UTOPIAS DE UM “POVO DE FÉ”

Por que alguns insistem em afirmar que desejam ver deus governando essa nação?

*Por Antônio F. Bispo

Como se fossem uma classe escolhida acima de todos os demais seres viventes do planeta, os que se auto intitulam como “servos de deus” ou “verdadeiros adoradores”, parecem viver a maior parte do seu tempo em um mundo paralelo ao nosso, distorcendo os fatos ao seu favor ou contra os “ímpios” a fim de manterem viva um estilo de crença auto anulatória que produz uma série de efeitos colaterais. Um dos mais graves e mais recorrentes é o de acharam que podem ter um deus particular para assumir suas responsabilidades via “pagamento mensal de comissão”.

Segundo esses, nossa terra será sempre um “país de ímpio” ou uma “nação cristã”, só depende do contexto ou dos interesses pessoais-partidários de quem faz essa citação e do momento em que ela é citada. A mesma boca que diz que essa nação é do senhor diz também que esse povo jaz no maligno quando veem frustrada alguma tentativa de controle ou de coisas que consideram como um agravante a “santidade de deus”.

Apesar de assumirem verbalmente a todo instante que deus é o senhor desta nação e que ele é justo e incorruptível, pelo modo que expressam sua fé demonstram o contrário desse pensamento, pois acreditam que cantando, dançando, bajulando ou fazendo propaganda a cerca desse ser qual chamam de senhor e criador, julgam ter privilégios especiais pelos serviços prestados a ele afirmando assim que ele não age segundo os preceitos do que diz ser justo, mas que trabalha semelhante a um mercenário, executando tarefas mediante um pagamento prévio ou posterior.

O ladrão e o traficante cristão por exemplo, quando saem para prática do roubo e do tráfico pedem a deus e prometem que se forem bem sucedido o retribuirá de alguma forma. As vítimas desse também pedem proteção e prometem favores se atendidos.

O estuprador e estuprado também pedem ajuda ou proteção a deus. Torcedores de times diferentes fazem votos se seus ídolos se saírem bem. O homicida e sua vítima também emitem esse mesmo pensamento de ajuda e proteção. Um pede ajuda para violar e não ser punido pelas autoridades. Outro pede ajuda para não ser violado(a). Todas essas pessoas seguem diária ou semanalmente para pedirem ou agradecerem pelos mais variados tipos de pedidos, ou reclamar pelo não recebimento deles e mesmo assim continuar tentando.

Um único deus e milhões de pessoas com centenas de desejos egoístas ou maldosos para negociar com ele o tempo inteiro. Cada se acha especial e que será ouvido por ele, não importa qual seja o pedido, pois aprenderam desde cedo que essa ideia chamada deus pode ser manipulável mediante promessas de pagamento ou prestação de serviços a ele.

Cada um que dobra seu joelho, ascende uma vela, lê um versículo bíblico ou faz uma prece a ele tem a plena convicção de que foi atendido e que deus estar do seu lado. A crença comum faz com que cada um que chama o nome de uma divindade se ache especial e protegido.

Seria a fé nos deuses uma licença legal concedida pelo estado para que as pessoas pudessem externalizar suas loucuras e fantasias sem serem incomodadas? Ou seria ela a mais eficiente ferramenta de controle social já criada pelos poderosos? Pela fé podemos colocar a culpa de nossos fracassos e perturbações em qualquer ser físico ou metafísico e não seremos mal vistos pela sociedade por que muitos repetem esse mesmo padrão de comportamento.

Pior que terceirizar seus problemas aos seres do imaginário coletivo é quando um grupo grande de pessoas começam a pensar que colocando “homens de deus” para ocupar cargos no congresso, nossos problemas sociais serão resolvidos (afinal, o que é um homem de deus? Em outro texto discutiremos se isso existe!).

Eles pensam que abrindo a bíblia no congresso todos os dias e lendo um texto, cantando um hino de louvor e depois fazendo um oração ao deus de sua crença e que tudo mais vai será resolvido! Até parece...se lessem a própria bíblia que afirmam ser sagrada, veriam que essa fórmula nunca funcionou nem com os que inventaram tais conceitos. Acham que falando um montão de bobagem publicamente a cerca desse deus, o teriam como objeto de uso particular e agora iriam viver tranquilos e sem problemas nenhum.

