O lado bom
Às vezes tudo que precisamos é se cansar – somente assim a gente esquece certos desgastes que flui dum dia tedioso. Dizer-se cansado de certas coisas que não prospera, dizer-se cansado de estar só com esperas inúteis, e buscar alternativas, ainda que sejam paliativas, mas que pelo menos canse de fato, tipo uma corrida, umas pedaladas na bicicleta ou mesmo uma doce caminhada.
Foi assim comigo hoje à tarde, resolvi largar tudo que estava fazendo sem grandes pressas e tentar me cansar de fato. Vesti-me a rigor, peguei o carro, selecionei as músicas que gosto de ouvir aleatoriamente e disparei rumo a qualquer lugar que fosse uma estrada.
Logo, algo em mim se modificou, a tarde estava um espetáculo, céu de brigadeiro, sol brilhante, nuvens encantadas, rumando aos seus destinos, sabe Deus pra onde e um vento a galope, fazendo acordes com o tilintar das arvores. Fiquei pensando, por que não faço isso mais vezes, - alguém tem ideia do que é ouvir Scorpions “Still Loving you” com decibéis altíssimos a mais de cem por hora, é simplesmente glorioso.
Assim, tudo o que não tinha era pressa de chegar ao meu destino à ponta negra, resolvi enveredar pelas novas ruas que levam a alguns pomposos condomínios, como são lindas e que paz pode-se sentir por ali, a velocidade no carro já não mais condizia com toda aquela beleza, mas as músicas sim – nossa! Como meu pensamento voou como estive longe.
Já não estava com tanta certeza que queria mesmo caminhar, mas olhando o calçadão e as várias pessoas se distraindo, caminhando, conversando, algumas com carrinhos de bebês, outras de mãos dadas, outras correndo, crianças se danando e o Sol encantador se despedindo na ponta do rio, - deixei a dúvida de lado e fui pro meio de todos, também ser feliz como eles estavam.
Caminhar na praia de tênis é fazer maldade com os pés, dava pra sentir sua repulsa querendo melar-se entre aguas e areias, pensei em tirá-los, mas desisti pensando no trabalho que seria calçá-los novamente, fiquei devendo isso a mim mesmo.
Andando e observando era o que eu estava fazendo, é incrível a diversidade de comportamento das pessoas únicas como todas são, de gestos e modos bem peculiares, - na praia alguns casais namoravam descontraídos outros se fotografavam sem a menor importância se eram feios ou bonitos.
Resolvi comprar agua pra beber, vi entre os vendedores o que mais me atraia para a preferencia da compra; tinham dois se protegendo do sol sem fazer nada e um com gestos de esperto, mexia e remexia seu carrinho, embora já estivesse arrumado; pela curiosidade fui até ele. Eu perguntei – a água está bem gelada? Ele disse – sim, vou pegar a melhor pro senhor e enfiou a mão até o fundo, eu imaginei – é pra me dar mais segurança. Paguei e fui embora.
Mais na frente um cheiro incrível de pipoca me despertou a gula, parei e abordei a moça por um pacotinho e falei: - por duas coisas eu seria facilmente envenenado pipocas e pudins, nesse instante eu senti um olhar ciumento do rapaz que estava com ela, provavelmente seu marido, mas pensei: o que há demais falar com alguém ainda que seja uma mulher? Resolvi pensar pelo lado bom, pela mulher naturalmente: - É tão lindo quando se descobre que alguém sente ciúmes da gente, é ou não é?!
Foi então que notei que tinha esquecido minha toalhinha onde comprei a agua e voltei pra ir buscar. Pensei, - ele deve ter guardado, não pelo troco que eu não quis, mas por ofício – me enganei, o cara já a estava usando pra limpar suas coisas, apenas olhei, ele ficou amarelo e eu fui embora. Mas deixa pra lá, pelo menos é algo que eu tenho pra contar; o cara é esperto, tem cortesia, mas não tem honestidade, não vale nada.
Continuei caminhando e no sentido contrário vinha um contemporâneo acenei um cumprimento, mas ficou por isso mesmo, não me reconheceu ou sentiu-se muito superior, não sei, fiquei triste - por que as pessoas não se acenam pelo menos? Mas voltei a pensar pelo lado bom: ele deve estar construindo um poema e não quer interrupções, tudo bem.
Um pouco mais na frente com vistas para o rio tinha uma moça muito bonita, bem vestida e outra que lhe tirava as fotos, dava pra notar a inferioridade e também os caprichos da fotografada a mocinha já estava cansada e dizia tá bom, mas a outra a castigava e eu apenas ria. Fiquei pensando onde estaria o lado bom daquilo... - a vaidade natural das pessoas, talvez!
Também observei no indo e vindo de pessoas “as que mais te reprovam um olhar são as que primeiro te olham, feias em particular”, embora entenda que não existem pessoas feias; já cansado sentei-me num banquinho, continuei comendo a minha pipoca e com uma vontade imensa de ficar por ali até bem mais tarde, embora sozinho.
Lembrei-me por fim de uma frase: “Sou pra mim mesmo a minha melhor distração, nunca estou sozinho”.
