A “hipótese Deus”
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Não faz muito tempo que os cosmologistas começaram a aceitar a possibilidade de que o universo pode ser uma estrutura perfeitamente planejada e que ele está sendo construído de “certo modo”. A tese de que ele era estático e igual em toda parte passou a ser substituída pela ideia de um “ser” em constante evolução, onde as leis naturais funcionam como uma espécie de “constituição” reguladora desse processo.
Nesse sentido, esses cientistas começaram a considerar a possibilidade da chamada “Hipótese Deus”, admitindo finalmente a existência de uma Mente Universal na origem desse planejamento. Essas constatações têm sido facilitadas pelos modernos métodos científicos utilizados por esses estudiosos em suas investigações, que mostram, na organização estrutural da matéria física, uma perturbadora semelhança com a organização do próprio universo em sua estrutura cósmica. Com essas coincidências, perfeitamente prováveis por medições científicas, já não é mais possível admitir, de pleno, que o universo seja regido unicamente por leis mecânicas, sem uma Vontade a organizar esse processo, como antes se admitia no meio científico.[1]
     Hoje se sabe que o universo é constituído de tal modo que é difícil, se não impossível, pensar somente em uma ordem natural a gerir o processo da sua formação. Essa constatação é feita pelo fato de que se pode reconhecer, no processo de geração da matéria universal, a existência de três funções que seriam impossíveis de ser encontradas em uma ordem puramente mecanicista: a complexidade, que permite aos elementos componentes da matéria física se compor em graus de complexidade cada vez maiores; a mutabilidade, que permite a mutação gradativa de todos os seus componentes e a perenidade, que admite a mudança de sua estrutura sem, no entanto, eliminar suas propriedades particulares. Tudo isso só é possível na existência de um sistema perfeitamente planejado, como bem o definiu Mallowe.[2]
 

A ciência e a Bíblia
 

     Em um de seus mais interessantes trabalhos, o físico Stephen Hawking situa o início do tempo no momento de nascimento do universo conhecido, momento esse chamado de Big-Bang.[3] Assim, o tempo, para os cientistas, começou junto com o espaço e por isso o universo sempre é representado por duas linhas que começam em um ponto zero e se alongam na mesma proporção, em setas orientadas em duas dimensões: a dimensão do tempo, que nos faz pensar na eternidade e a dimensão do espaço, que nos faz pensar na infinidade.

                                        
     Quando se começa a especular sobre esse tema, surge a intrigante pergunta: Se foi Deus quem fez o universo, o que Ele era e o que fazia antes de começar a fazê-lo? Ele já existia antes disso? Ou Ele “nasceu” junto com o universo?
     “Há cerca de 15 bilhões de anos”, escreve Hawking " todas (as galáxias) teriam estado umas sobre as outras, e a densidade teria sido enorme. Esse estado foi denominado átomo primordial pelo sacerdote católico Georges Lemaiter, o primeiro a investigar a origem do universo que agora chamamos de Big-Bang.” A partir desse momento, segundo essa tese, o universo, que estava contido nessa região extremamente carregada de energia, tornou-se uma imensa
bolha de gás que nunca mais deixou de se expandir.[4]      
     A Bíblia, ao registrar esse fato, não é menos metafórica e misteriosa do que os compêndios científicos que procuram explicar como o universo nasceu. Ela fala que “no início Deus criou o céu e a terra. A terra, porém, estava informe e vazia e as trevas cobriam a face do abismo.” E então, do meio ás trevas Deus fez sair a luz. E Deus viu que a luz era boa e por isso a separou das trevas.[5]
O texto bíblico parece sugerir que Deus já existia antes de começar a fazer o universo. Assim, Ele não pode ser o universo, como sustentam os adeptos do panteísmo, que identificam Deus com a sua própria criação, como se esta fosse algo capaz de existir por si própria.
A Bíblia fala de Deus como o “Espírito que se movia sobre as águas.” Expressão enigmática que nunca pode ser explicada a contento dentro da lógica comum, já que, se o mundo ainda era pura trevas e a terra era informe e vazia, que “águas” eram essas sobre as quais o Espírito de Deus se movia? Pois, ao que parece elas já existiam antes de Deus separar a luz das trevas. Não obstante, a Bíblia nos dá uma identificação e uma ideia do que era Deus antes de começar o mundo: Ele era “Espírito”, seja qual for o significado que o cronista bíblico quisesse dar á essa expressão. Mas não responde á segunda pergunta: O que Ele fazia antes de começar o mundo?
 

