ATOS DEVOCIONAIS: UM ESTOPIM PARA QUALQUER TIPO DE GUERRA

A fim de agradar aos deuses e desses obter favores especiais, o homem é capaz de sacrificar qualquer coisa, inclusive a própria existência!

*Por Antônio F. Bispo

Julgamos como irracionais e burros a maioria dos animais pelo modo como vivem ou se organizam socialmente. Porém, jamais veremos uma fêmea ou macho de qualquer espécie “irracional” tirando o alimento da boca de seus filhos para dar a deus imaginário algum em troca de favores particulares. Também não veremos essas criaturas perdendo tempo útil de suas vidas voltado para veneração do imaginário, nem tão pouco veremos nenhum deles declarando guerra uns ao outros para defender a ideia de que seu deus seja melhor e com mais qualidades surreais que dos outros.

Quanto a isso, vemos todos os dias machos e fêmeas humanos, tirando o pão da boca dos próprios filhos para doar a um deus qualquer, numa igreja qualquer, por que o líder religioso os convenceu a isso. Sendo assim, quem é o ser o irracional nas duas espécies se compararmos esse tipo de comportamento?

Já viram por acaso algum macaco fazendo despacho numa encruzilhada para ser dar bem em suas “macacadas”?

Já viram um cachorro sacrificar seus filhotes num ritual de magia negra em troca de obter mais poderes sobre o grupo?

Já viram algum gato costurando a boca de um sapo para matar “as inimigas” ou tomar o “macho da outra”?

Já viram um leão subir no monte e passar 21 dias jejuando para ser o “presidente” de seu grupo?

Claro que nunca viram essas coisas e certamente não os verão! Mas vemos todos os dias a nossa espécie fazendo coisas bizarras como essas e consideramos isso como sendo um ato de extrema inteligência de nossa parte, por consideramos os atos devocionais a seres imaginários como sendo uma conquista de nossa espécie, algo digno de ser louvado. Quem é mais irracional nesses termos?

A pluralidade religiosa que conseguimos (ou construímos) ao longo dos séculos, não dignifica em nada ou faz evoluir a nossa espécie, se por esse ângulo a estudarmos, antes sim nos faz retroceder todos os dias, por que perdemos parte de nosso tempo útil e recursos com assuntos fúteis como a barganha com os deuses ao invés de dedicarmos tais recursos para a evolução de nossos semelhantes, proporcionando-lhes mais acesso igualitário a cultura e a bens primordiais de direito a todos os humanos (e demais criaturas) como o acesso ao ar puro, água potável, abrigo e combate a todo tipo de sistema de escravidão imposta por quem quer que seja.

Por não observamos tal ponto, nos tornamos predadores de nossa própria espécie. O “produto religioso” quem sabe seja o fator principal para esse tipo de comportamento, pois ao adotar ou construir um deus qualquer, imediatamente o homem tenta subverter seu semelhante à crença nessa divindade, e toda resistência converte-se em atos de guerra, seja de uma pessoa contra outra, de um grupo contra outro ou de uma nação inteira contra outra como tem sido ao longo dos séculos.

O misticismo exacerbado de alguns e a falta de cultura (conhecimento cientifico) de outros, faz com que tudo vire sagrado ou profano de modo instantâneo, fazendo com que o nível de consciência destes e dos que lhe cercam seja pior em certos casos do que o nível de consciência de um protozoário.

Triste é a realidade de todos aqueles que dizem: “Sou dependente dessa ou daquela divindade!”; “Minha vida é guiada ou regida por essa ou aquela divindade!”; “Não dou um passo sequer em minha vida se minha divindade não orientar”...

Mas triste ainda poderá ser a realidade dos que vivem ao redor deste que vive “totalmente dirigido por uma divindade”, pois na maioria dos caso, ali estará uma pessoa confusa, terceirizando seus defeitos e fracassos, além de viver atacando quem procurar manter a própria sanidade.

