RETRATOS DE UM DEUS IRADO
Não gosta disso, aborrecido com aquilo, irado contra quase todos...
*Por Antônio F. Bispo
Não! O problema não estar em ti. Não se culpe, não se castigue, não viva em martírios com sentimento de culpa pois jamais você irá agradá-lo em totalidade mesmo que você o tente e o erro não estar em ti.
O problema estar no design, no modo com o desenharam, pois toda vez que você se achar santo e cumprindo algum tipo de mandamento divino segundo a sua congregação, saiba que você estará sendo um herege ou cometendo blasfêmia segundo o ponto de vista da outra igreja ou outra religião.
Para os povos que inicialmente escreveram a bíblia por exemplo (os judeus), adorar a uma trindade é o pecado mais mortal que alguém pode cometer, motivo pelo qual deus estar constantemente irado, trazendo catástrofes diárias ao globo, motivo pelo qual deus irá destruir todas as nações deixando apenas eles que se dizem se o povo escolhido desde sempre.
Já para os povos que adotaram o deus bíblico e se julgam atualmente como prioridade divina (os cristãos), adorar a uma trindade, um deus dividido em três pessoas, é o ponto máximo da inteligência humana, motivo pelo qual deus abençoará a todos os que fizerem esse tipo de profissão de fé.
Como se os sentimentos humanos também fossem possíveis àquele a quem dizem estar além do tempo e do espaço, os que desenham a imagem de deus e sua vontade, tem agido de modo semelhante a um grande e renomado escultor, que após horas de trabalhos intermináveis para produzir uma belíssima e valiosa escultura, põe como enfeite principal nesta bela arte, uma coroa de merda, que irá derreter e escorrer cada vez que houver variações climáticas.
Mais ridículo ainda se torna esse comportamento, quando esse mesmo escultor vive a substituir apenas o tipo fezes como enfeite. Apenas fezes de humanos diferentes, de raças diferentes numa belíssima arte, ao invés de adorná-la como algum tipo de pedra ou metal precioso.
Os humanos tem feito isso também com a ideia dos deuses. Enche-os de qualidade e características surreais, indizíveis e impensáveis a qualquer ser vivente, mas coroam tais deuses com “merdas” semelhantes a ira, raiva, inveja, vingança e outros atributos de uma mente não evoluída. De que adianta? Só serve para alimentar o medo de uns e o ego de outros além de fornecer dinheiro e poderes ilimitados aos que se acham donos desse tipo de franquia.
Tem sido assim há séculos esse comportamento em relação a ideia de deus e nada vai mudar a menos que você mude e recobre sua própria consciência. Deus esteve e sempre estará irado com alguém ou alguma coisa e sempre vai ser assim e ou problema não é seu, é dos que projetaram nele traços antropomórficos mesclando criador e criatura em uma coisa só.
É tão louco e tão confuso o conceito de servir a deus, que enquanto uns vivem suas vidas no intuito de receber dele privilégios especiais, outra grande maioria vive em função de não desagradá-lo para não serem castigados, amaldiçoados e lançados no inferno. E a vida passa para ambos vivendo em função disso, contaminando com essa mentalidade doentia a todos quantos sejam possível, pois até nisso veem como sendo a pregação do evangelho, um mandamento a ser cumprido.
Pergunte a um fiel quando é que ele estar agindo por medo ou por ganancia e ele não saberá jamais responder. Dirá apenas: estou servindo a deus! Então você pergunta: Qual deles? Ou qual a versão dele? E eles também não saberão responder, ou simplesmente dirão que é o deus universal, criador dos céus e da terra, mas longe disso, cada um estar apenas inserido no desenho pessoal de deus que seu grupo religioso desenhou para ele, com propósitos e fins específicos, sendo os principais deles o controle das massas por meio do domínio das mentes dos fiéis ou propósitos meramente comerciais, fazendo do crente mercador ou mercadoria, depende de que lado do “balcão de negócios” ele esteja inserido.
Você vai ficar louco se passar a vida tentando agradar a deuses e seus representantes! Deus é “inagradável” (essa palavra não existe mas sei que você entendeu!).