“Existência negativa” e “Existência positiva”
 
Essas especulações se tornaram tão intrigantes que os próprios rabinos, comentadores da Bíblia, tiveram que quebrar a cabeça para responder á multiplicidade de perguntas que surgiram a esse respeito. Foi então que nasceu, entre esses mestres, a chamada Grande Assembleia Sagrada, que se refere a um grupo de rabinos que se dedicaram ao estudo da personalidade do Ser Supremo, sua natureza e seus atributos. Das especulações produzidas por esse grupo surgiu o Sefer Yetzirá, livro que contém os comentários rabínicos a respeito da formação do mundo através das manifestações divinas. [6]
Para responder á intrigante pergunta de quem era Deus e o que fazia antes de começar a fazer o universo físico, eles desenvolveram os conceitos de “Existência Negativa” e “Existência Positiva”.
Assim, “Existência Negativa” e “Existência Positiva” são termos utilizados pelos cultores da Cabala mística para designar Deus “antes” e “depois” de fazer o mundo. Nesse sistema, a essência de Deus (Ayn em hebraico), é visto como uma forma de "energia" latente, que em dado momento manifestou-se como realidade positiva (Ayn Sof, o Infinito); e a partir dessa manifestação transformou-se em pura Luz, (Ayn Sof Aur), que significa Luz Ilimitada.  Essa energia concentrou-se em um ponto luminoso, dando origem ao universo material, representado pela sefirá Kether. E daí espalhou-se pelo nada cósmico, em uma grande explosão de Luz (O Big-Bang).
    Essa visão mística do nascimento do universo também foi registrada no Zhoar com a misteriosa frase “antes que o equilíbrio se consolidasse, o semblante não tinha semblante[7]
Aqui está inserta a estranha idéia de que antes de fazer o mundo, ou seja, antes de Deus manifestar-se como existência no mundo das realidades sensíveis, Ele existia como potência, que embora não manifesta, já continha todos os atributos do universo manifestado. Ele era uma “Existência Negativa”, na qual a mente humana não pode penetrar justamente porque ela só pode conceber um plano de Existência Positiva, onde as ações podem ser identificadas e suas causas recenseadas. Ele era incognoscível, informe, inatingível, impossível sequer de ser imaginado. Ele era, no dizer do mestre Halevi, o universo absoluto antes de manifestar-se como universo relativo. Ou nos seus próprios dizeres: “A existência negativa é a zona intermediária entre a cabeça de Deus e a sua criação. É a pausa antes da música, o silêncio entre cada nota, a tela em branco antes de cada quadro e o espaço vazio pronto para ser preenchido. Sem essa não-existência nada pode ter sua essência. É o vazio, mas sem ele e seu potencial o
universo relativo não poderia se manifestar.”[8]
     Mas como podemos capturar uma realidade que está além da nossa capacidade de mentalização? Sabemos que ela existe porque suas manifestações emanam para o plano da realidade sensível e é causa de fenômenos observáveis e mensuráveis. Quem sabe o que é um elétron, por exemplo? Sabemos como ele se manifesta, como atua e até já aprendemos a usá-lo para as nossas finalidades, mas o que ele é nenhum cientista, ou filósofo, até agora, ousou definir. É nesse sentido que os cientistas falam do elétron como sendo a “torção do nada negativamente carregado”, expressão enigmática que sugere a existência de uma forma de energia que está além de toda realidade manifesta, mas que, no entanto, emite sinais detectáveis de sua existência pelos efeitos que projeta sobre a realidade observável.[9]
“Antes que o equilíbrio se manifestasse, o semblante não tinha semblante” é uma forma metafórica de explicar aquilo que a nossa linguagem não consegue articular num discurso lógico. Ou seja, que o universo já existia mesmo antes de ele ser manifestado, e que ele já estava perfeitamente planejado na Mente do seu Criador antes de ele se manifestar. Ele apenas não tinha forma e leis que regulavam seu desenvolvimento. Ele era Tohú (sem forma) e Bohú (vazio). Nessa locução, a terra é sinônimo do próprio universo.
A Cabala diz que quando Deus se manifestou como Existência Positiva (a sefirá Kether, ou a Singularidade do Big-Bang), o universo, que estava na sua Divina Mente, passou a existir, mas ainda não tinha uma forma. Pois como diz a Bíblia, “a terra (ou seja, o mundo) era informe e vazia”. E como dizem os cientistas, quando o universo saiu do Big-Bang, tudo era um caos. O Caos Primordial, dos filósofos gnósticos. Um todo informe. Para por ordem nesse caos, Deus criou as leis naturais. Uma lei para regular a expansão da matéria no vazio cósmico, que é a relatividade, e outra lei para organizá-la em sistemas, que é a gravidade. Assim a Cabala recorre á metáfora, ou ao símbolo, para dizer que Deus já existia antes de o universo ser “manifestado”. E que o universo também já existia antes de ser “organizado”.
Ou como diz Rosenroth “o universo inteiro é a vestimenta da Divindade: Ele não apenas contém tudo, mas também Ele mesmo é tudo e existe em tudo.” Essa é outra maneira de dizer que Deus, em sua Existência Negativa, é o “Espírito que se move sobre as águas” e na sua “Existência Positiva”, ele é o próprio universo embora com ele não se confunda essencialmente.[10]
 

