SANTIDADE OU IDIOTICE?
Escolha ou crie seu próprio “padrão ouro de santidade”, aplique-o, e seja um “santo” infernizando a vida dos outros!
*Antônio F. Bispo
*Mariazinha “serve a deus” desde criança numa determinada igreja. Nunca cortou os cabelos, nunca pintou as unhas, nunca usou adorno algum e nunca em seu corpo foi passado nenhum tipo de produto de beleza (do diabo!). Nenhum mesmo! Apenas um sabonete de baixa qualidade e um desodorante básico de axila para inibir o odor desagradável peculiar nessa região! Ela usa apenas o básico do básico e assim mesmo com uma leve pitada de culpa, achando que pode estar desagradando a deus de algum modo.
Suas roupas são sempre “bem comportadas”, um palmo abaixo do joelho ou de preferência varrendo o chão. Blusa de gola alta cobrindo todo o pescoço sempre! Nos braços, o máximo que pode ser visto são os pulsos e em casos raríssimos o antebraço!
Para agradar ainda mais ao “espírito de deus” ela costuma usar sempre uma blusa por cima da outra para nem se quer a alça do sutiã venha destacar por cima da pele. Tentar achar o destaque da linha que marca a roupa íntima? Jamais! São 2 anáguas e uma saia por baixo, além da vestimenta oficial de mulher santa!
Santidade ao senhor é tudo, e ela fará o possível e impossível para “agradar a deus” com todo o seu ser. “Jamais deixaria que o espírito sedutor de pomba-gira chegasse perto de mim pelo uso de certos apetrechos ou pelo mal uso das minhas vestes”! É isso que ela diz o tempo todo!
Com seus cabelos de mais de 120cm já ultrapassando os joelhos, até mesmo um simples shampoo ela usa com raridade, pois foi levada a crer que “a mulher santa deve ser natural”, “do jeito que deus fez”, e que qualquer tipo de objeto ou cosmético que passar em seu corpo ainda que por alguns segundos poderá entristecer o “espírito santo de deus” em que habita em sua vida, e se esse mesmo espírito vier se afastar dela por motivos fúteis como esses, uma série de maldições poderá acontecer não somente a ela, mas a toda sua família, incluindo filhos, esposo, pais, irmãos e até parentes distantes de terceiro grau.
Ela também acredita que se no exato momento em que por acaso estiver usando algum “produto do diabo” e jesus vier buscar a sua igreja repentinamente, ela vai ficar justamente por que naquele instante desobedeceu a deus, mesmo já tendo 40 anos de “tempo de igreja”. Tadinha dela...
Com ar carrancudo e olhar de desprezo, ela trata todas as outras mulheres que não se portam como ela ou não tenham cabelos tão longos quantos os delas, mesmo que essas não tenham uma genética capilar favorável quanto a dela.
Na igreja, ela anda de cabeça erguida e ar de superioridade pois seu próprio esposo e outras poucas pessoas enxergam nela o exemplo máximo de santidade a ser seguido e chegam a dizer que se existe alguém na face da terra que realmente possa estar agradando a deus e ir para os céus, essa pessoa é justamente ela, a majestosa irmã *Mariazinha.
Com frequência ela tem oportunidades nos momentos de culto para falar do “amor de deus” para os “pecadores” diante do grupo. Quando ela pega o microfone é só para ferir, bater, maltratar e humilhar a maior parte do público presente, incluindo os visitantes que estão ali pela primeira vez e não tem obrigação nenhuma de se adequar aos padrões de santidade de quem quer que seja.
Durante a pregação ela só fala de brinco, batom, pulseira, maquiagem, shorts, camisetas e coisas do tipo. Não tem nada pra falar. Absolutamente nada! Parece até representante medíocre de catálogos, que não tendo o que dizer para vender seus produtos, ataca o produto da concorrência reduzindo-o a nada para dar a impressão que o seu seja superior.
