PORQUE O FEMININO É SAGRADO
(UMA HOMENAGEM Á TODAS AS MÃES)
“E da costela que tinha tirado de Adão, formou o Senhor Deus uma mulher; e a levou a Adão. E Adão disse: eis aqui agora os ossos dos meus ossos e a carne da minha carne (...)”. Gênesis, 2;22.
O masculino e o feminino
E no princípio Deus fez o céu e a terra,
Pela potência da sua Vontade exercida.
Para dar sentido ao que nela se encerra,
Povoou-a com diversas formas de vida.
Foi assim que se formou o reino animal,
Com criaturas da terra, da água e do ar;
E para dar remate a essa obra magistral,
Ele fez o homem, sua criatura modelar.
Do pó da terra elevou o homem Adão;
Com um sopro fez dele um ser vivente.
Multiplicar-se lhe foi dado por missão;
E para garantir a produção do resultado,
Fez a mulher, a criatura surpreendente,
Que todo homem necessita ter do lado.
O “parto de Deus”
Para a ciência, o nosso universo nasceu no Big Bang, a grande explosão que deu origem a tudo isso que vemos, ouvimos e sentimos. Explosão de que? De um corpo celeste que concentrava uma inimaginável quantidade de energia, tão densamente carregado, que não podendo suportar a pressão interna da sua própria carga energética, “derramou-se” para fora de si mesmo.
Essa é uma interessante metáfora para figurar um evento que talvez jamais venhamos a saber como efetivamente ocorreu. Mas, falando assim, dá para lembrar um parto. Uma criança nasce quando chega a hora. Quando a pressão que ela faz no útero da mãe chega ao ponto em que não pode mais continuar dentro dele.
A ideia do Big-Bang é interessante, mas não é de modo algum original, nem pode ser considerada como uma descoberta científica. Há muito que os sábios cabalistas, os filósofos taoístas, os cultores da cosmogonia vedanta e os filósofos gnósticos já vinham dizendo isso. Que o universo "nasceu" de uma certa maneira. Semelhante á que Deus criou para as espécies vivas.
Nesse sentido, um cientista não é menos imaginativo do que um astrólogo egípcio, dois mil antes de Cristo, que via o universo nascendo de um ovo, (o ovo cósmico) ou um poeta hindu do século III a C, que dizia que “antes da sua forma atual, Vixinu-Xiva descansava no nada cósmico, prenhe de suas múltiplas vidas”. Ou então do sábio cabalista que, perguntado sobre o que era Deus, respondeu simplesmente: Deus é pressão.
Que corpo era esse que explodiu e que energia era essa que espalhou-se pela escuridão cósmica, ninguém foi ainda capaz de definir. Os cientistas chamam esse corpo de Singularidade, e à energia que o vivifica de ondas e partículas, que recebem nomes estranhos como quarks, elétrons, fotons, bósons etc. Os livros religiosos chamam esse "corpo de Deus" e á energia que ele expeliu, de luz. Veja-se, por exemplo, a descrição que a Bíblia dá ao fenômeno da criação do universo físico. “No princípio criou Deus o céu e a terra. A terra, porém estava informe e vazia e as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas. E Deus disse: Exista a luz. E a luz existiu. E Deus viu que a luz era boa. E separou a luz das trevas.”
O texto acima foi escrito por um, ou por vários rabinos (sacerdotes da religião judaica), que por sua vez devem ter se inspirado em teorias cosmológicas que já eram ensinadas na época em que a Bíblia começou a ser compilada. A ideia do Big-Bang foi formalizada por um padre chamado Georges Lemaître (1894-1966), inspirado em teorias desenvolvidas anteriormente formuladas por Albert Eisnten e Alexander Friedmanm. Todos eles deduziram suas teorias observando o que acontece na intimidade da matéria, o mundo dos átomos, que é feito essencialmente de energias que são decompostas em luz...
