E SE OS RECURSOS OFERTADOS AO DEUSES FOSSEM EMPREGADOS DE FORMA ÚTIL?

Seres imateriais não precisam de nenhum tributo material. Você poderia aproveitar melhor seus investimentos e ajudar quem realmente precisa!

*Por Antônio F. Bispo

Comentar sobre religião é algo mais perigoso do que comentar sobre política, pois enquanto que os conceitos da política geralmente são discutidos somente de 4 em 4 anos em períodos eleitorais como se fosse uma torcida de time organizada, os conceitos religiosos estão presentes todos os dias do levantar ao deitar, repletos em rituais intermináveis ou sem sentidos ( e também manifestos como sendo uma grande uma torcida organizada, digna de toda irracionalidade, pancadaria e violência para defender um “favorito” qualquer).

No manifesto religioso, todos querem expressar do seu próprio modo o seu entendimento sobre divindade, suas crenças e suas próprias “verdades).

Em suas próprias ilusões, quase todos os devotos de alguma divindade se denominam como sendo criaturas especiais, eleitas por uma divindades que mentalmente elas mesmas construíram ou foram ensinadas a cultivar, acreditando que irão morar em um lugar maravilhoso por que durante a vida inteira venerou e submeteu-se aos ditames daquele ser mistificado.

Se estão adorando a seres animados, inanimados ou metafísicos não faz diferença. A sensação de são especiais pelos serviços prestados aquele objeto de culto, faz com que uma teia de conceitos e preconceitos venha ser diariamente tecida contra os não praticantes de tais ritos, as discordâncias irão acontecer e várias ramificações daquela mesma linha de pensamento tomará forma. Mais deuses serão venerados, mais deuses serão combatidos, e o nosso precioso tempo nesse corpo é desperdiçado com futilidades como essas.

Por melhores que pareçam ser as intenções dos que criam rituais litúrgicos e a eles se submetem, se “destilarmos” tais ritos, na grande maioria das religiões poderemos encontrar justamente o oposto daquilo que os devotos intentam demonstrar. Se olharmos com atenção encontraremos o oposto de amor, paz, segurança, verdade, justiça, sabedoria e equilíbrio que eles tanto pregam.

Dizer o oposto daquilo que são ou estão sentido, é uma maneira funcional que a religião inventou para maquiar os conflitos internos dos devotos. Quanto mais propaganda de uma virtude for feita por uma agremiação religiosa, menos daquilo que se propaga será encontrado. Punir e perseguir os que percebem isso será sempre a forma escolhida para evitar o desconforto inicial que a verdade nos traz ao analisarmos certas coisas como realmente são.

Quem sabe esse tipo de comportamento só exista na espécie humana, o de inventar deuses e depois submeter-se a elas, além de projetar uma felicidade apenas no futuro, enquanto fazem do tempo presente um verdadeiro inferno para si mesmo e para tantos outros ao redor.

Por exigir a todo o custo direito de expressar a própria fé, os devotos são capazes de matar ou morrer pela dita liberdade religiosa que nada mais é que o livre direito de cultivar as próprias fantasias, de construir arquétipos, ou de inventar amigos e inimigos imaginários e eles temer ou venerar.

Não haveria problema algum se cada um que constrói um deus em particular ficasse somente para si como objeto de uso próprio, mas a grande questão é que isso não acontece. O proselitismo é tendência geral para todo deus construído e toda divindade antropomorfizada.

A crença nos deuses deveria ser como uma roupa íntima, usada de modo pessoal. Porém os seguidores sentir-se-ão tão inseguros com a própria crença que criou ou mantém, que precisarão convencer a tantos outros ao redor, para que eles mesmos estejam ainda mais seguros e desse modo não venham ser confrontados na incoerência dos próprios argumentos.

Quanto mais pessoas acreditando numa mesma crença, mas seguro sentir-se-ão os fiéis de que essa linha de crença é verdadeira e o pior começa a acontecer, pois começarão a “passar” sua “roupa íntima mal cheirosa” na cara dos outros esperando arrancar suspiros e ares de desejo, como se todos tivessem esse mesmo tipo de perversão.

