Bolsonaro não conhece a verdade que liberta

“Brasil acima de todos e Deus acima de Tudo”. Esse foi o lema utilizado pelo presidente durante a campanha eleitoral. Aliás, o que não falta no atual governo são frases de efeito com conteúdo religioso. Quem não lembra da frase da ministra Damares no dia da posse: “ Somos um estado laico, mas esta ministra aqui é terrivelmente cristã”

A ministra Damares não percebeu que sua frase foi um ato falho, onde a expressão “terrivelmente cristã’ desnuda a personalidade de um grupo de pessoas contraditórias que coloca um grande abismo entre o discurso e a prática cristã.

Entre as duas palavras – terrivelmente e cristã - a que tem servido de exemplo para as ações do governo é a palavra terrivelmente. Se o leitor acompanhar meu raciocínio, concordará com a minha opinião. A última decisão tomada pelo governo Bolsonaro foi “terrivelmente anticristã”, pois revogou a adesão ao pacto global de imigração, acompanhando os EUA e Hungria cujas lideranças também são terríveis. Uma atitude completamente contraria aos ensinamentos do cristianismo, inclusive, é algo criminalizado no velho testamento onde prevalecia a lei de Talião ( “Dente por dente olho por olho”).

Não obstante aos ensinamentos bíblicos, o mesmo governo que levanta a bandeira da cristandade , dizendo colocar Deus acima de tudo, rebaixa-o com suas atitudes.

Recentemente o papa Francisco, em um encontro com diplomatas, alertou sobre o ressurgimento do nacionalismo e fez um apelo para que os países cumpram o acordo de imigração para ajudar os refugiados que hoje são, segundo a ONU 21,3 milhões de pessoas. É quase três vezes a população da cidade do Rio de Janeiro, onde Bolsonaro morava.

Aturdido com a decisão desse governo “terrivelmente cristão”, resolvi pesquisar alguns textos bíblicos que tratam do assunto e verifiquei a inequívoca e unânime visão favorável ao acolhimento dos estrangeiros.

“E quando o estrangeiro peregrinar convosco na vossa terra, não o

oprimireis. Como um natural entre vós será o estrangeiro que

peregrina convosco; amá-lo-ás como a ti mesmo, pois estrangeiros

fostes na terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus.” - Lv 19.33-34

“Que faz justiça ao órfão e à viúva, e ama o estrangeiro, dando-lhe

pão e roupa. Por isso amareis o estrangeiro, pois fostes

estrangeiros na terra do Egito.” - Deuteronômio 10.18-19

Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês

me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram;

necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês

cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram’. Mt 25.35-36

Os dois primeiros textos convida-nos a praticar a alteridade, empatia e compaixão, lembrando ao povo que ele também foi estrangeiro em outra terra (Egito). Por sua vez, o último texto que se encontra em Matheus, cujo contexto parece tratar-se de um julgamento final, Jesus está premiando os seus verdadeiros discípulos com a vida eterna e, dentre os motivos, está o acolhimento dos estrangeiros.

Não, senhor presidente. No seu íntimo Deus não está acima de tudo. Contudo, ainda, ha uma chance de voltar atrás. Vale lembrar que ser humilde e reconhecer os erros cometidos é algo “maravilhosamente cristão”.

Albertino Ribeiro
Enviado por Albertino Ribeiro em 11/01/2019
Reeditado em 16/10/2019
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