Porém, um ser incorruptível jamais se deixaria comprar com dancinhas, canções e adorações “baratas”, provindas de pessoas que agem por medo ou interesses pessoais no intuito de usar o “poder do sagrado” ao seu favor. Um justo juiz humano, mandaria prender qualquer um que com lisonjeio e barganhas pessoais tentassem mudar o veredicto de um caso em função própria. Seria a justiça do deus bíblico pior que a de um “juiz pecador” e humano?

Desesperados por conseguir soluções reais para problemas que foram causados justamente pela inercia coletiva e pela mania ruim de “entregar tudo nas mãos de deus”, muitos hoje se unem pelo conceito de “grande nação cristã”, como se fosse possível líderes que vivem como abutres surrupiando o poder, governar de modo justo esse grande povo só por que vivem repetindo o tempo inteiro frases como “deus acima de tudo”, “deus no comando sempre” ou “esse país é do senhor”. Leiam a bíblia e estudem a história secular e verifiquem por si mesmo que os períodos mais tenebrosos da história humana aconteceram justamente quando “deus” governava um povo.

Muitos fiéis afirmam que a oração de um cristão move a mão de deus em favor desse crente, incluindo anular dezenas de outras leis impostas por ele mesmo, só para “dar vitória” a alguns que com preguiça de trabalhar ou estudar, fazem da compra de bugigangas ungidas e pagamento mensal de 10% de seu faturamento, a garantia que terão um deus universal que será usado para interesses particulares, ou seja: pagam para se sentirem seguros em suas fantasias ao mesmo tempo que afirma de modo indireto que deus é corruptível.

Uma das maiores mentiras mais confortáveis que praticamente todos os que frequentam um igreja (ou acreditam em deus) costumam dizer a si mesmo e aos outros é: “deus estar conosco” ou “deus estar do nosso lado”. Todos os que dizem crer em deus fazem muito uso dessa citação como se ela realmente funcionasse.

Então você pergunta o porquê dessa afirmação e eles respondem: “Por que eu vou sempre a igreja”; “por que eu pago meus dízimos em dias”; “por que eu levantei a mão e aceitei a jesus como salvador”; “por que eu fui crismado”; “por que eu obedeço minhas lideranças cristãs”; “por que eu leio a bíblia”, etc, etc, etc...

Mais uma vez, mostram ainda que de modo indireto que afirmam ser possível manipular o aquele que dizem ser o mais justo do universo mediante uma certa quantia de dinheiro ou serviço prestados a ele.

Lembrando que o “termo deus estar conosco” quando empregado, geralmente o “nosco” refere-se apenas ao grupo congregacional qual a pessoa faz parte. Em outras ocasiões o “nosco” é usado também para dar a ideia de grande aglomerado de pessoas a exemplo da frase “somos um país de maioria cristã, deus estar conosco” ou “somos um grande povo de deus, ele estar do nosso lado!”.

Fora as ocasiões em que desejam exprimir a ideia de um grande aglomerado de crentes para intimidar as “pessoas sem deus”, o “deus conosco” vale somente para a referida igreja qual o sujeito estar inserido. Prova disto é que desde quando foi celebrado a primeira missa no brasil e católicos e protestantes passaram a explorar o solo brasileiro (além de se tornaram traficantes de pessoas para trabalho escravo), o que se vê é cristão tentando converter outro cristão ao cristianismo, como se esse não o fosse, ou cristão tentando reduzir as cinzas as ideias ou grupos inteiros de outros cristãos, como se estes também não o fossem crentes em um mesmo deus.

Uma pergunta surge então: qual a necessidade de todo dia abrir-se uma nova igreja evangélica (ou cristã de modo geral) no brasil para evangelizar o povo brasileiro, considerando-se que a grande maioria já se declara cristã? Não estariam estes todos já evangelizados? Todos esses não ouviram desde cedo que jesus é o seu salvador, e que o mesmo faz parte de uma trindade ou de uma trindade + Maria e uma infinidade de santos canonizados?