Ainda “pregando”, em seu discurso de ódio e desprezo pelos que são diferentes, *Mariazinha só não diz um palavrão dos grandes por que não pode, mas a vontade dela seria de agarrar no pescoço de todos os “infiéis” e estrangula-los com as próprias mãos caso esses não confessassem em público que será como ela a partir de então. Nesse ato iracundo de “adorar a deus”, ela se considera uma missionária, uma profeta, a própria boca de deus falando para o povo ali no meio da igreja, para dar uma chance para estes se arrependa de suas más ações e sejam salvos.
Nessa ato que ela julga ser um ato de teofania, ela fala em línguas estranhas, rodopia, faz chiados, grunhidos e todo tipo de sons ininteligíveis, além de uma voz cavernosa e monstruosa dizendo: “ASSIM DIZ O SENHOR”... Ela tem convicção plena que é deus quem a estar usando para esse showzinho ridículo e desprezível!
Pobre *Mariazinha! Acha que é bonito ser feia! Ninguém tem coragem de dizer pra ela que essa baboseira chamada de santidade é apenas coisa da cabeça dela! Também pudera, *Mariazinha é do tipo que aproveita o microfone da igreja e de sua “autoridade religiosa” para dizer desaforos a todos que se tornaram desafetos dela só por que discordaram dela em algo, ou não prestaram atenção a ela enquanto ela “transmitia o recado de deus”!
Nesse ritmo, ela tortura a si mesma e a tantos outros, pois sente raiva, ódio, asco e nojo toda vez que “prega” ou que encontra pessoas “libertinas” que vivem a desobedecer os santos mandamentos de deus segundo a igreja dela (ou a perspectiva dela), pois ela acredita que por desobediências como essas a ira de deus estar sempre derramada contra esse mundo, e que guerras, pestes, fomes, violências, catástrofes naturais e todo tipo de mazelas humanas ou de outra ordem, estar relacionada sempre ao fato de as pessoas não se comportarem como ela, “servindo a deus de verdade” como ela, rejeitando as “coisas do mundo” e vivendo em santidade e retidão diante dos olhos do senhor assim como ela faz.
AiAiAiAiAi...diria também o Alphar Power, aquele robozinho dos Power Ranger se ficasse um minuto apenas ao lado da irmã *Mariazinha que vive tentando implantar loucuras aos que a cercam. Ela é uma doente que rejeita cura e além disso contamina e adoece todos ao seu redor, seja por sua ira ofendendo aos outros, seja pela sua maneira louca de interpretar santidade e submeter os outros ao seu próprio modo!
Assim como *Mariazinha, há milhares de outras pessoas que “servem a deus” em igrejas diferentes e tem conceitos diferentes em relação ao termo santidade, cada uma delas adotando um estilo do grupo, ou um estilo próprio, dizendo que o seu modo de viver deveria ser o modo padrão a ser seguido por todos no planeta, pois é o estilo de vida que agrada a deus e desse modo a misericórdia dele seria atraída e sua ira repelida, abençoado o “povo dele” e toda a terra e o universo inteiro também.
É sempre assim: deus chama alguém em particular, no segredinho, sem ninguém ver, para dar um comando que deverá ser obedecido por todos sem questionamentos!
Que doidera! Quanta Idiotice! É preciso estar cego para não ver tanta incoerência e tanta loucura nesses atos de santidade! Pior que dificilmente alguém inserido no contexto religioso enxergará dessa forma.
Quanto mais ignorante e menos escolarizado for um “profeta”, mais louco será a representação da vontade de deus por meio do tal e maior será o estrago que ele fará por onde passa.
Do mesmo modo, quem é “inteligente” e desonesto, quando se aprofunda na teologia, entende como tudo funciona e percebe o quanto ser humano é manipulável e instintivamente religioso, poderá também levar vantagens com essas descobertas, fazendo fortunas, sendo uma pessoa de influência, manipulando o povo, pagando de bobo diante dos ignorantes, enquanto às escondidas tem um estilo de vida totalmente oposto ao que se prega.