O “parto de Deus”


 

      Outra visão dessa realidade pode ser posta em forma de analogia, seguida de um símbolo mediato. Os cultores da Cabala mística dizem que “Deus é pressão”, e que sua manifestação no mundo das realidades fenomênicas tem a forma de um círculo cujo centro está em toda parte e cuja circunferência está em parte alguma. Sabemos que todo círculo tem um centro e uma circunferência. O centro é o ponto de onde ele emana e a circunferência uma corda que o limita. Dizer que o centro do círculo está em toda parte e que sua circunferência está em parte alguma é falar de um espaço que não começa em ponto algum e não acaba em lugar nenhum, uma dimensão sem início nem fim. Ou como diz MacGregor Mathers, “O oceano sem limites da luz negativa não procede de um centro, pois não o possui. Ao contrário, é essa luz negativa que concentra um centro, a qual é a primeira das sefirot manifestas, Kether, a Coroa.” [11] 
Assim, essa noção cabalística da Divindade supre a necessidade que a mente humana tem de situar um início temporal para o universo e imaginar, não um fim para ele, mas uma finalidade. Destarte, a dimensão da Existência Negativa é um momento anterior á qualquer manifestação da Divindade no terreno das realidades positivas, ou seja, um estado latente de potência concentrada em si mesma, que em dado momento cedeu á “pressão” interna da sua própria potencialidade e “gerou um corpo material para si mesmo” e um espaço conceitual onde pudesse se manifestar.  
      Figurativamente, o Big-Bang seria o “parto de Deus”, o qual, simbolicamente poderia ser representado por um ponto dentro do círculo, como o faz Madame Blavatsky em sua cosmogonia da Criação e como é mostrado na figura acima. Ou como faz a Cabala com a representação simbólica através da sefirá Kether.                 
 Essa visão da Cabala sobre as origens e o desenvolvimento do universo físico encontra uma interessante correspondência nos cultores da teosofia e na cosmogonia védica, para quem, no início “Vixinu-Xiva estava em plena latência, prenhe de todas as suas vidas futuras”. Nessa concepção o poeta hindu descreve o momento em que Deus se manifesta no território das realidades positivas, figurando-o através da relação masculino-feminino, representado pelos deuses Vixinu-Xiva, que na tradição vedanta, são os responsáveis pelo surgimento do universo físico.
Na filosofia chinesa do Taoísmo também iremos encontrar um conceito análogo. No verso primeiro do Tao Te King, livro básico dessa antiga filosofia, Lao Tsé, escreve: “Uma via que pode ser traçada não é a Via Eterna, o Tao. Um nome que pode ser pronunciado, não é o Nome Eterno. Sem Nome está na origem do Céu e da Terra. Com Nome é a mãe dos dez mil seres. Assim, um Não-desejo eterno exprime sua essência, e por meio de um desejo eterno manifesta um limite. Ambos os estados coexistem inseparáveis e diferem apenas no nome. Pensados juntos, Mistério. Mistério dos mistérios, É o Portal de todas as essências”.[12] 
O Sem Nome é o Tao, princípio ativo que deu origem ao universo. Com Nome é o universo material que resultou da manifestação desse princípio. Os “dez mil seres” são o conjunto dos seres vivos em sua totalidade.
 

