LIBERDADE DE EXPRESSÃO RELIGIOSA: EVOLUÇÃO OU INVOLUÇÃO SOCIAL?
Quanto mais deuses são inventados, mais divididos seremos e mais loucuras faremos em nome destes.
*Por Antônio F. Bispo
Algumas pessoas para se mostrarem cultas, evoluídas e politicamente corretas dizem que toda liberdade de expressão religiosa deve ser respeitada a todo custo e que todos tem o direito de representar sua fé como bem entender e que a liberdade de expressão religiosa é uma conquista moderna, um direito de todos.
Trechos da nossa constituição também favorecem essa forma de raciocínio e de certa forma esse é um dos caminhos para a paz e harmonia na convivência entre os povos. Mas em toda lei há sempre um lado que pode passar desapercebida e que precisa ser revista cada vez que for necessário.
Tudo que um dia já foi considerado legal e permitido pela lei em determinado lugar ou época pode ser considerado como crime hediondo em outro local ou tempo. A captura de seres humanos para trabalho escravos por exemplo, é um desses pontos em que por milhares de anos, em várias culturas do mundo era considerado como algo legal, e foi por meio de debates intermináveis de pessoas lúcidas e sacrifícios pessoais de alguns desses, que atitudes como essas hoje são considerados como sendo uma atitude criminosa e marginalizada.
Há diversos outros pontos da lei que hoje consideramos legais e no futuro sentiremos nojos de nós mesmos pelo que um dia fizemos não apenas a nossa espécie, mas a tantas outras. O abate de bichos para consumo de proteína animal com certeza será um desses pontos no futuro pelo qual sentiremos vergonha do mesmo modo que alguns europeus sentem vergonha pelo holocausto nazista.
A submissão total e irrestrita a qualquer tipo de liderança será outro “ponto da lei” que com certeza iremos rever brevemente, quando entendermos que ninguém é melhor que ninguém só por que usa um “livro sagrado” como ponto de referência moral, por que tem um certificado pendurado numa parede ou por que usa uma indumentária que representa um símbolo de autoridade. Quando entendermos que todos somos partes divididas de um mesmo organismo social, o principio dessa autoridade patriarcal que gera súditos amedrontados e de pouco raciocínio será objetos de estudos para historiadores e antropólogos num futuro próximo.
No quesito de fé então nos perguntamos: até que ponto essa tal de liberdade de expressão religiosa deve ser respeitada? Existe um limite para a liberdade de expressão religiosa ou cada um faz o que bem entender com a própria liberdade e pronto? A liberdade expressão religiosa é realmente um avanço ou um retrocesso para a nossa espécie?
Sabemos que o princípio geral para uma boa convencia é sempre o mesmo: a liberdade de alguém termina onde a do outro começa! Muitos esquecem desse detalhe, e para expressar a própria liberdade de crença, desafiam ou desrespeitam dezenas leis ou outros princípios básicos da boa convivência, inclusive a do direito à liberdade e vida de seus semelhantes.
Será que toda liberdade de expressão religiosa deve ser mesmo respeitada? Melhor ainda: será que algumas destas práticas deveriam continuar existindo ou deveriam ser banidas para sempre, para nosso próprio bem? O que ganhamos e o que perdemos reavaliando certos conceitos?
Numa hora dessas dá até pra imaginar os murmúrios se formando antes mesmo da conclusão desse raciocínio. Quase que dá até para ouvir: MIMIMI...toda expressão religiosa deve ser respeitada! MIMIMI...
Então vamos refletir sobre os tópicos abaixo, se ponha no lugar do ser em questão e vejamos se ainda vais pensar do mesmo jeito. Tudo isso que descreverei abaixo fazem partes de atos de fé de alguns, meios pelos quais eles expressão sua “liberdade de expressão religiosa”.
Me diga então:
Será que uma mãe que teve sua criança sequestrada para ser oferecida em sacrifício num ritual de magia negra concordaria com essa afirmação?
Será que uma criancinha indígena da Amazônia que está sendo enterrada viva por seus próprios pais para que “tupã” abençoe a próxima colheita concorda com isso?