É isso.
Às vezes tudo que precisamos é se cansar – somente assim a gente esquece certos desgastes que flui dum dia tedioso. Dizer-se cansado de certas coisas que não prospera, dizer-se cansado de estar só com esperas inúteis, e buscar alternativas, ainda que sejam paliativas, mas que pelo menos canse de fato, tipo uma corrida, umas pedaladas na bicicleta ou mesmo uma doce caminhada.
Foi assim comigo hoje à tarde, resolvi largar tudo que estava fazendo sem grandes pressas e tentar me cansar de fato. Vesti-me a rigor, peguei o carro, selecionei as músicas que gosto de ouvir aleatoriamente e disparei rumo a qualquer lugar que fosse uma estrada.
Logo, algo em mim se modificou, a tarde estava um espetáculo, céu de brigadeiro, sol brilhante, nuvens encantadas, rumando aos seus destinos, sabe Deus pra onde e um vento a galope, fazendo acordes com o tilintar das arvores. Fiquei pensando, por que não faço isso mais vezes, - alguém tem ideia do que é ouvir Scorpions “Still Loving you” com decibéis altíssimos a mais de cem por hora, é simplesmente glorioso.
Assim, tudo o que não tinha era pressa de chegar ao meu destino à ponta negra, resolvi enveredar pelas novas ruas que levam a alguns pomposos condomínios, como são lindas e que paz pode-se sentir por ali, a velocidade no carro já não mais condizia com toda aquela beleza, mas as músicas sim – nossa! Como meu pensamento voou como estive longe.
Já não estava com tanta certeza que queria mesmo caminhar, mas olhando o calçadão e as várias pessoas se distraindo, caminhando, conversando, algumas com carrinhos de bebês, outras de mãos dadas, outras correndo, crianças se danando e o Sol encantador se despedindo na ponta do rio, - deixei a dúvida de lado e fui pro meio de todos, também ser feliz como eles estavam.
Caminhar na praia de tênis é fazer maldade com os pés, dava pra sentir sua repulsa querendo melar-se entre aguas e areias, pensei em tirá-los, mas desisti pensando no trabalho que seria calçá-los novamente, fiquei devendo isso a mim mesmo.
Andando e observando era o que eu estava fazendo, é incrível a diversidade de comportamento das pessoas únicas como todas são, de gestos e modos bem peculiares, - na praia alguns casais namoravam descontraídos outros se fotografavam sem a menor importância se eram feios ou bonitos.
Resolvi comprar agua pra beber, vi entre os vendedores o que mais me atraia para a preferencia da compra; tinham dois se protegendo do sol sem fazer nada e um com gestos de esperto, mexia e remexia seu carrinho, embora já estivesse arrumado; pela curiosidade fui até ele. Eu perguntei – a água está bem gelada? Ele disse – sim, vou pegar a melhor pro senhor e enfiou a mão até o fundo, eu imaginei – é pra me dar mais segurança. Paguei e fui embora.
Mais na frente um cheiro incrível de pipoca me despertou a gula, parei e abordei a moça por um pacotinho e falei: - por duas coisas eu seria facilmente envenenado pipocas e pudins, nesse instante eu senti um olhar ciumento do rapaz que estava com ela, provavelmente seu marido, mas pensei: o que há demais falar com alguém ainda que seja uma mulher? Resolvi pensar pelo lado bom, pela mulher naturalmente: - É tão lindo quando se descobre que alguém sente ciúmes da gente, é ou não é?!
Foi então que notei que tinha esquecido minha toalhinha onde comprei a agua e voltei pra ir buscar. Pensei, - ele deve ter guardado, não pelo troco que eu não quis, mas por ofício – me enganei, o cara já a estava usando pra limpar suas coisas, apenas olhei, ele ficou amarelo e eu fui embora. Mas deixa pra lá, pelo menos é algo que eu tenho pra contar; o cara é esperto, tem cortesia, mas não tem honestidade, não vale nada.
Continuei caminhando e no sentido contrário vinha um contemporâneo acenei um cumprimento, mas ficou por isso mesmo, não me reconheceu ou sentiu-se muito superior, não sei, fiquei triste - por que as pessoas não se acenam pelo menos? Mas voltei a pensar pelo lado bom: ele deve estar construindo um poema e não quer interrupções, tudo bem.
Um pouco mais na frente com vistas para o rio tinha uma moça muito bonita, bem vestida e outra que lhe tirava as fotos, dava pra notar a inferioridade e também os caprichos da fotografada a mocinha já estava cansada e dizia tá bom, mas a outra a castigava e eu apenas ria. Fiquei pensando onde estaria o lado bom daquilo... - a vaidade natural das pessoas, talvez!
Também observei no indo e vindo de pessoas “as que mais te reprovam um olhar são as que primeiro te olham, feias em particular”, embora entenda que não existem pessoas feias; já cansado sentei-me num banquinho, continuei comendo a minha pipoca e com uma vontade imensa de ficar por ali até bem mais tarde, embora sozinho.
Lembrei-me por fim de uma frase: “Sou pra mim mesmo a minha melhor distração, nunca estou sozinho”.
É isso.