Seu desenho e seu projeto foram feitos para serem assim. Qual a utilidade de um deus que defina clara e universalmente suas metas e seus objetivos? Não tem graça nenhuma um deus que possa atender a todos! O fiel tem de se achar especial, melhor que os outros, filhinho do papai e tem de pensar que afinidade celeste sé dá semelhantemente a uma grande empresa de marketing de rede terrena que por hierarquia, onde cada um que vai entrando é superior ao último que entrou e que sempre estará um passo à frente desse ficando com a maior parte da atenção ou lucro fornecido pelo fundador da rede.
Por esse motivo a maioria dos evangélicos não aceitam a ideia do ecumenismo. Como eles iriam se achar melhores que todas as pessoas ao seu redor se todas as nações do mundo adorassem a um mesmo deus? Que graça tem isso? Não presta, não é? Como a maioria deles iriam esfregar o próprio “evangelho” (que mais parece roupa intimida fedida) na cara dos outros se deus fosse um só pra todos? Assim não vale!
Tem de haver divisão, tem de ter separação, tem de ter conflito, combate, perseguição, matanças em nome da fé! É isso que faz com que um religioso se sinta importante, valorizado, diferente...Se por acaso algum dia se materializasse essa divindade metafisica cultuada e dissesse amar a todos de igual modo sem distinção, ele iria cair no pau! Iria morrer justamente pelas mãos daqueles que dizem: “deus te ama”! “Jesus ama todos”! “Ele deu a sua vida por você”! Mi-mi-mi-mi-mi....
Oras bolas! A fé dos crentes perde o sentido se não tiver alguém pra condenar ao inferno, pra julgar, apontar o dedo, se achar superior, desejar um câncer ou acidente brutal a todos os hereges, desviados, ateus e “desobedientes”. Sinceramente a vida dos “servos de deus” seria um tédio senão fosse a ferramenta do ódio e do egoísmo transvestida de amor para dar sentido a sua pobre existência!
Por esse motivo criam trechos e apetrechos, requisitos e exigências que não passam de conjecturas meramente pessoais sobre aquilo que possivelmente seria a vontade de deus.
Você vai morrer tentando e jamais vai conseguir agradá-lo, pois como dito acima o que é servidão e adoração para um grupo é blasfêmia e heresias para outro, e você no meio, feito besta, gastando seus dias de vida e seu tempo precioso para seguir preceitos de gente confusa, egocêntrica, mal amada ou mal informada.
Para uns, deus não gosta de esmaltes, brincos, batons, óculos de sol, camisas regatas, penteados diferentes ou qualquer acessório que enalteça a beleza feminina ou masculina. Ele se ira com essas coisas e castiga quem fizer isso.
Para outros ele detesta carne de porco, camarão, refrigerantes, bebidas alcoólicas, ou qualquer alimento que seja produzido por uma grande multinacional, dirigidas por “maçons”, “iluminatis”, “satanistas” ou qualquer outro tipo de “herege, filho do capeta que quer dominar o mundo”.
Ele estar sempre irado contra gays, lésbicas, travestis, quem usa tatuagem, quem fuma maconha, quem falta nos cultos, quem não dar o dízimo e quem questiona ou desobedece seus “ungidos”.
Ele só nunca se ira contra padres pedófilos, pastores adúlteros e manipuladores ou qualquer pessoa que faça do seu nome um meio para oprimir, extorquir e enganar pessoas. Pelo contrário, ele adora isso! Se duvidas dessa citação é por que você não leu direito todo o antigo testamento, leu apenas alguns pouquíssimos versículos sugeridos para que complementam os argumentos da crença de vosso grupo.
Ele ama guerras, genocídios, infanticídio, que os seus líderes tenham escravos sexuais, apoia a escravidão e manda penalizar ou penaliza com morte qualquer um que duvide de seu poder, seus mistérios ou que desobedeça aos seus representantes terrenos.
Se você ama “o deus de amor”, que ama a todos e aceita a todos sem distinção é por que você optou em seguir o desenho do “deus light” do novo testamento, que mesclado com vários outros deuses da cultura védica, ganhou um ar mais agradável, mais fácil de ser aceito nos dias de hoje. Mas o “deus” raiz do antigo testamento não é assim: ele gosta de sangue, guerras, contendas, intrigas e que pela espada o seu nome seja propagado entre os povos.