Para alcançar esse tão sonhado “padrão ouro de santidade”, assim como o da *Mariazinha, cada pessoa ou grupo, irá escolher versículos isolados da bíblia para adotar como base de conduta, ou junto com os “sábios” do próprio grupo irão determinar para toda igreja o que é e o que não é pecado, o que agrada e o que irá desagradar a deus, e a partir daí, uma série de efeitos colaterais poderá ser notado. De um sujeito esquizofrênico até uma guerra de proporções mundiais, esse será o resultado para os que vivem apenas em função de “agradar a deus”.
Nessa busca louca, “santos” de todo tipo irão surgir e entre esses haverá as irmãs que jamais se depilam e os irmãos que jamais aparam a barba e acham que isso é um padrão de santidade.
Há os que jamais ingeriram em toda sua vida uma gota se quer de bebida alcoólica e que por esse motivo acredita que seu grau de credibilidade com papai do céu supera o de qualquer outra criatura vivente na face da terra.
Há os que não comem esse ou aquele alimento por ser pecado e os que guardam “dias santos” e acreditam que por isso estão sendo santos do modo que deus deseja.
Orar nos montes, decorar uma quantidade enorme e aleatória de versículos bíblicos que endossem apenas o ponto de vista do grupo, ir ao cultos todos os dias, dizimar, evangelizar, cantar, jejuar, usar apenas certos tipos de roupas, não ver jamais o corpo nu do próprio cônjuge, ser celibatário, viver em monastério... Cada um desses elementos separado ou o conjunto de todos eles somados também constituem para muitos um padrão alfa de santidade.
Quantos mais ritos cumprido, mais orgulhoso e insuportável a pessoa tende a ser nos recintos religiosos e fora deles também tentando “vender o próprio peixe”. Cada louco com sua mania, cada “servo de deus” adotando um padrão diferente de santidade, submetendo-se a este e condenando ou perseguindo a todos que ainda não se adequaram. E assim o mundo vai de mal a pior enquanto os “servos” dele vivem apenas em função de agradá-lo.
Transformar pessoas normais em gente insana parece ser o maior legado ensinado pelos grupos religiosos. Quanto mais fechado esse grupo for, mais radical poderá ser, e mais escravos irá produzir e todos esses escravos sofrerão da síndrome do herói, achando que eles estão salvos, que os outros estão perdidos, e que sua grande missão nessa terra é converter ou destruir os inimigos para salvar o mundo. Diariamente a paz de modo geral é ameaça por “santos e servos do senhor” em todos os níveis que se possa imaginar.
Então você se pergunta: Santidade ao Senhor...Isso existe? O que exatamente é isso?
Nas terras onde o “povo de deus” habita, de um conflito único e interior que leva um sujeito a depressão ou ao suicídio, até uma guerra de grandes proporções, se investigarmos à fundo será possível constatarmos que a causa principal de tais conflitos tenham surgido ou estejam baseados nesse raciocínio, de alguém ou um grupo intentado viver em santidade ou tentando implantar essa “santidade” de modo forçado à outros. Tem sido assim por séculos. Tomem como exemplo o conflito no oriente médio que já dura mais de 6 mil anos por motivos religiosos. Leiam a bíblia ou um livro comum de história e você que de tão corriqueiro, isso passa quase sem ser notado, pois para cada santo consagrado, um novo conflito é declarado e isso se tornou comum e aceitável. Quando a paz é abalado pelos “servos de deus”, eles mesmo dizem que a culpa é do diabo e ai de quem discordar!
Direta ou indiretamente eles dizem: Sirva ao meu deus do meu modo e seja santo do meu modo, ou então enfrente a minha ira e a ira do meu deus (tá ok?)! Santidade só aqui no meu grupo! Para agradar a deus de modo verdadeiro só se for se portando igual a mim (ou a nós)!