Isso nos mostra o quão difícil é desvincular ciência e religião, quando se trata de estudar as causas primeiras do universo. Por isso, os livros sagrados de todas as religiões do mundo, sejam elas reveladas ou metafísicas, sustentam que o universo começou pela ação de uma divindade, que de alguma forma, deu início a todas as realidades cósmicas.
No fundo, a visão taumatúrgica dos antigos mestres da religião, de maneira nenhuma contrasta com a visão cientifica dos modernos cientistas do átomo e da cosmologia. Ambas mostram um universo nascendo de um centro primordial que, não podendo conter em si a formidável densidade energética que acumulou, explodiu, enchendo de luz o vazio cósmico; E e a luz, por um processo de condensação, ou de resfriamento, como diz a ciência, (a luz era boa, como a diz a Bíblia) se transformou no universo como hoje o conhecemos.
Assim podemos dizer que galáxias, estrelas, planetas, são condensações de luz. Os cientistas dizem que se a gravidade for retirada do universo, a luz também desaparecerá e todo o universo desabará sobre si mesmo.
Um padre jesuíta chamado Teilhard de Chardin escreveu que existem no universo duas forças primárias que regem a sua formação: a lei da expansão, que é a energia primária que emanou do Big-Bang e a lei da contração, que força o universo a se organizar através de sistemas.
A explosão inicial fez a luz viajar em todas as direções e desde então o universo está em constante expansão. Essa força, essa energia inicial, gera a imensidade de matéria que nele existe, ao mesmo tempo que provoca um imenso caos, pois a luz, viajando em todas as direções, não tem direção nem organização. É como uma bomba que explode e atira fragmentos de si mesma para todos os lados. Esses fragmentos são partículas, ou ondas, de energia, que se convertem, através de um processo ainda desconhecido, em matéria física. Desde a grande explosão o universo está em constante expansão. Por outro lado, há outra força, atuando em sentido contrário á primeira (a contração), que faz que o universo se organize, deixando de ser um imenso caos sem sentido nem finalidade, como se fosse uma manada de bois estourada, correndo em todas as direções. Essa força é a gravidade, que obriga os corpos menores a permanecerem girando em volta de corpos maiores. Através da gravidade, a força inicial, que impele o universo a uma incontrolável expansão, é controlada através de uma retração, ou seja, uma força que atua no sentido contrário à expansão.Aqui podemos ver a metáfora do homem e da mulher: enquanto o homem é dispersão, a mulher é reunião. O que o homem espalha a mulher reúne. Ela é a família. O homem é relatividade, a mulher é gravidade.
Relatividade e Gravidade são as forças que formam os sistemas cósmicos, ou seja, as galáxias e os sistemas solares. Nasce dessa forma uma organização no céu, que é o imenso, da mesma forma que a matéria bruta e a matéria orgânica também assim se organizam, no ínfimo. A primeira é feita de átomos, os átomos se juntam para formar moléculas e as moléculas se juntam para formar os elementos químicos. Da mesma forma, a matéria orgânica se forma a partir de células que se juntam para formar moléculas e estas se reúnem em sistemas. E assim também evoluem os sistemas nucleares da vida e da sociedade, que se organizam em células, organismos, grupos, famílias, colônias, nações e por aí adiante.
Assim, relatividade e gravidade são duas forças contrastantes que “lutam” no infinito cósmico. Mas não são conflitantes, pois elas se complementam, promovendo o equilíbrio universal. Na filosofia chinesa essa força é chamada de Tao, o princípio que tudo gera e mantém um perfeito equilíbrio entre masculino/feminino, ou yang/yin. Essas forças são como as margens de um rio. Uma precisa da outra para manter a torrente em equilíbrio. Sem duas margens antagônicas que a represam e ditam um curso a ser seguido, não existe rio. Da mesma forma, a energia do universo não fluiria de maneira organizada, para um fim determinado.