Os “sete mundos” da Cabala




Em todas as concepções cosmológicas urdidas pelos povos antigos o “Espírito de Deus” é visto como pura energia. E a sua manifestação no mundo das realidades sensíveis se dá em forma de luz. Assim, luz é o princípio básico de tudo que existe no universo.  Esse é um ponto em que todos os sábios da antiguidade concordam e a ciência moderna não refuta: o mundo físico é feito de energia que se condensa em massa quando ela é acelerada na velocidade da luz. Daí a equação de Einstein, enunciando a equivalência massa-energia, conhecida como teoria da relatividade: e = mc².
     Segundo a tradição da Cabala, a estrutura cósmica é dividida em sete esferas de manifestação energética da Divindade, que são os chamados mundos, Originário, Celestial, Elemental, Astral, Infernal, Inteligível e Temporal. Nós vivemos no mundo Temporal, limitados pelas linhas do espaço e do tempo, que formam a esfera do Inteligível. As demais esferas são espaços de manifestação divina (Originária), angélica (Celestial e Infernal) e espiritual (Elemental e Astral). Essas esferas de manifestação da energia criadora são etapas da construção universal, nas quais as diferentes entidades (ou leis naturais) interagem, dando origem ao universo real, em suas estruturas, física e espiritual. Dessa forma as populações, angélica e humana, são tidas como as efetivas construtoras do universo real (nele integrados tanto a matéria quanto o espírito), pois uns traçam os planos de construção (os anjos inspiram as ações) e os outros as executam (os homens, dando forma á realidade).
     Essa cosmogonia, desenvolvida principalmente nos trabalhos de Isaac Lúria e seus seguidores, vê a energia primordial (Deus) se contraindo em si mesma em um espaço conceitual tão pequeno que não pode mais se conter (Tzimtzum), e por isso vazou. Espalhou a luz liberta nessa explosão por sete esferas concêntricas que cabem, umas dentro das outras, mas cada uma com um espaço infinito, que se alarga a partir da pressão que vem de dentro e se massifica a partir da força que vem de fora. Em outras palavras, relatividade (a pressão que vem de dentro, a explosão inicial) e a gravidade (a força que vem de fora, dos próprios corpos formados, no seu sentido de união). É por isso que Leonora Leet vê na cosmogonia luriana um modelo intelectual satisfatório para compatibilizar a sabedoria arcana da Cabala com as teses defendidas pela ciência moderna.[13]
     É com esse mesmo sentido místico que Teilhard de Chardin desenvolve a sua tese evolucionista: “A ciência, em suas ascensões” e mesmo ─ como mostrarei ─ a Humanidade em sua marcha”, escreve esse grande pensador, “marcam passo neste momento porque os espíritos hesitam em reconhecer que há uma orientação precisa e um eixo privilegiado de evolução. Debilitadas por essa dúvida fundamental, as pesquisas se dispersam e as vontades não se decidem a construir a Terra. Gostaria de fazer compreender aqui por que é que, postos de lado qualquer antropocentrismo e qualquer antropomorfismo, creio ver que existem, para a Vida, um sentido e uma linha de progresso; ̶̶  sentido e linhas tão bem definidas até, quanto a sua  realidade, disso estou convencido ─ que serão universalmente admitidos pela Ciência de amanhã.” [14]
     Quer dizer, tudo faz parte de um plano previamente concebido pela Mente Universal e que está sendo meticulosamente executado.
 

