Sucesso: qualidade e acaso
O livro Story é considerado a bíblia dos roteiros de Hollywood. Nele Robert McKee defende que o há escassez de bons roteiros e que o que se produz são os melhores roteiros que chegam a Hollywood. Vemos uma miríade de filmes ruins. Por um lado o filmes de “sucesso garantido” apresentam filmes espetáculo com uma grande cadeia de causas e consequências, filmes cheio de reviravoltas e personagens ambíguos. Por outro vemos filmes retrato, filmes que ilustram uma série de fatos de maneira ubíqua. Tanto o filme espetáculo (comum a Hollywood) quanto o filme retrato (comum ao cinema europeu) se tornam triviais, insípidos se deixam escapar a verdade subjacente à história. Portanto, defende McKee, devemos estudar as técnicas de roteiro para criarmos histórias dignas de serem contadas.
O livro Hit Makers conta uma história bem diferente. Mostra que o sucesso é fruto de produtos com qualidade (como defende McKee), mas a qualidade está longe de ser suficiente. Derek Thompson mostra que o sucesso é, em grande parte, fortuito. Em cada produtora poucos filmes produzem o lucro que patrocina o prejuízo da grande maioria dos filmes (80% deles dão prejuízos). Nenhum produtor de Holywood sabe ao certo quais filmes financiarão todos os outros. O mercado de livros é ainda mais concentrado: ainda menos livros dão lucro e o lucro deles é proporcionalmente maior. Derek Thompson elenca diversos casos de pessoas que tiveram sucesso. Umas poucas tiveram rapidamente. Justin Bieber tinha a sorte de ter cinco amigos muito influentes, um deles o maior produtor musical dos EUA. Na maioria das vezes, mesmo com a qualidade do trabalho, o acaso demora a desempenhar seu papel benéfico. O autor da obra precisa se dedicar muito para dar chance ao acaso.
A qualidade da obra vem do estudo, claro. Um pintor cheio de referências, que entende proporção e teoria das cores certamente tem mais condições de fazer uma grande obra. Mas nem com todo conhecimento teórico é possível criar uma obra sem um outro tipo de conhecimento. Existe um conhecimento que se alcança com uma abordagem gradual dos problemas que a prática apresenta, um tipo de conhecimento impossível de se apreender apenas com a teoria. Apenas a prática nos dará o conhecimento heurístico, aquela intuição que funciona como um termômetro para a nossa ação.
Isso que me entusiasma na oficina audiovisual galáctica. A possibilidade de explorar a teoria e o que vai além dela, o que se apreende na prática: o conhecimento heurístico. Como defende Robert Mckee o sucesso vem (ao menos em parte) da qualidade da obra. Como mostrou Derek Thompson o sucesso também vem do acaso. Mas de onde vem a qualidade da obra? Vem da dedicação do artista. De onde vem o acaso? De qualquer direção, mas certamente trabalhar mais tempo em mais obras dá mais chance ao acaso. Derek Thompson e Robert McKee falam do sucesso comercial. Acredito que isto se deve apenas a um motivo: ele é mensurável. Mas cada um de nós aspira o sucesso ao público que lhe convém: ante a si, ante a quem está ao lado, ante o mundo. Sucesso para nós!