Isso mostra que só pode haver equilíbrio na presença de duas forças semelhantes. E Criação também. Na dinâmica da Bíblia, a ação divina precisou de duas forças contrárias para dar início à criação do mundo. A Luz e as Trevas. E simbolizou uma delas como noite, outra como dia. Ou, para dar símbolos mais precisos à essas forças, deu o nome a uma de sol, a outra de lua. E na dinâmica da criação da vida, de macho e fêmea. Ou para situar algo mais perto de nós, chamou essas forças de homem e mulher.
Por isso um é yin outro é yang. Um é sol, outro é lua. Um é caos, outro é organização. Um não pode existir sem o outro. Assim se conclui: Deus é masculino e feminino. E assim, tudo se completa.
Shehiná, a presença divina no mundo
Segundo os cabalistas, Deus se manifesta no mundo através de uma presença misteriosa chamada Shehiná. A doutrina que se oculta sob o nome de Shehiná (ou Shekináh) é oriunda do Antigo Testamento e sua origem se encontra nas instruções que Deus dá a Moisés para a construção do Tabernáculo e a Arca da Aliança. Essas instruções tratam da instituição de um centro religioso e espiritual entre os israelitas, no qual a presença divina se realizaria de forma positiva e constante. Esse centro teria se cristalizado na construção da Arca da Aliança e do Tabernáculo, e mais tarde na edificação do Templo de Salomão. Por isso é que se diz que o Templo de Jerusalém foi construído segundo proporções imitativas do próprio universo, para ser efetivamente um lugar propício para a presença divina no mundo, ou seja, para que Deus pudesse estar, como presença real, entre os homens.
Por isso a Shehiná (presença divina no mundo) é sempre representada como “Luz” (Domus Lucis, Portae Lucis, Janua Lux, Fiat Lux etc) expressões essas que os ritos maçônicos têm conservado na simbologia da letra G (geometria), que na tradição maçônica se representa pela letra hebraica Yod. Esse conceito também estaria representado no Hexagrama da Criação, desenvolvido pelos pitagóricos, o qual é construído com séries harmônicas presentes nas chaves esotéricas da Geometria e da Música. Não é outra a razão pela qual essas duas disciplinas são tão caras aos maçons, pois na tradição maçônica, Deus constrói o universo usando a escala diatônica, que incorpora o som, a forma e o número.[2]
Essa tradição, que se refere á construção do Tabernáculo e do Templo de Salomão, talvez seja os resquícios da memória da ciência arcana que informava à construção dos antigos templos, o que, diga-se a bem verdade, não foi uma técnica desenvolvida pelos israelitas, mas apenas idealizada por eles naquilo que se revela como arte maçônica. Pois como se sabe, os templos da antiguidade eram construídos com proporções geométricas deduzidas segundo conhecimentos de astrologia, os quais eram reproduzidos na estrutura e na conformação desses edifícios, sempre com a intenção de proporcionar um canal de comunicação entre o deus a quem ele era dedicado e o povo que o cultuava. Arquitetura, religião, Igreja, Geometria, Música, astrologia. Todos substantivos femininos.
O que ressalta, em tudo isso, é que o mundo, para existir, precisa de um princípio feminino para se manifestar. Por isso, em todas as cosmogonias, o universo nasce da conjunção entre o feminino e o masculino, mas é sempre o feminino que o faz nascer. Na Árvore da Vida da Cabala, por exemplo, o princípio feminino é representado pela séfira Binah, enquanto na cosmogonia gnóstica ela é Sofia, a mãe da sabedoria, que para os egípcios era a deusa Ísis, para os gregos a deusa Hera, para os romanos Ceres, para os babilônios Ishtar, para os maias Ixel, e assim por diante. Por isso o antropólogo Bachofen defendeu, em seu famoso ensaio, que as primitivas civilizações eram governadas pelo principio feminino.(3) Ele tinha razão, porquanto a maioria das antigas civilizações mantinham a cadeia do poder centrada no elemento feminino. Os reis eram escolhidos pelo casamento entre um príncipe e a princesa do trono, a qual, geralmente era a própria irmã do príncipe. Essa tradição tinha uma justificativa muito lógica: só a mulher pode garantir a certeza da pureza do sangue do herdeiro. Assim, nasceu a tradição do culto ao sagrado feminino, já que sem a presença de uma mulher no fenômeno da criação, esta não existe.
