Etimologia da Língua Portuguesa Nº 153

Etimologia da Língua Portuguesa por Deonísio da Silva Nº153.

Nome de uma cidade mineira, Araxá tem origem controversa, vindo talvez do Tupi ara’xa, região alta. Já a provável origem de bomba é onomatopaica, ou seja, foi criada a partir do barulho que o artefato faz ao explodir, mas com influência do Grego bómbos, ruído do trovão.

Araxá: de origem controversa, provavelmente do Tupi ara’xa de ara, dia, luz, e xa, ver, região alta, de onde a luz do dia é mais visível. Os guaranis e os carijós que habitavam Santa Catarina também eram conhecidos por araxás. O poeta e professor pernambucano Manuel Bandeira (1886-1968)mostra fragmenta da influência do poeta dramaturgo inglês William Shakespeare (1564- 1616) em Balada das Três Mulheres do Sabonete Araxá: “Não quero nada disso, tetrarca./ Eu só quero as mulheres do sabonete Araxá:/ O meu reino pelas três mulheres do sabonete Araxá. É uma referência à célebre frase “ O meu reino por um cavalo”, da peça Ricardo III.

Bomba: de provável origem onomatopaica, isto é, do barulho que o artefato faz ao explodir, mas com influências do Grego bómbos , ruído do trovão, e do Latim bombus, ruído e zumbido das abelhas. Para antigos gregos e romanos, a máquina de elevar a água também era designada bomba, daí a expressão bomba hidráulica. O significado de artefato militar é o mais comum.

Constelação: do Latim constellatione, declinação de constellatio, grupo de estelas próximas umas das outras, como indica a própria formação da palavra no Latim, língua na qual está o étimo stella, estrela. A União Astronômica Internacional reconhece 88 constelações, mas as do zodíaco são 12 apenas, representadas pelo formato que parecem ter os babilônios, que as identificaram. São 13, mas arredondaram a conta para 12 , fazendo o Sol elas, ficando um mês em cada uma: Áries, Peixes, Aquários, Capricórmio, Sagitário, Serpentário (excluída), Escorpião, Libra, Virgem, Leão, Câncer, Gêmeos, Touro. Mas o Sol passa pelas, 13 constelações, que exclui a serpente de sua jornada anual.

Munição: do Latim munitione, declinação de munitio, mesmo étimo de muro, do Latim antigo moiros, depois moerus e murus., designando ato de fortificar as defesas e depois passando a aplicar-se a projéteis lançados ao longe. Agricultores belgas têm coletado, na região de Ypres, centenas de toneladas de munição não-detonada, lançadas na I Guerra Mundial, cujo centenário dá-se em 2014.

República: do Latim respublica ,sendo res, coisa, e publica, aquilo que diz respeito ao publicus, que é de todos, em oposição ao privatus, que é do indivíduo ou de poucos, uma vez que publicus pode ter resultado da redução de populicus, de populus, povo. Designa forma de governo em que o Estado deve atender a todos os cidadãos, sem privilégios a indivíduo algum, à base da igualdade de todos perante as leis. Dos três poderes, apenas o Executivo e o Legislativo são preenchidos por eleição. No Judiciário, o ingresso é por concurso público, exceto nos tribunais superiores, de que é exemplo o Supremo Tribunal Federal, no qual são nomeados por indicação do Executivo e submetidos a sabatinas no Legislativo. Nesses 125 anos, a República oscilou entre uma concessão dos militares aos civis ou de empresários ao povo. Isso porque os primeiros governos resultaram de golpe de Estado perpetrado por tropas lideradas pelos marechais alagoanos Deodoro da Fonseca (1827-1892) e Floriano Peixoto (1839-1895). Talvez essas marcas exemplifiquem por que o Brasil teve 14 presidentes militares --- só no ciclo pós-1964 foram oito em 20 anos ---, sem contar aqueles que assim se intitularam e vestiram uniformes, como o gaúcho Getúlio Vargas (1883-1954), ao liderar a Revolução de 1930. Depois disso, seu caráter de concessão passou aos empresários, pelo alto custo financeiro das campanhas eleitorais. Nossa República tem sido, pois, ás vezes muito aristocrática, na qual os ricos definem os rumos, e a oligárquica, em que se destacam pessoas da mesma família ocupando postos-chave, seja no Poder Executivo seja no Poder Legislativo.

Tupi: do Tupi tu-u’pi, pai supremo, designando não apenas tribo indígena conhecida por esse nome, mas também um dos grandes dialetos de uma língua geral, falada do Norte ao Sul do Brasil, ao tempo do Descobrimento. Os tupis não tenham alguns sons do Português, entre os quais os correspondentes a “l, lh,rr, e v”, e por isso reproduziram a palatal “lh” por “ye” , resultando em “fiyo”, “paya” e “muye” para “filho”, “palha” e “mulher”. Cavalo virou “cabaru”.

Deonísio da Silva, da Academia Brasileira de Filologia, é escritor, doutor em Letras pela USP, professor (aposentado) da UFSCar (SP), autor contratado pela Estácio (RJ), diretor-adjunto da Editora da Unisul (SC) e colunista da Bandnews, com Ricardo Boechat e Pollyanna Bretas. Alguns de seus romances e contos foram publicados também em Portugal,Cuba,Itália,México, Alemanha, Suécia etc., e é autor de De Onde Vêm as Palavras ( 17ª edição). www.lexikon.com.br

Revista Caras

2014

Deonísio da Silva
Enviado por zelia prímola em 14/11/2018
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