A revolta das elites

O Século XX foi caracterizado pela revolta das massas. Mas, hoje, vivemos a revolta das elites.

Parece estranho o que escrevi? Bom, veja por esta perspectiva: por muito tempo, as elites controlaram o mundo, tanto no que diz respeito às riquezas materiais quanto em relação à cultura. A partir de determinado momento, no entanto, a Democracia, o Estado de Direito e o Capitalismo promoveram uma mudança de rumos: agora o povo poderia, teoricamente, controlar a política. Até certo ponto, isto é verdade.

Contudo, o sistema nunca foi perfeito e vários se revoltaram contra aquilo que achavam uma farsa. Fizeram de tudo para destruir tal sistema, sobretudo uma pretensa elite intelectual que se dizia parte do povo. Assumiu, com petulância, a tarefa de guiá-lo contra os "opressores", negando o fato de que talvez ela mesma fosse parte do aparato "opressor".

Essa narrativa prevaleceu por um bom período da história humana. Massas de indivíduos renunciaram à sua autoconsciência para serem comandados por um punhado de "profetas". No entanto, quando as ideias dos "profetas" se revelaram falhas, o povo se rebelou. Inicialmente, se viu perdido e atônito. Depois se mostrou mais organizado e interconectado com as maravilhosas tecnologias que a sociedade capitalista forneceu.

O que se vê, hoje, é uma democracia quase direta. As narrativas, antes produzidas por seres iluminados, foram postas abaixo. Estes seres, que se consideravam acima de qualquer crítica, pois supostamente encarnavam todas as virtudes humanas, se mostraram falhos e avessos à contraposição de suas ideias. Quando confrontados com os apelos do povo, reagiram com nojo e escárnio. Por fim, como que viciados no poder de outrora, agarraram-se às suas convicções, tal qual um moribundo que adere à última nesga de vida.

O Século XXI começou de fato. Os antigos profetas o vêem como o começo do fim da democracia. A meu ver, ela nunca esteve tão vicejante.