Será que uma adolescente que estar sendo vítima de estupros coletivo num ritual macabro de magia sexual, para sofre pelo resto da vida revivendo mentalmente essa macabra cena, aceita esse ponto de vista?
Será que bodes e galinhas pretas que são degolados e entregues em despachos semanalmente em encruzilhadas, se pudessem falar concordariam com essa teoria?
Será que um empresário que acaba de descobrir que estar falido financeiramente por que sua esposa apostou todas as reservas da empresa e da família numa inútil “campanha da prosperidade”, concordaria com esse ditado tosco?
Será que crianças cuja religião aprovam a pedofilia e a escravidão sexual como sendo parte da crença religiosa, concorda também com essa afirmação de que toda crença deve ser respeitada?
Será que gays que são mortos diariamente “a mando de deus” concordam que isso é certo?
Será que um fiel que se “desviou” da igreja ou se “rebelou” contra seu pastor, concorda que o seu antigo líder e o seu grupo invoquem doenças terminais e maldições sem fins para ele e sua família só por que esse se desligou da igreja, considerando que esse tipo de atitude também é uma tipo de expressão de fé para certos grupos religiosos?
Claro que não, não e não! Pimenta nos olhos dos outros é refresco!
Somos tão hipócritas e tão sutilmente programados para darmos respostas prontas e sem sentidos para quase tudo na vida, que só concordamos que uma expressão de fé deve ser suprimida quando somos nós mesmos os principais prejudicados por esta.
Enquanto o outro estiver se ferrando, sofrendo ou morrendo pelas loucuras permitidas pela “liberdade de expressão religiosa” somos todos a favor que ela continue! Quando sofremos prejuízos pela loucura da crença alheia ai dizemos: “esse tipo de crença não deveria existir! Por que a justiça não faz nada…”?
É preciso ser muito cara de pau, ou ser muito ignorante, sem acesso a nenhum tipo de conhecimento histórico ou cientifico para dizer que todo ato de fé ou todo rito litúrgico é um caminho para elevar o homem a um estado de espirito maior, onde possa ter contato com uma suposta divindade.
Mediante reflexões como essas, o convite não é para sairmos por ai dizendo qual modalidade de crença deve permanecer e qual dever ser destruída. Não é isso! Não estou propondo uma nova caça às bruxas. A igreja católica já fez isso por mais de 1000 anos e hoje terceirizou essa função para boa parte dos evangélicos.
Se levarmos em conta o ponto de partida de todo religioso que é a questão da fé em uma entidade metafisica ou encarnada, todas as elas são praticamente iguais, pois todas se baseiam na crença, e baseado apenas em crenças cada um diz o que quer ou faz o que quer, e segundo sua própria crença estará certo no que faz, mesmo que para agradar ao “seu deus” tenha de matar milhares de pessoas, como faziam nos antigos ritos litúrgicos dos incas e tantos outros povos do passado.
A ideia principal de reflexões como essa é a de nos questionarmos se realmente precisamos das religiões, da crenças nas divindades e que benefícios ou malefícios essas podem nos trazer a curto e longo prazo. Se essas são um entrave ou um gatilho para nossa evolução e ordem social, e qual seria o melhor caminho para a busca da moralidade e da paz interior que não seja baseado no universo fantásticos dos mitos religiosos.
Tentar responder a essas questões baseado apenas na rejeição ou aceitação total de fatos isolados também não ajuda em nada! Analisar a equação como um todo ajuda a tomar decisões mais sensatas para futuros comportamentos que possamos adotar.
Somos nós, humanos sejam estes religiosos ou não que são os senhores do próprio destino e agentes sociais de mudanças constantes e não os deuses que inventamos cada um a seu próprio modo para depois a eles nos submetemos. Tudo muda se mudamos nosso ponto de vista e esse por sua vez mudará a nossa consciência.
Se cada religioso então perguntar a si mesmo o por que acredita nessa ou naquela divindade começara a encontrar respostas para essas perguntas e as mudanças começarão a surgir.