Os que apoiam o ecumenismo ou a propagação irrestrita de todo tipo de culto por exemplo, chegam a afirmar que quanto mais deuses e cultos forem estabelecidos, mais paz haverá interiormente entre os devotos, Porém isso não é verdade. Ao contrário do que se pregam por ai, QUANTO MAIS RELIGIÕES, MAIS CONFUSÕES! QUANTO MAIS DEUSES FABRICARMOS, MAS TEMPO E RECURSOS UTEIS SERÃO DESPERDIÇADOS!

Do mesmo modo que “a grama do vizinho é sempre mais verdinha”, se uma pessoa que adora a um “deus X” e vive na miséria, sem prosperar, com dificuldades diversas, vendo aquele que adora ao “deus Y” tendo “sucesso” na vida e se dando bem em tudo, uma guerra interna ou externa poderá surgir a qualquer momento ou um tentativa em massa de convencer o outro a sua própria fé, e se isso não for possível a desconstrução da imagem de um dos deuses se iniciará por uma das partes, desencadeando uma série de outros conflitos.

Nesse ponto, quem mais incomoda quase todo tipo de religioso são os ateus equilibrados e bem resolvidos, pois não tendo “pacto” com deus algum e não sendo capacho de seus representantes, “deixa no chinelo” em centenas de casos, os que se dizem se “escolhidos”, “bichinhos de Jacó”, “filhos de papai”, etc....

Para a maioria dos que se dizem crentes fieis (principalmente os que se dizem pentecostais), não há coisa mais perturbadora e vergonhosa do que ver um ateu prosperar, viver em paz consigo, em equilíbrio com os outros, com conforto, com segurança, sem precisar ser submisso a pastor algum ou de divindade alguma.

Nada os deixa mais furioso do que ver um “casal sem deus” vivendo em paz e harmonia, enquanto alguns destes “cheios do espirito santo” vivendo um inferno dentro de casa com esposa e filhos.

Nada mais irritante para um fiel do que ver uma “pessoa sem deus” cheio de saúde, ou que quando adoece tem recursos suficientes para cuidar de si mesmo, enquanto alguns destes, cheios de fé, vivem constantemente doentes, improdutivos, sem dinheiro para se cuidar, dependendo do sistema público de saúde ou que venha vender o voto ou a honra para conseguir “furar a fila do SUS” e se cuidar.

Nada mais vergonhoso para um “santarrão” que ver uma “pessoa sem deus” ingressar numa faculdade, ter um bom emprego, ou um bom carro sem dever a cabeça a ninguém, enquanto que eles “filhos do dono do ouro e da prata” estão há mais de 20 anos “apostando” na fogueira santa e em todo tipo de campanha da prosperidade, “tentando a sorte com deus”, sendo ludibriados por pessoas de má fé, enquanto vivem à beira da miséria, com um nível de frustação imensurável por não admitirem para si mesmo que estão sendo feitos de trouxas e tem vergonha de sair do grupo e reiniciarem sua caminhada de modo livre.

Nada pior para um “homem de deus” do que ver pessoas comuns, “sem deus”, fechando grandes acordos diplomáticos, ou grandes negociações comerciais simplesmente usando argumentos cognitivos e relações pacificadoras, enquanto que eles precisam jejuar, orar, ameaçar o povo usando a bíblia, “vender o curral eleitoral”, fazer barganhas com políticos ou usar sua autoridade religiosa para conseguir menos do que uma pessoa “sem deus” conseguiu.

Ahhhh...! É impagável esse tipo de visão!

Para justificar o próprio insucesso e as confusões geradas por sua própria crença, a maioria desses religiosos chegam afirmar que qualquer pessoa que estar fora da igreja e estar se dando bem na vida é por que entrou na maçonaria, fez pacto com o diabo, ou está mexendo com atividades ilegais!

Bando de imbecis (todos os que fazem esse tipo de afirmação)! Se tirassem a bunda da cadeira, fossem trabalhar de verdade ou estudar, veriam que é bem mais fácil se dar bem na vida aplicando tempo e recursos uteis em coisas realmente necessárias e proveitosas do que ficar fazendo corpo mole, fazendo barganhas com seres imaginário, jogando tempo e dinheiro fora com coisas que poderiam ser resolvidos de modo tão simples eficaz...