Esse mesmo recado que silencioso (ou não) eles passam todos uns para os outros ou para o mundo inteiro, seja por meio de cânticos, pregações ou liturgias diversas.
A ideia de servir a deus é tão confusa e complexa quanto o próprio ser cultuado em questão. Não há limites e não há regras! Cada um diz o que quer, inventa o próprio modo de servir a deus e pronto! Vira marca registrada, que logo após será “industrializada”, comercializada e empurrada de goela abaixo para todo tipo de consumidor, inclusive para aqueles que jamais desejariam adquirir tal “produto”.
Para quem estar dentro de um ambiente religioso, buscar essa tal de santidade é o ponto máximo para louvor pessoal e gloria dos deuses, motivo pelo qual o fiel passará sua vida inteira buscando, e segundo eles próprios jamais a viverão em sua totalidade pois “deus é puro e somos míseros pecadores cheios de imperfeições”.
Para quem já se libertou desse padrão doentio de comportamento, mais vale o respeito ao próximo, real, visível, palpável, presente e coexistente do que a busca inatingível para agradar o “inagradável”, o invisível, um ser mal amado, que estar eternamente aborrecido e ninguém sabe o real motivo desse aborrecimento.
Fique sabendo que toda vez que você estiver agradando a deus segundo a sua própria interpretação ou interpretação de sua igreja, você estará cometendo uma blasfêmia segundo a visão de uma outra igreja igual a sua, que diz servir ao mesmo deus que tu serves.
O que tu consideras como vida invejável, o fiel de outra igreja irá considerar um lixo, e você que busca o louvor e glória própria sendo “sando santo”, só o será para o grupinho pequeno em que tu fazes parte, pois para os demais, tu serás apenas um inútil, um herege, um pecador, digno do inferno eterno...
Nunca houve e nunca haverá um deus único, um padrão de santidade geral, nem uma forma única de agradar a deus, nem a esse nem a qualquer um que a humanidade já tenha inventado.
Como agradar então a um ser que particularmente nunca revelou qual seja sua vontade, permitindo que cada represente-o como bem entender e fale dele como bem quiser? Simples: fuja disso tudo!
O que muitos chamam de servir a deus ou estar cheio da presença de deus, não passa de lavagem cerebral. Só isso e nada mais! E muitos matarão ou morrerão acreditando estar fazendo algo para algum tipo de deus.
Lavagem cerebral é a especialidade principal de qualquer grupo religioso que estabeleça uma verdade universal, um deus universal ou um padrão de santidade universal. Todo o resto será apenas derivados dessa construção mental, pois a pós um indivíduo ser inserido numa dessas agremiações religiosas tida como casa de deus, a santidade será uma das metas inalcançáveis e inatingíveis que muitos dos fiéis passarão a vida tentando alcançar, girando em círculos, fazendo coisas repetitivas, desnecessárias, entediantes e sem sentido algum, como cães que correm atrás do próprio rabo para morder.
A capacidade de mudança estar em nossas mãos ao recobrarmos a nossa própria consciência e resistirmos qualquer um que em nome dessa ou daquela divindade queiram implantar seu próprio padrão de comportamento a outrem.
Suspeite de qualquer um que honra mais o invisível do que o visível. Tome cuidado com qualquer um que zele mais pela memória dos mortos do que o respeito pelos vivos. Afaste-se e proteja-se de qualquer um que fala em nome de deus, para deus ou em favor de deus o tempo inteiro. Atenção redobrada para qualquer um que fala em nome de qualquer divindade metafísica!
Quem ama e respeita realmente a vida, não torna o tempo presente num inferno em busca de um suposto paraíso futuro e particular. Pensem nisso!
Saúde e sanidade a todos.
Texto escrito em 2/12/18
*Nesse texto, Mariazinha é apenas um nome fictício para ilustrar o texto. Qualquer semelhança com o comportamento pessoal de alguém conhecido será mera coincidência!
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.