É ai que os conflitos começam, pois reunindo-se 2 ou mais pessoas cultuando seja lá o que for por um período constante de tempo, uma realidade paralela é construída, um novo deus é gerado e uma nova religião poderá surgir. Para que a paz volte a se estabelecer os conflitos diminuírem, então concede-se a liberdade de expressão religiosos a todos àqueles que ao seu próprio modo procura expressar o que pensa ou sente em relação aos deuses.

Nos últimos séculos houve muitas mudanças produtivas para o bem das civilizações. A liberdade de expressão religiosa é considerado como sendo uma dessas conquistas recentes, um progresso nas relações sociais para alguns países, e até certo ponto é mesmo! Melhor assim, cada um na sua, mergulhando em suas próprias devoções (ou ilusões) do que matando-se uns aos outros, brigando para defender cada um o próprio amigo imaginário e barganhar com estes favores também imaginários.

Melhor até quem sabe do que ter apenas uma “única e verdadeira igreja” como era no passado, dominando tudo por séculos, queimando, torturando e eliminando quem fosse considerado herege, travando a evolução social de modo coletivo, baseado num projeto obscuro de poder, onde a ideia do sagrado era usada de modo profano, fazendo com que humanos comuns elevados à categoria de semideuses, viessem escravizar seus semelhantes valendo-se desse mesmo poder maligno.

De certa forma a liberdade de expressão religiosa pode até ser algo bom, até que o nível de consciência dos que se dizem religiosos mudem e percebam que sua maldade, bondade ou moralidade não dependem exclusivamente da crença que professam, mas de vários outros fatores como a própria evolução interior ou frouxidão das leis onde estes residem.

Considero que a expressão de religiosidade manifestada pela devoção aos deuses deveria ser usada como uma ponte para um objetivo maior, como um local temporário onde nossa consciência e personalidade poderiam estar, semelhante a uma estação de trem ou de ônibus, algo de estadia breve, até passarmos para mais grandiosos. Mas não é isso que a maioria dos ritos religiosos propõem e quanto mais estagnares em um lugar, melhor para os “donos do rebanho”. Nesses termos, o cárcere, o carcereiro e o encarcerado se fundem e se mesclam como se fosse um só objeto, uma única peça devido ao estado avançado de letargia.

Jamais as religiões ou ritos litúrgicos qualquer deveriam ser usados como porto seguro, um lugar de estadia permanente e estagnação de nossa consciência. É um prejuízo não apenas a própria pessoa, mas a toda coletividade.

Qualquer avanço cientifico ou tecnológico que possamos imaginar, certamente encontraremos um “herege” por trás dele, alguém que resolveu desafiar “a vontade de deus” para ir além daquilo que seus representantes diziam pagando inclusive com a própria vida por manifestar tal ousadia.

Os maiores entraves científicos e destruição de conteúdos materiais com registros de várias civilizações e estudos científicos feitos por vários povos ao redor do mundo, também em sua maioria foram feitos baseados numa expressão de religiosidade, onde o autor dizia estar a mando da divindade que ele servia.

Tudo isso seria evitado se o veto ao raciocínio e a evolução de pensamento não fosse imposto nas grandes agremiações religiosas. Quanto mais uma agremiação religiosa cresce, mais invasiva ela se torna na vida dos fiéis e mais deseja conduzir os destinos de toda a sociedade, baseado numa missão divina qualquer, falada em segredo a um líder religioso qualquer. Deuses confusos e contraditórios sempre dando ordem controversas ao seus súditos e toda sociedade pagará o alto preço desse fanatismo.

A água por exemplo, vital para sobrevivência de todos os seres, por mais que seja pura e límpida, se ficar parada em local aberto por muito tempo, irá estragar e microrganismos prejudiciais a nossa saúde começarão a se formar ali. Assim também é com a expressão de religiosidade dos indivíduos. Enquanto alguns grupos sociais passarão da pedra às conquistas espaciais, outros irão avançar apenas da clava à fé, dando gloria a deus e aleluias, girando em círculos no mesmo lugar, demonizando tudo, mistificando tudo e imaginando que serão herdeiros de um paraíso celestial imaginário só por que fazem tais práticas litúrgicas.