Gente confusa gera deuses confusos e a esses se rendem por medo ou por ganancia e tentarão comprometer também a vossa sanidade.

Quanto mais deuses são inventados, mais infernos e paraísos são criados todos os dias, e todo mundo estará mandando todo mundo todos para o inferno alheio.

A religião não é e nunca foi um instrumento para uma pacificação duradoura e eficaz. Pode apenas anestesiar, atrofiar ou gerar gangrena no tecido social, fazendo com que literalmente vários membros venham ser amputados, ou que venham desenvolver uma função disforme em seu papel como parte de uma coletividade.

Para entender a complexidade e importância disso, podemos comparar o organismo social (sociedade) a uma atleta que malha apenas os braços ou a parte superior do corpo, e as pernas ficam fininhas, insustentáveis, sem poder aguentar o próprio peso do corpo.

Podemos comparar também com pessoas que pela pratica de esforços repetitivos (LER) acabam atrofiando os próprios membros outrora saudáveis. Em ambos os casos, poderá haver uma disfunção de oficio, ou o corpo inteiro sofrerá para conduzir membros danificados enquanto executa seu papel diário.

Em nossa sociedade também não é diferente: enquanto uns estão trabalhando de verdade, “malhando o cérebro”, pesquisando, analisando, buscando soluções para curas de doenças, projetos urbanos, de engenharias, literários, histórico ou cientifico, perdendo dias e noites para que o esforço do seus serviços sejam aproveitados por todos de sua e de outras épocas e locais, outros estão por ai, sacralizando tudo, demonizando tudo, botando uma galinha na encruzilhada, acendendo uma vela preta, dando 10 ou 30% do seu salário a uma homem igual a si mesmo para serem agraciados sem esforço algum, sem se interessar com os problemas que nos cercam, atribuindo tudo a deus ou o diabo, dizendo que tudo faz parte dos planos divinos...

Pessoas assim, que vive apenas da fé e em função desta, sem nada de útil produzir, são como um “peso morto” que a sociedade terá de levar nas costas até que o estado de consciência dessas mudem!

Pior de tudo, é que boa parte desses, que vivem a condenar a ciência, a tecnologia e a tudo que ela produz, na hora que precisam, recorrem a estas para terem suas vidas salvas ou projetos realizados...

Bom demais assim, não é? Ainda complementam a “inteligente fala” dizendo que foi “o deus deles” quem deu sabedoria ao médico, ou ao engenheiro, etc, etc... Engraçado que esse “deus deles” só “dá sabedoria” a quem passa vários anos estudando numa faculdade ou curso técnico e recebe uma certificação para atuar, mesmo sendo uma pessoa “sem deus” ou sem fé alguma. Não deveriam eles mesmo serem agraciados com tal sabedoria, já que invocam tanto a essa divindade? Que coisa estranha...

Mesmo que não queiram assumir, a criação de deuses e objetos místificados servem apenas para isolar o próprio crédulo em um mundo único e particular, antagônico a todo tipo de realidade, sujeito a todo o tipo de barbárie em nome da crença que ele mesmo criou ou submeteu-se.

A loucura chega a ser tão grande, que mutilar ou sacrificar ou próprio corpo ou vidas alheias para “obter” determinada graça ou “agradar” determinada divindade será apenas uma meta a ser alcançada e não objeto de vergonha.

Inibir a própria natureza ou querer inibir a natureza alheia também será uma consequência do desejo da divindade cultuada segundo tais pessoais. Deus estar sempre irado com algo que nem ele mesmo sabe o motivo da ira, logo o servo desse deus estará igualmente aborrecido. Sendo assim: deus aborrecido + fiel aborrecido= a sua paz comprometida!

Não haverá limites para os desejos (toscos) dessas divindades do mesmo modo que não há limites para a loucura dos servos desta, já que tais divindades também é fruto dessa mesma consciência.

Por outro lado, é verdade que muitos manifestam sua bondade e moralidade por meio da expressão religiosa que escolheram, mas é verdade também que as maiores maldades que os homens tem feito uns aos outros por milhares de anos também foi pela expressão de sua própria religiosidade ou da religiosidade coletiva.