O culto á mulher, como símbolo do sagrado feminino, projetou-se inclusive na literatura medieval e tornou-se um dos principais gêneros literários da época. É revelador que esse tipo de literatura tenha nascido justamente na Provença, ou seja, no chamado território do Languedoc. A poesia provençal parece ter tido origem nas tradições populares cantadas em prosa e versos por artistas ambulantes, que iam de cidade em cidade e se apresentavam em feiras e recitais organizados por nobres senhores, para distrair convidados em seus serões. Desenvolveu-se, nesse tipo de manifestação artística, uma forma de lirismo quase religioso, no qual o amor do cavaleiro por sua dama afirmava-se como um culto, quase uma religião. O trovador, na Corte e na literatura, comportava-se em relação à sua dama como se fosse um vassalo em relação ao seu senhor, ao qual devia homenagem, fidelidade e socorro em caso de perigo, combatendo e morrendo por ela, se necessário. Não se tratava de uma relação sentimental de envolvimento físico, mas sim de uma relação de caráter espiritual, na qual a dama escolhida era uma espécie de ídolo, um objeto de adoração, onde o próprio nome da amada devia ser mantido em segredo. A este ideal romântico correspondia um tipo idealizado de mulher que mais se assemelhava á uma deusa, uma ninfa, uma fada, algo muito além de uma criatura de carne e osso. A Laura dos poemas de Petrarca, a Beatriz de Dante, a Isolda de Tristão, a Guinevere dos contos da Távola Redonda, a caricata Dulcinéia do Dom Quixote, são exemplos dessa simbologia do “sagrado feminino”, que a literatura provençal imortalizou. Registre-se que o declínio da literatura provençal ocorreu principalmente em razão da repressão movida pela Igreja de Roma contra os cátaros, que acabou envolvendo todo o povo do Languedoc e arruinou um grande número de nobres dessa região. É de lembrar-se também que tanto a literatura provençal, que idealizava o valente cavaleiro e seu amor platônico, quanto a tradição cavalheiresca de honrar o “sagrado feminino” nunca foi bem visto pela Igreja e sempre sofreu as mais ácidas críticas do clero.[4] Mas isso, como se sabe, só aconteceu em virtude de a Igreja Romana ter adotado o princípio patriarcal em sua doutrina, princípio esse que foi inaugurado com a teologia judaico-cristã, que introduziu na religião a ideia de que Deus era masculino ( o deus da Bíblia) e relegou à mulher à um papel secundário na História e despiu-a da espiritualidade que os antigos consagravam à mulher, como sendo a Terra-Mãe, a Natureza, de cujo ventre tudo é gerado.
Mas isso,nós sabemos, foi consequência de uma espúria política de dominação, pois como vimos, sem um princípio feminino para gerar a criação, o universo nem sequer existiria.
(UMA HOMENAGEM Á TODAS AS MÃES)
“E da costela que tinha tirado de Adão, formou o Senhor Deus uma mulher; e a levou a Adão. E Adão disse: eis aqui agora os ossos dos meus ossos e a carne da minha carne (...)”. Gênesis, 2;22.
O masculino e o feminino
E no princípio Deus fez o céu e a terra,
Pela potência da sua Vontade exercida.
Para dar sentido ao que nela se encerra,
Povoou-a com diversas formas de vida.
Foi assim que se formou o reino animal,
Com criaturas da terra, da água e do ar;
E para dar remate a essa obra magistral,
Ele fez o homem, sua criatura modelar.
Do pó da terra elevou o homem Adão;
Com um sopro fez dele um ser vivente.