Mesmo que desejem negar, a conclusão é clara: igreja é empresa, ignorância é negócio e fé é uma fonte de lucro que pode ser explorado de infinitas maneiras e que o antídoto para esses males chama-se conhecimento!

Já se passaram 2 mil anos que “jesus” mandou pregar o evangelho, e apesar de quase metade da população mundial se declarar cristã, cada igreja que abre diariamente vê a necessidade de ré-evangelizar o mundo inteiro outra vez ao seu próprio modo.

Aqui no Brasil por exemplo, há denominações religiosas com apenas 20 membros e outras que afirmam ter 20 milhões de fiéis ou mais que isso, e tanto as pequenas quanto as grandes igrejas, todas elas afirmam que o mundo precisa ser evangelizado (de novo) para cumprir os mandamentos do senhor.

Todas elas vivem na infinita (e inútil) missão de converter pessoas cristãs ao cristianismo. Todo esse “trabalho” e toda essa “preocupação com as almas” são apenas meios de ganhar dinheiro, fama e poder. Ou esse evangelho para nada serve, ou poder de transformação prometido ao que cressem nesse nome nuca funcionou pois nunca, em canto nenhum do mundo se adquire caráter professando uma fé. Ou você o tem ou não o tem, e deus nenhum poderá te fazer uma pessoa melhor se você não o quiser.

Vejam que todo os dias pessoas são evangelizadas, convertidas, batizadas, “cheias do espirito”, “empurradas para um igreja”, dizem ter suas vidas “renovadas”, se declaram uma nova criatura e os resultados disso, o que vemos? Vemos o oposto daquilo que deveria ser de pessoas que se dizem ser cheias de luz, vemos o oposto de uma “nação de deus”.

Você também pode conferir estáticas tais como população carcerária de quase 1 milhão de pessoas (cristãs) e aumentando; no indicie de violência e homicídios nosso país estar entre os maiores do mundo; corrupção generalizada no congresso e em vários outros órgãos públicos e privados (de maioria cristã); a qualidade no ensino público estar caindo; o sistema de saúde deixando a desejar...e ainda dizem que bem aventurada é a nação cujo deus é o senhor!

Não parece cômico esse cenário? E a fé em deus pra que serve? E esse tal de “favoritismo sagrado” funciona mesmo? É possível melhorar um país só usando a fé? Dá vontade de rir, não é? É uma piada suja, cujo objeto de riso somos nós mesmos. Nos faz até lembrar a letra e tradução da célebre música, I started a joke...

O bom de se manter esse nível de padrão mental, é que tudo que por acaso der certo pode se dizer que foi deus confirmando que estar conosco. E quando algo dar errado pode-se dizer que foi o diabo quem atrapalhou os planos de deus, desse mesmo deus invencível, cujos planos jamais podem ser frustrados! Só pela fé mesmo pra entender essa última citação!

Fica difícil construir um senso de coletividade enquanto a ideia de “fazer média com deus” por atos de corrupção ainda for uma grande agravante no sistema.

Por que fazer algo para mudar a situação se tudo estar nas mãos de deus? Por que esperar algo melhor no futuro se o próprio cristo só pronunciou desgraças como prenúncios de sua vinda? Se tudo vai de mal a pior aqui tanto faz! Jesus está voltando e nosso lugarzinho nos céus estar garantido (esse é o pior de todos!)!

Quando o mérito e não a crença for a métrica principal para avaliar o “tamanho” dos cidadãos, quando o interesse coletivo superar os interesses meramente grupais e quando a ignorância deixar de ser o produto de maior valor comercial em nosso país, ai sim poderemos enxergar novos horizontes e as pessoas realmente bem intencionadas sairão de seus lugares reclusos e servirão de espelho para muitos outros que vive às cegas. Até lá teremos de ver “deus governando essa nação”.

Que pelo conhecimento todas as trevas sejam dissipadas. Saúde e sanidade a todos!

Texto escrito em 9/9/18

*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.

Ferreira Bispo
Enviado por Ferreira Bispo em 10/09/2018
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