O Grande Arquiteto do Universo
 

     Não é sem razão, pois, que a estrutura simbólica da Maçonaria tivesse sido desenvolvida em cima da tradição da arquitetura e que um de seus mais significativos símbolos seja a construção e a reconstrução do primeiro Templo de Jerusalém, o chamado Templo de Salomão. É que esse edifício, inspirado e orientado em sua construção pelo Grande Arquiteto do Universo, segundo a Bíblia, é o arquétipo fundamental que reflete a estrutura do próprio Cosmo. É um edifício que simboliza não só os planos de Deus para a arquitetura cósmica, como também a construção, a destruição e a reconstrução, ao longo do tempo, da própria humanidade, suscetível, em sua marcha evolutiva, á uma série de ascensões e quedas. Isso, pelo menos é o que quis nos fazer acreditar o Dr. Anderson em suas Constituições, no que foi seguido por uma plêiade de escritores maçons de orienta
ção mística.[15]
      A alegoria que mostra Deus como Grande Arquiteto e anjos e homens como seus mestres e pedreiros é uma clara inspiração cabalista, mas também foi utilizada por outros pensadores.  São Tomás de Aquino, por exemplo, usou a simbologia dos “anjos construtores” do universo para ilustrar seus pensamentos. Em sua obra mais conhecida, “A Cidade de Deus”, ele se refere a Deus como a “primeira causa do universo, aos anjos como a causa secundária visível e aos homens a sua causa final”. Todos trabalhando, em suas relativas esferas de ação, para construir o edifício universal. Como bem assinala Halevi, foi Tomás de Aquino que trouxe para o universo da lógica aristo-télica, na qual toda a teologia da Igreja medieval se fundamentava, a ideia de havia uma influência angélica no mundo das plantas, dos animais e dos homens, através de um fluxo intermitente de emanações. “Desse conceito cabalístico”, diz o citado autor”, “vieram as nove ordens de hierarquia da Igreja. Até os construtores das grandes catedrais foram influenciados. Erigidas por pedreiros que se baseavam no Templo de Salomão, o lado oeste de cada igreja possuia duas torres representando as colunas gêmeas de cada lado do véu do Templo”.[16]  
     Eis aí, portanto, a Cabala ditando sabedoria a um doutor da Igreja e servindo de inspiração aos maçons medievais, de quem a Maçonaria moderna emprestou a forma e a estrutura da sua Organização.
    Assim, em analogia á visão cabalística do nascimento e desenvolvimento do universo, poderíamos dizer que o Big-Bang dos cientistas equivale ao momento em que Deus “separou a luz das trevas”, ou seja, o momento em que o Grande Arquiteto iniciou a construção do mundo físico, na tradição maçônica. As fases posteriores dessa construção se desenvolvem segundo um plano de evolução, que na Cabala é retratado na Árvore da Vida e na ciência moderna nas diversas tentativas dos cientistas de integrar em uma teoria as descobertas já realizadas nos campos da física, da astronomia, da química e da
biologia, e assim, construir, como diz Hawking, uma teoria do tudo.[17]
Essa visão está na base da formidável especulação que a inteligência dos sábios rabinos de Israel concebeu e que a sensibilidade mística dos espíritos que não se contentam em viver no estreito território que a línguagem lógica nos obriga a permanecer, adotou.  Entre estes estão os maçons espiritualistas, que vêem na sua Arte muito mais do uma mera prática social derivada de uma tradição que incorpora ideais estéticos, filosóficos, sociais e especulações metafísicas.
     O conceito de Deus como sendo um arquiteto tem sido empregado em muitos sistemas de pensamento e o Cristianismo místico o tem adotado em várias de suas manifestações. Ilustrações da Divindade como o Grande Arquiteto do Universo podem ser encontradas nas nossas Bíblias desde os primeiros séculos da Idade Média e tem sido regularmente empregadas pelos doutrinadores cristãos de todas as tendências.
Na Cabala, como já foi dito, os planos de construção do universo e o seu resultado são demonstrados nos chamados Quatro Mundos da Criação e no desenho mágico-filosófico da Árvore da Vida, ou Árvore Sefirótica, símbolo de extraordinário conteúdo esotérico, que se presta às mais diversas analogias e ilações, unindo a mística das antigas religiões do Oriente com as modernas descobertas da física atômica.[18] E que, por uma estranha coincidência, é reproduzida na planta do Templo maçônico, como veremos nos capítulos finais deste trabalho.
 ( DO LIVRO MAÇONARIA E CABALA- MADRAS, 2018)

[1] Como Pierre Simon de Laplace (1749-1827), o grande matemático, astrônomo e físico francês, por exemplo, para quem Deus era uma hipótese perfeitamente desnecessária.
[2] Eugene Franklin (1947 – 2004) The Quickening Universe –St Martins Pr. 1º edition, 1987.
[3] Stephen Hawking- Uma Breve História do Tempo- Círculo do Livro, 1988.
[4] Stephen Hawking- O Universo Em Uma Casca De Noz, cítado, pg. 22.
[5] Gênesis, 1: 3.
[6]. A Cabala e Seu Simbolismo, citado, pg. 202.
[7] Idem, pg. 65.                                                                   
[8] Shimon Halevi- A Árvore da Vida-Cabala, citado, pg. 25.
[9] Essa definição foi dada pelos cientistas Léon Brillouin e Robert Andrews Mullikan, cf. Pawels e Bergier, citado.
[10]  A Kabbalah Revelada, op. citado, pg. 63.
[11] Citado por Dion Fortune- Cabala Mística, pg. 36;
[12] LaoTsé- Tao Te King- tradução de Marcos Marinho dos Santos-Attar Editorial- São Paulo 1995
[13] A Kabbalah da Alma, citada, pg. 33.
[14] O Fenômeno Humano, op. citado, pg. 160.
[15] Cf. Alex Horne- O Templo de Salomão na Tradição Maçônica- Ed, Pensamento, 1972.
[16] A Árvore da Vida-Cabala, op citado, pg. 17.
[17] O Universo Numa Casca de Nóz- citado.
[18] Na Imagem, Deus, o Grande Arquiteto, traça os planos do Universo. Gravura de Willian Blake- O Ancião dos Dias. Galeria de Arte Huntington- Inglaterra. Fonte: Jung e o Tarô, Sallie Nichols.