Amor não correspondido
Não precisa mais sorrir, muitos menos me fazer juras de amor, como se correspondessem à realidade, sei que são palavras do mais absoluto fingimento. O sorriso hoje negado se transformará em extrema dor, pois meus lábios sequer se abrirão para uma palavra de atenção, quanto mais para sorrir.
Meus braços, que tantas vezes se estenderam em busca dos seus, retraídos estão, trancados, como se estivessem defendendo o peito que abriga o coração ressentido.
Meus olhos, que antes eram vivazes, crendo na possibilidade de passear nos seus olhos, hoje são cinzentos e lacrimejantes, sem uma única tonalidade de luz.
Meus ouvidos, que costumavam ouvir as mais belas sinfonias da vida, hoje escutam o triste lamento da sucessão dos dias.
A única vez que provei do seu beijo, foi para saber a diferença entre o mel e o fel. O mel de seus lábios é uma lembrança antiga, o fel da minha boca é um momento presente.
Sinto a flacidez da minha pele, sinal do envelhecimento em cada centímetro do meu corpo; o cansaço me prostra, meus pés se arrastam. Vou vivendo por aí, como um fantasma no deserto; à noite me recolho, na fria indiferença das minhas lembranças.
Assim, deixarei à mingua esta razão que não me aceita, este sorriso que me é negado. Que morram de fome minhas esperanças, que vazias se tornaram. E que nunca haja quem sequer me lance um olhar de misericórdia, pois padeço a porta do paraíso, onde basta uma palavra sua para que seja mudada à minha sorte.