Cada escolhe a versão de deus que melhor lhe representa ou pode ter as duas versões simultaneamente para serem usadas em ocasiões distintas. Por que não? Como não existe direitos autorais registrado acerca da ideia de deus, cada um exclui ou acrescenta aquilo que mais atende suas necessidades momentâneas.
Prestem atenção as músicas que os fiéis cantam, uma delas diz o seguinte: “ se ele fizer ele é deus; se não fizer é deus; se responder é deus; se não responder continua sendo deus....” Fácil demais ser deus assim não é? Qualquer um poderia ser, inclusive você que lê esse texto se assim o quisesse se fosse nesses termos.
Quanto a questão de procurar ser útil a ele é outra complicação...
Muitos se acham santos, que estão agradando a deus ou que estão se tornando mais poderosos ou íntimos com o seu criador por que passam algumas horas ou dias sem comer, em jejum. Uns ficam jejuando 10, 20 ou seja lá quantos dias for para ter mais comunhão com deus e acham que estão fazendo algum tipo de favor a deus.
Isso não passa euforismo idiota, pois se o ato de ficar com fome clamando a deus fizesse de alguém uma pessoa melhor ou mais santa, todos os mendigos, miseráveis e que passam fome no mundo inteiro seriam todos eles santos e superiores aos demais, pois em suas necessidades e aflições, deus é o que eles mais clamam e se não fosse pela ação de pessoas humanas “pecadoras” eles morreriam assim, e morrem todos os dias quando não são alcançados por esses “pecadores”.
Outros dizem que na obediência que deus se agrada. Obediência de que e a quem, se ele pessoalmente nunca se manifestou e disse o que queria? Todos que acham que estão sendo obedientes a deus, estão apenas obedecendo os conceitos doutrinários da própria igreja, se tornando rebeldes segundo o conceito da outra mais adiante.
Outros dizem que é sendo fiel a ele que iremos agradá-lo, só que entre todos esse é o conceito mais vago que existe, pois tanto o líder quanto liderado do seguimento religioso pode interpretar do modo que quiser, desde sacrificar o filho no próprio altar para ver se a pessoa tem mesmo fé suficiente, a usar um “pênis ungido” para curar enfermidades no útero de irmãzinhas desavergonhadas, comprar bugigangas ungidas, ser capacho de pastor até se oferecer a própria vida como mártir em missão suicida.
Outros dizem que é no celibato que se agrada a deus; que são com pesadas penitencias e martírios corporais; que é se afastando da sociedade e vivendo isolado nos montes, florestas ou cavernas; outros dizem que é quebrando imagens de esculturas ou outros símbolos que representem marcos sociais importantes...é uma confusão desgraçada.
E pior: acreditam que quem não o serve estar contra ele! Só vai acabar em penúria para si ou para outros.
Adoradores e o ser adorado nesse momento se mesclam e se confundem como se fossem células de um mesmo tecido que entram em modo auto destrutivo causando danos a um órgão vital, levando a falência todo o corpo logo após. Nossa sociedade é esse corpo, e as confusões causadas pelas diferentes tentativas de agradar a deus cada um em sua forma é o câncer que tem aniquilado a muitos.
A auto cura para esse tipo de mal reside apenas no ato de pensar e questionar: por que estou fazendo isso? Para quem estou fazendo isso? Em favor de quem ou contra quem estou fazendo isso? Como seria se fosse diferente.
A mente que deixa de funcionar será infectada pelo vírus da loucura que a maioria dos modelos de crença injetam no homem desde o berço. O conhecimento será o mais eficaz de todos os sentidos, desde que esse também não se torne uma outra forma disfarçada de idolatria ou egolatria.
Aos que insistem em continuar no modo que estão (e é um direito destes) apenas podemos fazer um pedido educado do seguinte modo:
“Prezado fiel e adorador, NÃO ENFEITE COM COROA DE MERDA UMA DIVINDADE METAFISICA QUE TÃO BELAMENTE VOCÊ CONSTRUÍU. Os que ainda usam de sanidade agradecem!”
Saúde e sanidade a todos!
Texto escrito em 18/9/18
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.