Por mais que muitas expressões de religiosidade pareçam ser boas, praticamente todas elas estão baseada apenas em dois pilares: MEDO e CORRUPÇÃO!

Medo do ser cultuado, dos oponentes do ser cultuado e do desconhecido que a todo instante nos rodeia. Corrupção por meio de oferendas e devoções diárias para que as divindades venham favorecer apenas aos devotos entre todos na grande multidão.

Não importa qual imbecil, antagônico, hipócrita ou desnecessária seja uma oferenda: por meio desse ato, o fiel antes de mais nada, afirma de forma inconsciente que o ser cultuado pode ser corrompido e manipulado para favorecer a uns em detrimento de outros, desclassificando-o por sua vez dos conceitos de justiça, santidade e incorruptibilidade.

Ou seja, a mesma boca que diz aos deuses: “benditos seja tu” por meio de palavras persuasivas e vazias, é a mesma quem indiretamente dirá: “tu não é de nada! Posso te corromper e te fazer mudar de opinião te ofertando migalhas” quantas vezes eu quiser! Entendes a contradição?

Se o acrescentar de deuses para objeto de culto de um povo servisse para alguma coisa realmente útil como bem estar coletivo e evolução social, países como a índia por exemplo, onde segundo algumas fontes afirmam ter mais de 330 milhões de divindades diferentes, deveria ser considerado uma nação ultra revolucionária, onde problemas sociais como fome, segurança, falta de moradia, doenças e mortes seriam assuntos encontrados apenas em remotos livros de história. Com essa quantidade de deuses, já deveriam ter ultrapassado até os limites do cosmos com tantos “benefícios” que estes podem conceder ao homem.

No entanto, é justamente o oposto disso que encontramos em lugares assim, pois quanto mais aumenta-se o número de deuses e elementos de cultos, mais pobre, mais manipulada, e mais ignorante tende a se tornar tal povo, enquanto que os problemas sociais passam a se agravar de forma alarmante por dois motivos principais:

1. O primeiro é que parte dos recursos daquilo que o pessoal produz (10% ou mais), será sempre oferecido para alguma divindade inerte, inexistente ou que acredita-se ter encarnado em diferentes corpos e formas. Tais oferendas será destinada para os representantes desses deuses (boa parte deles fanfarrões) que valendo-se da ingenuidade alheia viverão como sendo gigantescos parasitas sociais, nada produzindo e tudo consumindo.

2. O segundo fato é que, quanto mais divindades forem “contratadas” para terceirizar as responsabilidades de um povo, mais irresponsável e menos criativo esse povo tornar-se-á, obscurecendo o próprio futuro, pois tudo que acontecer poderá ser interpretado como sendo planos de deus ou ação dos demônios. Para que usar a inteligência para criar algo novo se tudo acontece de acordo com os planos divinos? Para que assumir responsabilidades se todo o mal que as pessoas fazem foi provocado pelo diabo? Por isso tanto escândalos de corrupção e crime organizado nas mais variadas agremiações sociais e uma moralidade baseada apenas no castigo ou recompensa divina e não no respeito aos semelhantes

Já nos países considerados ateus, onde deus e o diabo “foram proibidos” de interferir nas relações de conduta das pessoas, os indivíduos costumam ter um nível de moralidade menos hipócrita, sendo mais responsáveis por tudo o que dizem ou fazem, pois sabem que o peso da lei é mais dura nesses lugares do que onde “deus e o diabo” vivem o tempo inteiro de mãos dadas, a interferir nas relações sociais ou lutando entre si eternamente.

Não é de mais deuses ou mais atividades religiosas que precisamos! Precisamos de mais gente responsável e conscientes de suas ações para melhorarmos o convívio social como um todo. Pessoas que entendam que suas ações (ou falta delas) é quem pode mudar os rumos do local onde vivem, e não de pessoas que corrompam uma divindade imaginária pagando 10% do seu salário para serem privilegiadas enquanto outros sofrem, achando ficarão de fora “quando o circo pegar fogo”, sem também sofrer danos algum.