Como já citado anteriormente, nos países islâmicos por exemplo, violar a inocência, a pureza e o corpo de crianças não é feio, imoral ou algo pervertido. É apenas um das formas de expressão religiosa.

No hinduísmo, casar com um macaco, cachorro ou cobra também não é ridículo. “O deus que há em mim saúda o deus que há em ti”, e isso vale para tudo! Cada um dá interpretação de “mistério divino” que quiser, inclusive a de que um deus ou parente encarnou naquele animal que será objeto de uma conjunção carnal entre espécies diferentes, ou de uma “relação amorosa” com essas criaturas.

Na índia, as vacas são sagradas enquanto que no brasil e em alguns países africanos ou em qualquer lugar onde alguns modelos de “igrejas da prosperidade” tem se implantado, os líderes religiosos é que se consideram sagrados e querem ser tratados como tal.

Alguns chegam ao ponto de serem tão abusivos que exigem não tocar o chão durante o ritual de culto, pisando inclusive em cima de crianças e “voluntários” que se deitam para que esse “ser divino” pise e não se contamine com o “pecado da terra”. Pode isso?

Outros desses “ungidos” vendem lenços suados ou roupas intimas fedidas para pessoas (abobalhadas), que acreditam que haja unção em qualquer tipo de excremento expelido por essa pessoa comum (aproveitadora) que se acha um deus.

Outros desses “ungidos” ainda fazem campanhas de prosperidades, leiloando por valores “intergalácticos” simples objetos pessoais, cujos seguidores “cairão matando” fazendo todo tipo de lance, para adquirir tais objetos, supondo que a “unção” do seu líder será derramada sobre eles por meio de aquisição de tais objetos.

A que ponto chegamos? Até que ponto a fé cega pode embrutecer alguém e reduzi-la a insanidade? Até que ponto isso é permitido? Até que ponto isso pode ser considerado uma expressão de liberdade religiosa?

Quanto mais pobre e carente for um povo, mas a vigarice por meio da fé se estabelecerá nesses lugares e ninguém se dar conta disso, antes sim dirão que é obra de deus, que é deus agindo no meio dos seus...

Ninguém consegue ser “ungido” nem ficar rico facilmente, nem tão pouco “montar nas costas do povo” onde os deuses já não são mais prioridades.

Nos locais onde os ritos litúrgicos ficaram em segundo plano, parasitas transvestidos de atravessadores dos favores divinos já não tem tanta serventia. Parece que a recompensa dada pelos deuses aos homens não é o paraíso ou vida eterna, mas carregar nas costas uma corja de aproveitadores.

Não há como projetarmos um futuro límpido, se o nosso presente é nebuloso. Por séculos os homens construíram e veneraram deuses. Por séculos líderes (fanfarrões) escravizaram o povo e viveram as custas do medo destes. Precisamos urgentemente reavaliarmos nossos conceitos sobre liberdade religiosa, deuses e seus representantes.

De nada adianta uma grande reforma política ou educacional, se boa parte do tempo e recursos úteis produzidos pelos cidadãos são destinados a coisas inúteis ou a líderes religiosos que vivem de modo parasita.

Quando a nossa polidez, a nossa diplomacia, e nossas própria convicções não forem tão grandes e fortes como as dores dos que sofrem por causa da liberdade de expressão religiosa de outrem, quem sabe nesse instante tomaremos uma posição mais favorável a todos.

Não há beleza alguma na “pedofilia civilizada” concedida pelos seguidores de certas religiões no ato de sua expressão religiosa. Não há beleza alguma no abate e descarte de animais mortos em sacrifícios no intuito de alcançar algum tipo de vantagem sobre o outro. Não há virtude alguma em “fazer negócios” com um deus incorruptível, enquanto por meio de barganhas tenta corrompe-lo de alguma forma. Não há inteligência alguma em permitir uma pessoa comum usando a bíblia venha extorquir por meio de ameaças 10% do salário de um trabalhador ou força-lo a comprar bugigangas inúteis para um projeto de fé qualquer.

Pensem nisso!

Saúde e sanidade a todos!

Texto escrito em 3/11/18

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 03/11/2018
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