Silêncio
Manhã de domingo, um tédio sem fim e nada pra fazer, ainda mais em um dia de chuva, a casa toda em silêncio e só o que se ouvia era o barulho continuo das gotas que caiam em diagonal sobre o vidro das janelas. Todos dormiam, nenhuma luz para afastar as sombras dos corredores ou das salas. A casa era grande e assustadora tanto de fora quanto dentro.
O silêncio, a cada minuto, ficava mais enlouquecedor, a chuva não parava, e logo se ouvia barulhos de dentro das paredes, barulhos que só as mentes pertubadas pelo silêncio ouvem, assim como as sombras que se moviam, ou os objetos que se mechiam. O lugar ganhava vida.
Longas horas em silêncio, silêncio torturante, para quem prefere companhia, a mente por si comunica-se com sigo. Estopim para falar sozinho, longos minutos de pensamentos que não cabe na mente e são expulsos pra fora, um longa pausa para ver se alguém acordou e o espia pelos cantos, "não ninguém" fala o nosso loucotor.
A chuva é sua única companhia naquele momento e por isso, se sente grato, o silêncio é uma dadiva para quem não aguenta mais ser julgado, pode-se falar sozinha, "pode" nosso locutor diz, essa, não se importa se esta sendo vigiada, sua alma esta plena e salva na sua solitude. Seus pensamentos vão desde as gotas na janela até ao silêncio que a chuva produz.
A casa desperta, a chuva se cessa, logo vão se ouvindo os primeiros burburinhos de dentro dos cômodos, logo é achado, logo o prazer de estar sozinho acaba, a felicidade chega a seu fim e você é obrigado a aguentar tudo de novo e de novo e de novo.
Algumas pessoas, se isolam nos banheiros, alguns escutam música, uns escrevem, mas o problema nunca acaba realmente. E então, se escolhe morar sozinho, ou o mais soturno das opções: matar todos. Alguns diriam que seria uma atitude preguiçosa, alguns diriam uma visão macabra, porém a casa será de quem maneja a faca na jugular do proprietário, em seguida pode se ver livre e viver sua solitude em paz.
O silêncio é para uns virtuoso, para outros um problema, mas no fundo cada um precisa de pelo menos um pouco de barulho, e o outro um pouco de solidão.