A ELETIVA “ESPELHOS” E O PROTAGONISMO JUVENIL

Gosto da concepção da escola de tempo integral; do currículo diferenciado; da ideia de o aluno passar mais tempo na escola e, assim, ter mais oportunidade de aprendizagem e interação com os colegas e professores. É fascinante a proposta da prática docente preocupada com projeto de vida e protagonismo!

Dentro dessa proposta, Ferreira Júnior, professor da Escola Municipal de Tempo Integral Professor José Júlio da Ponte, unidade da rede municipal de ensino de Fortaleza, trabalhou a Eletiva “Espelhos”, inspirada em meu livro que tem o mesmo nome. A disciplina ofertada, que contou com a adesão de alunos de 6º e 7º ano do ensino fundamental teve, em sua composição, atividades que estimularam o autoconhecimento, a construção da identidade, a autonomia e a interação social, dentre outros aspectos. A proposta didático-pedagógica incluía atividades artístico-culturais e o “encontro com a autora do livro ‘Espelhos’, Maria Celça”.

Graças à iniciativa do meu amigo e ex-professor, vivi um dos momentos mais especiais de minha existência com seus pequenos e talentosos protagonistas. Cada segundo que estive naquela sala valeu a pena. Uma energia muito boa! Apesar da idade, os alunos, comportadinhos, me ouviam atentamente falando da minha experiência como escritora. Foi um bate-papo bastante proveitoso e, para mim, gratificante. Ganhei o dia!

Fiquei impressionada com a fala daquelas pessoinhas, com postura madura, de quem pode sonhar e, principalmente, realizar! Samira, uma criatura linda, de jeitinho meigo e encantador, recitou uma poesia feita por ela, a coisa mais linda do mundo! Outra aluna, a Kethellen, fez a leitura de sua biografia, também produzida por ela. Aquilo tudo me deixou muito feliz.

Uma situação, em especial, me atingiu direto na alma: Amanda, uma das estrelinhas daquela turma, ao falar sobre sua experiência com a disciplina, emocionada, disse que tinha gostado muito do livro porque ele lhe trazia fortes recordações. Sua voz foi se perdendo... Ela chorou.

E naquele clima de respeito, amor e aceitação, percebi a confiança que há entre os componentes daquele grupo. O choro da pequenina pode representar muita coisa: carência, perda, incompreensão, incerteza, medo, dificuldades em casa... Por isso cada vez mais gosto da proposta das eletivas voltadas para o desenvolvimento humano. Elas oportunizam aos alunos serem enxergados e ouvidos, no que eles são. Eles precisam se sentir gente, precisam ser amados. Têm necessidades que desconhecemos e, às vezes, necessitam de ajuda.

O modelo de escola que, infelizmente, se repete, em que predominam os comandos do professor, fazendo uso abusivo do imperativo (‘abram’ o livro, ‘façam’ a atividade, ‘terminem’ em casa, ‘comportem-se’, ‘anotem’ aí, ‘estudem’ pra prova, etc.,) desmotiva e, mais que isso, acaba afastando sua razão de ser: o aluno.

É indiscutível a importância do ensino da Língua Portuguesa, Matemática, História, Geografia e de todas as outras disciplinas da matriz curricular. No entanto, a escola, cada vez mais, precisa atrair o interesse dos alunos, precisa alcançar o universo deles, buscar maior proximidade, libertando-se do livro didático utilizado, em geral, como o único recurso. Imagina o drama que é estar preso numa escola, durante horas, para seguir comandos, fazendo atividades sem significado aparente pra vida! O papel da escola, portanto, é cada vez mais desafiador e requer boa vontade, e, acima de tudo, sensibilidade dos agentes envolvidos, em especial o professor.

Nesse contexto, as disciplinas eletivas, enquanto complemento no processo formativo, podem contribuir muito para a mudança necessária, mas todas as disciplinas do currículo deveriam ter repensadas as propostas didáticas e a forma da abordagem dos conteúdos, sem negligenciar nenhum deles, mas criando um ambiente capaz de seduzir e encantar o aluno, assim como a eletiva do professor Ferreira Júnior o fez. O resultado, pelo que vi e senti, é o envolvimento e o compromisso dos alunos com a aprendizagem, o que significa ganho para todos.

Por mais professores que inovam e por mais projetos voltados para a humanização nas nossas escolas, fica aqui o meu registro.