Vamos morrer!
Há muitas pessoas que não gostam de pensar sobre a morte, ainda que ela esteja presente no dia a dia. E escrevo este texto em um momento em que as pessoas celebram a vida. Destarte, discorrer sobre a morte, neste período do ano, talvez seja visto como inadequado, coisa de gente chata, impertinente, de mau gosto, ou outros adjetivos ou expressões que tenham o mesmo valor. Mas a morte de alguém próximo de mim me leva a refletir sobre essa condição humana. Ademais, a morte é um dos temas preferidos da Filosofia.
Sócrates disse: "Os homens não sabem que os verdadeiros filósofos trabalham durante toda sua vida na preparação de sua morte e para estarem mortos". Estando na prisão, após ser julgado e condenado à morte, Sócrates refletiu muito sobre esse assunto com discípulos e amigos seus. Estes choravam e lamentavam, mas Sócrates os consolava. Platão escreveu vários livros. Em um deles, chamado "Críton", Sócrates reflete a respeito da morte.
Somos pó, mas vivemos como se não o fôssemos. Perdemos muito tempo nesta vida. Muitas pessoas perdem tempo com ódio, raiva, rancor, ressentimento, brigas, fofoca, orgulho, inveja, perseguição, todo tipo de maldade. Mas a morte iguala todo mundo: rico e pobre; "bonito" e "feio"; sábio, ignorante, medíocre e tolo; homem e mulher; criança, adolescente, jovem, adulto e idoso; corruptos e honestos; espertos ou não; teístas, agnósticos, apateístas e ateus. Osho escreveu: "A morte é muito comunista - ela nivela as pessoas". Eis uma verdade da qual ninguém consegue fugir.
O sábio reconhece não ser superior nem inferior a ninguém. Reconhece não ser mais importante nem menos importante do que ninguém. E, para que serve, então, ser sábio, se o sábio não é mais importante do que ninguém? Se ele não é superior a ninguém? A resposta já se encontra no início deste parágrafo e nas perguntas. Mas eu continuo respondendo. Ser sábio serve para conhecer e reconhecer a si mesmo. Para não se iludir a respeito de si mesmo, nem da vida. Para saborear esta vida. Para reconhecer as próprias imperfeições, os próprios limites, a própria ignorância e viver evoluindo. Para não fazer mal nem desejá-lo a ninguém Para ser verdadeiramente feliz.
Há tanta gente de nariz empinado... Há tanta gente, como dizem popularmente, "com um rei na barriga".. Há tanta gente que zomba de outras pessoas... Há tanta gente que se acha melhor pelo simples fato de ter a pele branca... Quanta idiotice!
Quando alguém próximo de mim morre, eu digo para mim mesmo: eu vou morrer. Não sei quando. Mas vou morrer. Eu pensei em colocar como título deste texto estas três palavras: eu vou morrer! Mas eu pensei que poderia assustar algumas pessoas; deixá-las preocupadas antes de ler o texto. Por isso, amenizei: vamos morrer!
Pensar saudavelmente sobre a morte é uma forma que temos para melhorar a nossa vida; para nos envolvermos menos com o que é insignificante; para nos envolvermos mais com o mais importante. No entanto, muitos consideram o orgulho mais importante. Lamentável.
Eu digo na primeira pessoa do singular: eu vou morrer. Eu quero que a morte demore muitos anos a vir me visitar, mas eu vou morrer. Isso me faz me dedicar ao que é mais importante nesta vida. Se você não é feliz, mude! Transforme-se! Não perca tempo sendo infeliz!
A morte pode servir para melhorar a vida de quem vê pessoas mortas. Quando você vê alguém morto, significa que você está vivo, e, estando vivo, você pode melhorar a sua vida e ajudar o mundo a ser melhor, começando por você. Será impossível ser feliz quando você não puder mais saber que está vivo (a). Lembre-se de que você vai morrer. Quando você VIR alguém morto, lembre-se de que você vai morrer. Seja otimista! Deseje viver muito! Mas não seja ingênuo (a) a ponto de pensar que somente outras pessoas poderão morrer ainda novas. Deixo-lhe um conselho de Marco Aurélio, o imperador-filósofo: "Não te conduzas como se fosses durar milhares de anos. Sobre ti paira o inevitável. Enquanto vives e podes, esforça-te por te tornar homem de bem". Eu afirmo que é impossível ser homem ou mulher de bem fazendo ou desejando mal a alguém.
Somos espíritos. Mas somos pó. Visto que escrevi este texto na véspera do Natal, eu lhe digo: Feliz Natal!
Texto escrito em Pastos Bons/MA, na tarde do dia 24 de dezembro de 2018, por Domingos Ivan Barbosa.