AMAR NÃO É PARA OS JOVENS
 
O amor não é para principiantes!
Parece que o título está errado, mas foi isto mesmo o que eu quis dizer: a verdadeira capacidade de amar está intimamente atrelada ao nível de maturidade que a pessoa alcançou, o que exclui os jovens. Eles não sabem que amar implica em permanente preocupação pelo objeto amado, preocupação pelo seu crescimento. Os jovens, quando muito, caem na armadilha da paixão, no sentido que os anglo-saxões emprestam ao termo (na cultura norte-americana, diversas canções utilizam a expressão fall in love), isto é, o cair emprestando a conotação de perda de equilíbrio, de deixar a sensatez de lado.
Na verdade, os jovens (e os imaturos, em geral) não estão buscando o amor no seu sentido verdadeiro, o de amar, mas sim à procura de serem amados. A célebre figura de Don Juan (há um filme extraordinário a respeito, o Don Juan De Marco, que modifica um pouco o mito e resgata a essência do homem), é representativa deste egoísmo sem fim. A figura de Don Juan tem sido frequentemente definida como uma prova psicológica de insegurança de sua masculinidade, o que vem a demonstrar que a necessidade da sedução, mais que um exercício de masculinidade, é a prova definitiva da fragilidade do indivíduo, de sua imaturidade.
A principal prova do equívoco de nossa civilização em relação ao amor está em que nós estamos sempre acumulando os tais fatores externos, sem os quais julgamos impossível amar e ser amado. Os homens utilizam os aparatos do sucesso, do poder e da riqueza e as mulheres centram suas atenções principalmente na busca da beleza – coisa nada difícil de se conseguir com as muitas possibilidades de escultura física factíveis hoje em dia, pelo bisturi, pelos cosméticos, pelas oficinas do corpo. Sendo assim, creio que as pessoas estão empenhadas num pensamento único, o de que amar é uma coisa simples, que se conquista por meio de qualidades ou atributos a serem adquiridos.
Em razão deste sentido mercantilista que se dá ao amor, isto é, algo que se compra, permanecer em estado de amor se torna coisa estritamente rara, sendo mais correto a pessoa afirmar que está amando em vez de dizer que ama. Porque o amor é uma qualidade intrínseca, que começa pela disposição da pessoa em dar, em vez de receber. Imaginem duas pessoas estranhas, que subitamente se aproximam, se transformando em uma só. Esta é uma experiência extraordinária, que resgata a nossa essência mais pura, sendo capaz de nos fazer deixar em plano secundário o sucesso, o prestígio, o dinheiro e o poder, e de nos manter amparados enquanto tivermos o milagre do amor.
Quando as pessoas se unem pelo amor, exercem uma atividade plenamente criadora, como um artista com sua arte, em completa fusão e amálgama. Acredito que esta ligação interpessoal seja o mais legítimo e o mais ambicionado desejo do ser humano, força tão potente que é capaz de elevar a própria sociedade. Este é o caso do amor amadurecido, que preserva a identidade própria de cada um dos parceiros da união, onde, mesmo sendo um, os dois podem permanecer dois.
Disse aí atrás que o segredo do amor está na disposição das pessoas em dar, sem sentir que dar é um gesto de sacrifício ou que isto represente uma privação. No amor, dar não significa proporcionar valores materiais à outra pessoa, mas sim dar de si mesmo, daquilo que ela tem de mais vivo, de suas qualidades mais construtivas, como a alegria, a compreensão, o afeto, a preocupação, o cuidado. Uma pessoa transpõe-se de sua intimidade e vai até a outra, no que acaba transformando o receptor em também doador, pois esta é atividade altamente criadora, onde se torna praticamente impossível dar sem receber, perdoar sem ser perdoado, amar sem ser amado. Amor produz amor.
Amar é teoria e prática. É difícil a prática do amor, a não ser a quem já tiver adquirido o conhecimento dos seus princípios ativos – cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento daquilo que se ama. Quem ama, é capaz de entender as razões mais profundas do comportamento do ser amado, através de sinais exteriores. É assim que os especialistas na psicologia do amor o definem: amor é penetração na outra pessoa, onde o desejo de conhecer não representa poder sobre ela, não a transforma em posse, não a destrói como indivíduo. Este conceito pode ser aplicável a toda forma de amor, desde o amor erótico até o amor a Deus, passando pelo amor fraterno, pelo amor dos pais pelo filho. Só exclui o amor por si mesmo, que a Psicologia Contemporânea tanto exalta como processo de elevação da autoestima, tipo que, quanto maior para si, mais excludente é do amor pelo outro.
Um dia, eu descobri, com grande tristeza, que eu não sabia amar, que eu não tinha aprendido a amar. Caiu-me nas mãos um livrinho pequeno, de Erich Fromm, e com ele, vim a saber que o amor é uma arte, que a gente pode aprender do mesmo modo que um artesão aprende o seu ofício. Ainda não cheguei ao ponto em que chegou Mahatma Gandhi, mas aprendi um bom pedaço. E me transformei numa pessoa melhor, pois é assim que deve ser – ou como diziam os de antigamente: não devemos ter vindo à vida a passeio. Os jovens ainda não sabem, pois o amor não é coisa de principiantes.
Cornélio Zampier Teixeira
Enviado por Cornélio Zampier Teixeira em 07/12/2018
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