Multiplicar-se lhe foi dado por missão;
E para garantir a produção do resultado,
Fez a mulher, a criatura surpreendente,
Que todo homem necessita ter do lado.
O “parto de Deus”
Para a ciência, o nosso universo nasceu no Big Bang, a grande explosão que deu origem a tudo isso que vemos, ouvimos e sentimos. Explosão de que? De um corpo celeste que concentrava uma inimaginável quantidade de energia, tão densamente carregado, que não podendo suportar a pressão interna da sua própria carga energética, “derramou-se” para fora de si mesmo.
Essa é uma interessante metáfora para figurar um evento que talvez jamais venhamos a saber como efetivamente ocorreu. Mas, falando assim, dá para lembrar um parto. Uma criança nasce quando chega a hora. Quando a pressão que ela faz no útero da mãe chega ao ponto em que não pode mais continuar dentro dele.
A ideia do Big-Bang é interessante, mas não é de modo algum original, nem pode ser considerada como uma descoberta científica. Há muito que os sábios cabalistas, os filósofos taoístas, os cultores da cosmogonia vedanta e os filósofos gnósticos já vinham dizendo isso. Que o universo "nasceu" de uma certa maneira. Semelhante á que Deus criou para as espécies vivas.
Nesse sentido, um cientista não é menos imaginativo do que um astrólogo egípcio, dois mil antes de Cristo, que via o universo nascendo de um ovo, (o ovo cósmico) ou um poeta hindu do século III a C, que dizia que “antes da sua forma atual, Vixinu-Xiva descansava no nada cósmico, prenhe de suas múltiplas vidas”. Ou então do sábio cabalista que, perguntado sobre o que era Deus, respondeu simplesmente: Deus é pressão.
Que corpo era esse que explodiu e que energia era essa que espalhou-se pela escuridão cósmica, ninguém foi ainda capaz de definir. Os cientistas chamam esse corpo de Singularidade, e à energia que o vivifica de ondas e partículas, que recebem nomes estranhos como quarks, elétrons, fotons, bósons etc. Os livros religiosos chamam esse "corpo de Deus" e á energia que ele expeliu, de luz. Veja-se, por exemplo, a descrição que a Bíblia dá ao fenômeno da criação do universo físico. “No princípio criou Deus o céu e a terra. A terra, porém estava informe e vazia e as trevas cobriam a face do abismo, e o Espírito de Deus movia-se sobre as águas. E Deus disse: Exista a luz. E a luz existiu. E Deus viu que a luz era boa. E separou a luz das trevas.”
O texto acima foi escrito por um, ou por vários rabinos (sacerdotes da religião judaica), que por sua vez devem ter se inspirado em teorias cosmológicas que já eram ensinadas na época em que a Bíblia começou a ser compilada. A ideia do Big-Bang foi formalizada por um padre chamado Georges Lemaître (1894-1966), inspirado em teorias desenvolvidas anteriormente formuladas por Albert Eisnten e Alexander Friedmanm. Todos eles deduziram suas teorias observando o que acontece na intimidade da matéria, o mundo dos átomos, que é feito essencialmente de energias que são decompostas em luz...
Isso nos mostra o quão difícil é desvincular ciência e religião, quando se trata de estudar as causas primeiras do universo. Por isso, os livros sagrados de todas as religiões do mundo, sejam elas reveladas ou metafísicas, sustentam que o universo começou pela ação de uma divindade, que de alguma forma, deu início a todas as realidades cósmicas.
No fundo, a visão taumatúrgica dos antigos mestres da religião, de maneira nenhuma contrasta com a visão cientifica dos modernos cientistas do átomo e da cosmologia. Ambas mostram um universo nascendo de um centro primordial que, não podendo conter em si a formidável densidade energética que acumulou, explodiu, enchendo de luz o vazio cósmico; E e a luz, por um processo de condensação, ou de resfriamento, como diz a ciência, (a luz era boa, como a diz a Bíblia) se transformou no universo como hoje o conhecemos.
