Contatos Físicos, Afeto e Confiança
Parece haver uma correlação entre o contato físico, o afeto e a confiança.
Vejamos: como é o nosso contato físico com desconhecidos? – em geral, evitamos. Quando em lugares lotados de pessoas desconhecidas, procuramos ao máximo evitar o toque nos outros. (Malditos ônibus e aviões apertados!) Quem tem dinheiro sobrando, usa a primeira classe, onde os bancos são fartos, folgados e - supremo detalhe - possuem apoios de braços individuais – quase uma garantia de isolamento do contato físico. Esses desconhecidos podem ser destratados a qualquer momento, caso fizerem algo inconveniente, pois nossa tolerância com eles é bastante baixa, dentro de um mínimo social. Também desconfiamos deles. Nada de abrir o jogo demais nas conversas. É claro que tudo isto deve ser considerado estatisticamente, sofrendo influência de culturas locais e de valores individuais. Mas, em geral, parece ser assim.
Em seguida temos os conhecidos. Nestes já arriscamos um aperto de mão e um tapinha no ombro. Nestes já confiamos um pouco mais, já confidenciamos um pouco mais, pois já gostamos deles um pouco mais.
A seguir temos os amigos e amigas. Com estes temos um contato físico maior. Abraços. Três beijinhos. Braço por cima aceito. Se estivermos num ônibus de amigos, ele não parecerá apertado. Aos amigos confidenciamos, confiamos e amamos.
Ainda dentro da categoria dos amigos, temos um caso especial, que são os amigos do peito, os amigos especiais, os irmãos escolhidos. Para estes contamos fatos que escondemos de nós mesmos. A estes abraçamos com afeto e confiança. Para estes guardamos um carinho especial, evitamos críticas, apoiamos nas necessidades, negociamos conflitos. Duas amigas do peito estarão com as cabeças encostadas uma na outra, sem mais nem por que. Nada de perder um amigo do peito. Entre nós não há falsetas. Nós os colocamos acima de muitas escolhas.
Por fim, existe a pessoa pela qual somos apaixonados. Só ela fica acima dos amigos do peito (e eles entendem e aceitam). Com ela o contato físico é pleno. Nela a confiança é total. Por ela arriscamos a nossa própria sobrevivência.
Assim, na medida em que subimos na escala do conhecimento do outro, subimos também nas escalas de afeto, confiança e contato físico. Não gostamos (de verdade) de quem não conhecemos. Não seguimos a quem não gostamos, porque não confiamos neles. Para os amigos do peito somos capazes de tirar a camisa e dar para eles – e perguntar depois por que nos pediram...
Somos mamíferos. Para nós o contato físico é fundamental para a nossa sobrevivência como espécie. Pelo abraço somos capazes de passar milhares de informações instintivas. Talvez por isto evitemos o contato físico com quem não conhecemos e não por quem não temos razão de gostar.
Mas, a armadilha é: na medida em que a densidade populacional aumenta, os espaços individuais ficam cada vez mais restritos... Vamos ter o que aprender...