Um epitáfio

Em mim houve o receio

que a vida fosse somente

o meio para que as dores

de todas as frustrações

me esquecessem num labirinto.

Sei lá, um quebra-cabeça

com peças idênticas:

mesmo cortado, mesma borda

com todos riscos afins.

Saí mundo afora levando tudo que possuía

Olhos brilhantes, sorriso constante

euforia ilimitada do gosto pela vida...

Tracei alguns projetos. Me vi em muitas retinas.

Conselhos? não. Queria meus acertos e meus erros

queria ser dona de mim..

E fui. Viajei por décadas em sintonia

sugando emoções, alegrias, tristezas

montei o meu palco com flores,

algumas cinzas, alguns amores

alguns saberes, alguns pudores

e foi assim que me fiz.

Não encontrei no amor

o sentimento que todos exultam

Por ele ou através dele, desencantei-me de

príncipes, reis, súditos e por pouco

não sucumbi.

Nunca camuflei o sentir.

Deixei-o livre, tecendo linhas

e ainda bordo alguma ousadia

sem nós, sem avessos

provando que ainda posso

preencher meu próprio espaço

utilizando esperança, bom senso,

e vivendo cada momento,

como o derradeiro; aquele do fim.

Não. Não me basto. Não sou

auto sustentável. Necessito

de todo o externo.

De um carinho doce, num gesto

de um aperto de mão, sincero

De cumplicidades, de colo,

de compartilhar sem segredos

as margens, o miolo, o recheio,

de todos meus sentimentos

sem que a sanidade ou loucura

que cada um traz dentro de si

me empurrasse novamente

para um beco sem saída

onde nem a psicanálise

com seus dogmas, soluções,

questionamentos,

conseguiria o meu resgate.

Calma! O meu viver é lúcido

apesar de tudo

Parece insano? Não é. (O que escutas é o eco)

E rico, apesar de bens não possuir..

Falta muito, para o prefácio.

E muito ainda, para o epitáfio. Espero.

Mas, se houver que seja assim:

Não seguiu a revoada

e no entanto, utilizou suas asas,

para alçar vôos e avistar cascatas.

Nelas, deixou seu recado:

"Vesti-me de águas

purifiquei minha alma

e escolhi ser feliz!"