Sinais de Deus...
Já com o outono se mostrando, numa noite como outra qualquer, caminhava falando aos céus, angustiado, ansioso, clamando se lhe ouviam alguns daqueles tais anjos guardiões que sua mãe, insistente, afirmava.
- Meu filho, Deus tem seus anjos, seres de luz que protegem e amparam as pessoas.
Serena, mas assertiva, dizia.
- Confie sempre nos Anjos Guardiões, sentinelas a serviço de Deus que ainda poucos acreditam, reconhecem, enxergam ou lhes ouvem qualquer sussurro, mesmo neles tangendo várias vezes num único dia.
- Há alguns desses Anjos entre nós, de carne e osso, aparecem do nada quando estamos mais precisados, como se caíssem dos céus, depois, parece que somem de nossas vidas, reaparecendo do nada quando de novo estamos caídos.
Desde pequena, vinda de família pobre, extremamente simples e com uma história de muitas dificuldades, afirmava.
- Dia e noite esses Anjos estão atentos em todas súplicas e reclamos, sem distinção alguma de pessoas de todos os credos, ou daquelas que sequer acreditam na existência do Criador nesse planeta de muito sofrimento, mas repleto de muito amor.
Ao longo de sua vida, já com 85 anos, lúcida, com memória invejável, dizia ela que fora testemunha de mães e pais, dos simples e humildes aos mais abastados e com fartura que, em desespero, diante de doenças e da morte, ficavam parecidos nesses momentos, alguns em aceitação e compreensão das razões dos infortúnios na Terra, mas também outros, em prantos inconformados, questionavam um Deus que permitia aparentes injustiças e sofrimentos.
- Meu filho, se você enxergar a vida de agora como única terá uma ideia estreita das desigualdades enormes na face da Terra, de criancinhas nascidas com doenças incuráveis que morrem pequeninas, ou mesmo de outras que perecem no ventre materno, de gente que passa fome, frio e sede todos os dias, sobreviventes de tragédias, quando milhares se vão e os que ficam perdem tudo que possuíam e precisam recomeçar com pouca ou nenhuma ajuda.
Paciente, sempre que o filho levantava a voz para se queixar, ela repetia.
- Calma, quando admitimos que precisamos de ajuda, rogando a Deus com fé e humildade, nossos pedidos abrem caminhos pelos céus e encontram esses Anjos de prontidão, os quais tentam nos intuir, não há gente com má sorte ou reféns de um imaginário destino de sofrimentos sem fim.
Conhecedora das palavras de Chico Xavier, procurava incentivar a todos que lhe pediam conselhos ou ajuda.
- O Chico foi um homem santo, um dos Anjos de carne e osso, que nos ensinou que não temos como voltar no tempo e recomeçar, mas podemos retomar de um determinado marco de nossas vidas, buscando um fim diferente daquele que sempre perseguiu as mentes de pessoas que nunca vislumbraram a oportunidade de ter um final melhor que não os mesmos de seus pais ou antepassados, mas não há sina que resista a um coração que crê em Deus, nosso Pai Maior.
O filho, ainda caminhando e meio que perdido em sua busca por respostas, passa sob uma árvore, lhe cai dela sobre o ombro direito uma e apenas uma folha ainda verde que, em seguida, chega ao chão, quando observa, agora com atenção, em fila, centenas, milhares de formigas indo para uma toca logo à frente, todas carregadas de pedacinhos de folhas e gravetos, algumas delas, rápidas, em trabalho frenético, começam a retalhar aquela folha caída e outras formigas mais se juntam, cada uma com tarefa precisa e definida.
Sente agora uma brisa fria, em seguida vê de relance um morcego, com mais atenção um chirriar de coruja, um gato atento a uma saída de um bueiro, ouve ao longe o choro de uma criança, um andante idoso e maltrapilho que se aproxima e lhe pede uma ajuda qualquer porque está com fome, enquanto um jovem, com fones de ouvido, que vinha correndo, fazendo exercícios, para e avisa.
- Oi moço, conheço o tio aí, gente boa, se puder ajuda.
Em seu bolso, de propósito escondido, toca o celular.
- Meu filho, não demore, venha logo para o jantar, fiz aquela sopa que você queria.
Aprisionados em nossas rodas-vivas, não nos apercebemos de centenas de pequenos fatos ao nosso derredor, para a maioria são meras coincidências irrelevantes, para outros são sinais de Deus.
Paulo Afonso Barros