MÃE PIA, DOCE MARIA!
Um navegante da net, veio até mim, através do site www.recantodasletras.com.br.
Algo que escrevi, numa hora de extrema agonia, chamou sua atenção.
Um Cântico Muito Antigo, que ainda hoje canto... solfejo... MÃE PIA, DOCE MARIA!
O navegante solicitou o restante do Cântico... se eu ainda lembrasse.
Lembro sim, esse cantar, aprendi com Minha Mãe, acompanhando moribundos em suas “sentinelas”, e mortos, em seus funerais.
É uma tradição Muito Antiga, da Minha Tribo Materna.
Minha Avó era parteira.
Minha Mãe acompanhava os moribundos.
Sempre achei estranho eu não poder presenciar e acompanhar os Mistérios do Inicio da Vida, junto com Minha Avó, mas ser treinada, desde tenra idade, a presenciar e acompanhar os Mistérios da Morte.
Certa feita, aos prantos, contei isso a uma das Minhas Amigas, ela me pediu para que não chorasse mais... eu só havia nascido feito o Benjamin Button... e me fez rir!
Sou nordestina, de Alagoas, nascida na Zona da Mata e criada, por um tempo, no agreste, nos idos de 1950.
Nesse tempo, era costume velar os enfermos... moribundos!
Esses atos eram nominados “sentinelas”.
As pessoas avisavam umas às outras “_____Fulano, Sicrano está de cama, mazela pesada, queira Deus escape... tu vai pra sentinela dele/a?”
E lá ia aquela multidão, para a casa do doente.
Lá, as mulheres se revezam na cozinha para fazer café e chá, para servir, acompanhado de biscoito água, biscoito canela ou biscoito cream cracker, pros visitantes.
Os homens se revezam em ir até a venda, comprar os ingredientes, antes que faltassem.
Enquanto isso, Minha Mãe cuidava do enfermo, ajudando-o a se alimentar, hidratar, inclusive a satisfazer suas necessidades fisiológicas mais intimas (ir ao banheiro).
Alguns nem podiam se levantar e ela cuidava da higiene deles, com a maior solicitude.
Lembro que nessas “sentinelas”, quando o enfermo já estava em estado terminal, cantávamos vários Cânticos... entre eles MÃE PIA, DOCE MARIA!
Foi esse Cântico que cantei para o Meu Amor que estava em coma, na Santa Casa de Misericórdia de Maceió.
Foram nove horas de pura agonia, mas tive força suficiente para o acompanhar cantando:
MÃE PIA, DOCE MARIA
REFRÃO
Sem tardar vem doce Maria
vem Mãe Pia, me amparar.
vem Mãe Pia me amparar.
vem Mãe Pia me amparar.
Brilha já,
do mar Pura Estrela,
Que a procela, negra está!
Repete o refrão
Teu Olhar, é Luz que nos Guia
e alumia
o navegar!
Repete o refrão
Desviar só procura o mundo...
mar profundo,
largo mar!
Repete o refrão
No penar, da minha agonia
vem Maria
Vem Maria me chamar!
Repete o refrão