As respostas chegarão pouco a pouco e quando elas chegarem, que estejamos prontos para o que virá depois, pois o principal sintoma que você irá sentir, poderá ser o sentimento de revolta e de que foi enganado o tempo inteiro, que foi feito de trouxa por toda a vida ou irá perceber que estava apenas repetindo tradições culturais milenares aceitas pela maioria da população como sendo certas.
Tais tradições ou ritos litúrgicos surgiram ao longo da história de acordo com as necessidades de cada momento. Do medo, da ganancia e da ignorância surgiram os principais modelos de expressões de fé que até então adotamos e até hoje muda-se apenas o objeto de culto, mas a intenção é a mesma: fazer barganhas com seres metafísicos ou sobrenaturais em troca de favores pessoais ou grupais. O sentimento tribal é comum a praticamente todo ser religioso. Tudo de bom para nós que “somos certos” e tudo de ruim para os outros que “são errados”. Passamos apenas da clava a fé, e consideramos isso como sendo um ato evolutivo.
Desse modo, percebemos que as crenças religiosas são capazes de reduzirem criaturas um com potencial fantástico que é o ser humano, a seres com comportamento egocêntricos, idiotas, doentios com tendências para o auto extermínio ou extermínio coletivo, capazes de desprezarem suas próprias vidas e a paz presente em busca de um paraíso futuro, inventado para motivar principalmente praticas suicidas e genocidas como foram as cruzadas cristãs e os grupos terroristas do islã atual.
Um novo paraíso celestial ou terreno é sempre inventado cada vez que uma nova conquista política ou econômica precisa ser alcançado por uma grande potência ou por “oligarquias malignas” que usam justamente a crença popular para alcanças objetivos pessoais. Todos eles dirão que tiveram depois que tiveram uma teofania e assim surgiu esse novo modelo de fé!
Praticamente todas elas dizem: Morra e mate agora por uma divindade qualquer e terás um novo corpo num paraíso futuro! Sofra privações no presente e terás farturas no porvir! Seja servo (capacho) aqui por um curto período de tempo e no futuro reinará eternamente ao lado de um ser celestial qualquer! Quem mais sofrer no presente, mas se alegrará no futuro e o senhor mesmo em pessoa os confortará!
Blá, blá, blá...! Tudo balela, conto de carochinha!
Toda felicidade, todo gozo, toda paz e toda harmonia sempre projetada no futuro que nunca acontecerá! Enquanto isso, para defender essa mesma crença, tais fiéis com sua liberdade de expressão religiosa” fazem do presente um verdadeiro inferno, não apenas para si, mas para todos os que o cercam...
Precisamos pensar sobre isso e refletirmos se não há um caminho melhor que esse. A realidade é dura, dói, mas constrói pessoas mais sensatas e responsáveis pelos seus próprios atos. A fé nos seres metafísicos pode ser apenas uma maneira de terceirizar as próprias responsabilidades.
Cada religião por sinal ensina que é feio, vergonho, uma blasfêmia, o maior de todos os pecados o fato de que alguém possa cometer é questionar os dogmas da própria fé ou a postura dos seus líderes religiosos.
É permitido questionar, investigar, averiguar, diminuir, tratar com chacota, menosprezar ou reduzir a nada a crença a alheia, mas a própria crença não! Eles dizem sempre: “receba e aceite desse jeito se quiseres ir para os céus ou pelo menos evitar a ira de deus sobre ti, afinal quando você se juntou ao nosso grupo, esse modelo de crença já existia e quem é você pra questionar?”.
Você não acha isso meio suspeito? Não seria esse um ato explicito de pilantragem para tentar impedir que você entenda como funciona todo “esquema”?
Se fosse permitido o questionamento nos ambientes de culto ou se fosse possível perguntar abertamente aos “caciques da fé” as raízes de suas próprias crenças, praticamente todo rito religioso se dissolveria e todo líder religioso perderia a própria “autoridade” que julgar receber direto dos deuses.
Essa reflexão ainda não acabou. Nos acompanhe no próximo texto e poderemos pensar sobre esse tópico um pouco mais!
CONTINUA....
Texto escrito em 20/10/18
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.