabalho; estudos; relacionamentos, etc.). Somado a isso, a necessidade de agradar, de se antecipar, de resolver as coisas, tornara-se uma doença. Eu não controlava a ansiedade e me ressentia com a calmaria do outro, às vezes julgando-o desinteressado.

A terapia, parte do tratamento psiquiátrico, me ajudou a entender que não importa o que eu faça, sempre haverá o outro, com suas qualidades e defeitos, o que ele pensa e o que ele faz, e isso eu não posso mudar. E me fez reconhecer meu maior inimigo: o perfeccionismo. Prisioneira desse distúrbio neurótico, insanamente eu queria dar o meu melhor, fazer além do solicitado, atender a todos e nunca, mas nunca, dizer “não”. E, Pior que isso, eu esperava que o outro fosse igual a mim (que absurdo!), sentindo-me afetada emocionalmente por não perceber nele a mesma entrega diante de um desafio.

Essa descoberta, e a consequente aceitação, foi crucial para minha “cura”. (Passei a criar menos expectativas, agora estou criando felinos - tenho três gatas!). E serviu para eu entender que a mudança possível é a minha. Mudar a forma de ver o outro, a forma de encarar os desafios... viver mais tranquila, pedir a Deus, como cantou Cássia Eller, “um pouco de malandragem”, são ações que eu posso fazer para melhorar meus dias.

Finalmente, voltando à alta declarada pela doutora, quero dizer que estou me sentindo livre! E feliz, por ter resistido à ignorância de alguns que me criticaram, me olharam diferente, e até discutiram, sem a minha presença, minha “condição” mental, por causa do antidepressivo e das consultas periódicas ao psiquiatra; feliz por ter superado o preconceito de alguns que avaliaram meu transtorno como falta disso e daquilo. Estou livre dos juízes que se basearam em colocações como “ela tem problemas” para me rotular de coitada.

Danem-se os julgadores! O reconhecer-se é extraordinário.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 14/02/2019
Código do texto: T6574975
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.