Os brasileiros e a vazia crítica à violência
Sejamos sinceros. A violência é algo que nos fascina e chama a atenção, mesmo sendo desprezível e condenável. E, historicamente, somos seres violentos e brutais, não necessariamente essa violência expressa em atos corriqueiros como assassinatos, estupros e conflitos braçais. Somos mais que isso. Conseguimos ser violentos de forma grosseira e sofisticada ao mesmo tempo. Nesse quesito, atingimos uma medida única, um comportamento singular que fariam impérios, sociedades pagãs e bárbaras se aterrorizarem diante dessa dialética bizarra. Somos especialistas em humilhar o outro para engrandecer nosso ego. Temos doutorado em corrigir publicamente um de português do amigo(a), ou em apontar o deslize de um palestrante, mesmo tendo ciência do constrangimento desnecessário que isso causa a uma pessoa que está ali, diante da plateia, às vezes dando o melhor de si. É cruel, frio, indelicado e monstruoso. Contudo, gostamos mesmo é do cheiro doce das hemácias. Não é à toa que apreciamos o Boxe*, UFC*, Brigas de galo ou aquele evento em que derrubam e maltratam os bois(Vaquejada? não sei o nome dessa prática abjeta). Assistimos a programas policias(mesmo os criticando) não porque buscamos informações ou estamos preocupados com os mortos da periferia(na maioria pretos e pobres), mas porque somos curiosos e temos sede de sangue e faro por morte. Nós nos rastejamos como ratos à procura dela, ainda que a temendo como covardes e mesquinhos.
A violência simbólica, em suas variadas manifestações, que se diferencia substancialmente da física, não fica atrás. Somos PHD nela. Mostramos ao mundo, para nossa vergonha, que usar uma camisa ostentando um racismo às avessas(delírio de uma subcultura política rasteira) é atitude de orgulho e ostentação. Não meus caros. A violência simbólica machuca a alma, traumatiza vidas, cicatriza o coração e deixa marcas indeléveis no outrem.
O Brasil, por suas particularidades sociais, sociológicas e históricas, consegue, com proeza exclusiva, orgulhar-se de ter uma posição privilegiada em todos os níveis de violência estudados e catalogados por especialistas e leigos. País igual não existe.
* Observação: aqui não é uma crítica às artes marciais em geral, por quais nutro grande admiração, sobretudo pela filosofia milenar que as fundamenta. Só ao Boxe e aos torneios(legais ou clandestinos) de luta livre e ao UFC. Barbáries infantis(na minha opinião)(aqui há um pleonasmo. A barbárie, em si, é um tipo de infantilidade civilizacional)