La casa de papel
Estou adentrando o subterrâneo, escapando da superfície, digo ter certeza, mas, na verdade, estou perdida. Estou sentada num trono de ferro, fingindo estar confortável, mas o ferro está tão frio que quase perfura minha pele. Foram inúmeras derrotadas, e estou em tantos pedaços que montar torna-se uma tarefa árdua, como se tentasse montar Humpty Dumpty de volta, em estilo fúnebre.
Gastei meu vocabulário tentando corrigir, você gastou sua simpatia tentando consertar e está esquentando, e não só pelo calor que está fazendo hoje. Você está perto de encontrar o pote no fim do arco-íris sombrio, mas cuidado, pode ser brilhante, todavia por dentro há um buraco profundo.
Essa exposição causa uma sensação borbulhante dentro de mim, que cresce com as batidas do coração; me sentindo como um lobo que provou do sangue de galinha, estou perdendo o controle, talvez seja algum tipo de reação pavloviana.
É difícil dizer o contrário, é o mais sincero de mim, sou uma farsa feita de papel, frágil, com receios de ser rasgada, de ser molhada e desmanchar, de pegar fogo. As tentativas de salvação são falhas. Não sou a garota de auréola como insiste em dizer, ando disfarçada em pele de cordeiro escondendo um lobo maligno. Tenha medo, pois minha monstruosidade pode corromper seu caráter. Afinal, essa guerra começou com a derrota, manchando a alma.
E então, chegará a hora da partida, não posso ficar aqui, dessa forma, para sempre. O trem precisa seguir caminho, as paisagens precisam mudar. Vai me restar apenas o adeus. E se acostume com isso. Sou dessas de do nada sumir, e voltar quando o diabo sussurrar em meu ouvido.
By Alais R. C.