Se tudo isso fosse real, um deus que se considera criador e pai de todos, que diz amar a todos, mas que recebe suborno por meio de oferendas diversas para dar privilégios especial a alguns, deveria ser objeto de escárnio por ser corrupto e não objeto de devoção.

Outro exemplo que muitos ainda não se deram conta é que o “diabo” usa mais cristãos em países cristãos para fazer o mal entre si e a outros, do que usa ateus em países ateus para cometer barbaridades. As pessoas “cheias de deus” causam mais danos umas às outras do que as pessoas “sem deus”. Isso não te soa estranho?

Deve ser por que em países ateus, a leis são aplicadas de modo mais eficiente e rigoroso e o povo não poderá terceirizar suas responsabilidades a para ninguém. Note que inclusive os “ungidos do senhor” quando são pegos em atos de adultério, pedofilia ou sendo parte de algo ilícito ou ilegal, a primeira coisa que eles dizem é: “o diabo me usou...”!

Esse tipo de gente são as únicas pessoas na face da terra que podem ser usadas simultaneamente por deus e pelo diabo ao mesmo tempo e quase nunca estão “se usando”. Não é estranho isso? Um corpo que pode simultaneamente ser usado por duas entidades diferentes? Você não acha perigoso estar perto de gente assim? Nunca se sabe de onde virá o ataque...

Quando eles estão pedindo o dizimo ou estão doutrinando o povo para subserviência cega, dizem que estão sendo usados por deus. Enquanto que em alguns casos já registrados na própria igreja pelos próprio fiéis, logo após um “culto abençoado”, bastou alguém dar as costas para que “o diabo” viesse usá-los para fazer o que não devia...

Atenção dobrada para todos esses que são “usados” o tempo todo e que nunca estão no controle si mesmo! Olho neles! São na maioria dos casos as piores pessoas para lidarmos e as mais irresponsáveis também!

Assumir responsabilidades pelo próprio comportamento é o princípio número 1 para os que desejam construir uma sociedade mais justa. Abrir todo dia uma casa de culto diferente, para entidades diferentes, no intuito de terceirizarmos nossas responsabilidades para seres do imaginário coletivo e negociarmos com eles nosso futuro, pode ser o entrave principal para evolução de qualquer sociedade. O princípio do caos, eu diria.

Se tudo pode ser resolvido na base de barganhas, da corrupção dos deuses por meio de oferendas, qual o nosso papel social então? Por que existimos? Por que temos um cérebro? Por que fazemos uso da razão? O que devemos fazer? Devemos construir ou correr atrás de algo novo ou esperar sentado que tudo vai cair dos céus? Se for assim, basta dar o dízimo, cantar um louvor, se congregar em rito litúrgico e “entregar tudo nas mãos de deus” que tudo se resolve, não é mesmo? Só que não...

Quem sabe a liberdade de expressão religiosa não seja de fato uma conquista moderna, uma liberdade alcançada. Quem sabe ela seja uma licença gratuita para ilusão coletiva desenfreada, uma opção de múltipla escolha para nos iludirmos ainda mais e deixar que os outros também faça o mesmo. Um meio ainda mais sorrateiro de escravizarmos a nossa própria consciência e de nos colocarmos numa situação mais degradante do que a dos próprios animais que julgamos ser irracionais. O veto do culto alheio, o monopólio da fé ou a monolatria são apenas faces diferente da mesma moeda, algo igualmente perigoso e destrutivo. Melhor seria o desapego desses apetrechos que mais atrapalham do que ajuda em nossa harmonia social.

CONCLUIREMOS ESSE PENSAMENTO NA TERCEIRA ABORDAGEM DESSE ASSUNTO EM UM OUTRO TEXTO. AGUARDEM....

CONTINUA...

Texto escrito em 30/10/18

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 30/10/2018
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