A NOITE PERFEITA PARA SER SOZINHO

Já é quase madrugada de sábado pra domingo, e eu aqui, sozinho de novo carregando no peito um amor pela noite, pela quietude, pelo silêncio que vaga na escuridão, pelos pensamentos às vezes soturnos que tomam a direção e me levam a mares nunca antes navegados. Tomo um gole de vinho direto do gargalo, sinto o frio enroscando meu corpo. Do lado uma lareira com suas chamas já quase sem vidas, uma sala enorme com espaço pra muitos sonhos, um relógio na parede insiste em lembrar que a noite depois de algumas horas vai chegar ao fim. Olho ao redor e me vejo sozinho, apenas a garrafa de vinho me faz companhia, mantenho nela um olhar fixo por um longo tempo, restos mortais das chamas refletem na taça vazia. Uma chuva mansa cai e escorre pelo telhado, a janela entreaberta permite que chegue até mim e a minha amada uma brisa fria e calma, a cortina bailando com sutis movimentos. As chamas vão morrendo e o crepúsculo se intensificando, beijando meu corpo, trazendo a leveza da fria neblina que cai sem cessar. O telhado com o papel de piano compondo uma canção à medida que beija as gotas de cristais. É o cenário perfeito! Nada pode me tirar a paz. O sono sorrindo chega e me abraça, mas me permite tomar o último gole que ainda está depositado no fundo da garrafa. Pego-a pelos ombros e beijo-lhe a boca enquanto ela cede todo o vinho que há em seu ventre. Permito-me, então, ser abraçado pelo sono que me toma e me devolve depois do nascer do sol quando a vida já se pôs de pé.