Amor e Unidade

Duas das características mais frequentes nos testemunhos de quem passou por Experiência de Quase Morte são as fortes sensações de amor e de unidade, tão intensas que se torna até difícil descrever em palavras. Essas pessoas alegam ter experimentado um amor profundo e incondicional por todas as pessoas, ao mesmo tempo em que declaram ter sentido uma conexão entre elas e tudo o que existe no Universo.

Ao ler um desses relatos é que me dei conta de uma coisa que, por mais óbvia que pareça, havia me escapado. A unidade é, afinal, o resultado final do processo de amor. Cada vez que se ama uma pessoa, um animal, uma paisagem ou qualquer outra coisa, é como se nós “anexássemos” o objeto do nosso amor à nossa própria existência.

Ao amar, não somos mais apenas indivíduos isolados, mas tornamo-nos também parte daquilo que amamos. Amar é estabelecer uma união entre si mesmo e outra coisa. É um processo de expansão do próprio coração. Quanto mais pessoas, animais e lugares amarmos, maior será a nossa sensação de unidade. No mundo ideal, iríamos amar absolutamente tudo e todos, o que nos traria, de fato, uma profunda sensação de conexão com o Universo.

O que muitos relatos sugerem é que lá, no “além”, o amor é tão grande que alcança tudo e todos, por isso existiria unidade. Verdade ou não, parece certo que o processo de expansão do amor é do interesse da humanidade. Para isso, entretanto, é preciso passar por cima de tantas barreiras que criamos e que tem o efeito de limitar as pessoas que podemos amar.

Uma fronteira é uma barreira para a unidade. A própria família pode ser uma barreira para a unidade, pois sugere que há um grupo especial de pessoas que merece ser amada mais do que as outras – esse desequilíbrio não leva à unidade que é sugerida por uma experiência de amor pleno e irrestrito.

O tempo todo tentamos limitar o nosso amor às pessoas que, de algum modo, são parecidas conosco, seja por compartilharem o mesmo material genético, a mesma fé, a mesma ideologia e, às vezes, até o mesmo time de futebol. Essas são barreiras para a unidade, pois elas ditam a quem devemos amar mais ou melhor, e muitas vezes ditam até a quem devemos odiar.

É de se observar que, embora grande parte das pessoas seja cristã, tão poucas se preocupem efetivamente em respeitar o mandamento de amar os seus inimigos. Muitas pessoas que alegam amar os seus inimigos nem ao menos cogitam deixar de tê-los como inimigos. Ora, o sentido mais natural por trás das palavras de Jesus é que, ao amar um inimigo, ele não irá mais ser o meu inimigo – ele pode até se considerar assim, mas não será mais considerado pelo cristão. Entretanto, o que se vê é cristão que “ama” o seu inimigo, mas nem por isso deixa de vê-lo como inimigo. Este amor, naturalmente, não será nunca capaz de levar à unidade.

O amor, insisto, é um processo de expansão de mim para tudo o que eu amo. A unidade é o resultado ideal, quando eu já tiver me expandido tanto que não haverá nada que não seja atingido pelo meu amor, nada que me seja estranho e eu não ame. Então eu irei estar ligado a tudo e tudo fará parte de mim. Amemos, pois.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 29/01/2019
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