E o poeta descansa...
O poeta descansa quando seus livros já não estão sob a cabeceira de sua cama.
Quando seus óculos ‘enxutos’ estão embaçados pela sua visão míope.
O poeta descansa quando seu cérebro já não funciona como antes, e vê na fadiga uma amiga fiel.
Quando sua voz não sai mais que um grunhido matinal.
O poeta descansa quando lhe tiram a sobra da comida da noite anterior em frente a sua boca.
[...] quando ao descaso lhe atribuem.
O poeta descansa quando seu corpo lhe diz para não ir porque está ‘velho’ demais para se meter em política e ele aceita.
[...] quando lhe tiram o direito de questionar.
O poeta descansa quando vê seu amor passar pela rua, mas tão acostumado a receber um ‘não’ silencioso deixa a bela passar.
[...] quando percebe que não têm mais o direito de sonhar.
O poeta descansa quando todos seus direitos se convertem em deveres, e ele louco sem saber o que fazer com tanta nova informação se liga à apatia. Voluntariamente.
Quando percebe que sua inutilidade é tão grande, e que seu corpo, sua voz, não tem mais a mínima importância nesse mundo justo, o poeta (não só vai como ele) descansa.