Assim podemos dizer que galáxias, estrelas, planetas, são condensações de luz. Os cientistas dizem que se a gravidade for retirada do universo, a luz também desaparecerá e todo o universo desabará sobre si mesmo.
Um padre jesuíta chamado Teilhard de Chardin escreveu que existem no universo duas forças primárias que regem a sua formação: a lei da expansão, que é a energia primária que emanou do Big-Bang e a lei da contração, que força o universo a se organizar através de sistemas.
A explosão inicial fez a luz viajar em todas as direções e desde então o universo está em constante expansão. Essa força, essa energia inicial, gera a imensidade de matéria que nele existe, ao mesmo tempo que provoca um imenso caos, pois a luz, viajando em todas as direções, não tem direção nem organização. É como uma bomba que explode e atira fragmentos de si mesma para todos os lados. Esses fragmentos são partículas, ou ondas, de energia, que se convertem, através de um processo ainda desconhecido, em matéria física. Desde a grande explosão o universo está em constante expansão. Por outro lado, há outra força, atuando em sentido contrário á primeira (a contração), que faz que o universo se organize, deixando de ser um imenso caos sem sentido nem finalidade, como se fosse uma manada de bois estourada, correndo em todas as direções. Essa força é a gravidade, que obriga os corpos menores a permanecerem girando em volta de corpos maiores. Através da gravidade, a força inicial, que impele o universo a uma incontrolável expansão, é controlada através de uma retração, ou seja, uma força que atua no sentido contrário à expansão.Aqui podemos ver a metáfora do homem e da mulher: enquanto o homem é dispersão, a mulher é reunião. O que o homem espalha a mulher reúne. Ela é a família. O homem é relatividade, a mulher é gravidade.
Relatividade e Gravidade são as forças que formam os sistemas cósmicos, ou seja, as galáxias e os sistemas solares. Nasce dessa forma uma organização no céu, que é o imenso, da mesma forma que a matéria bruta e a matéria orgânica também assim se organizam, no ínfimo. A primeira é feita de átomos, os átomos se juntam para formar moléculas e as moléculas se juntam para formar os elementos químicos. Da mesma forma, a matéria orgânica se forma a partir de células que se juntam para formar moléculas e estas se reúnem em sistemas. E assim também evoluem os sistemas nucleares da vida e da sociedade, que se organizam em células, organismos, grupos, famílias, colônias, nações e por aí adiante.
Assim, relatividade e gravidade são duas forças contrastantes que “lutam” no infinito cósmico. Mas não são conflitantes, pois elas se complementam, promovendo o equilíbrio universal. Na filosofia chinesa essa força é chamada de Tao, o princípio que tudo gera e mantém um perfeito equilíbrio entre masculino/feminino, ou yang/yin. Essas forças são como as margens de um rio. Uma precisa da outra para manter a torrente em equilíbrio. Sem duas margens antagônicas que a represam e ditam um curso a ser seguido, não existe rio. Da mesma forma, a energia do universo não fluiria de maneira organizada, para um fim determinado.
Isso mostra que só pode haver equilíbrio na presença de duas forças semelhantes. E Criação também. Na dinâmica da Bíblia, a ação divina precisou de duas forças contrárias para dar início à criação do mundo. A Luz e as Trevas. E simbolizou uma delas como noite, outra como dia. Ou, para dar símbolos mais precisos à essas forças, deu o nome a uma de sol, a outra de lua. E na dinâmica da criação da vida, de macho e fêmea. Ou para situar algo mais perto de nós, chamou essas forças de homem e mulher.
Por isso um é yin outro é yang. Um é sol, outro é lua. Um é caos, outro é organização. Um não pode existir sem o outro. Assim se conclui: Deus é masculino e feminino. E assim, tudo se completa.
Shehiná, a presença divina no mundo
Segundo os cabalistas, Deus se manifesta no mundo através de uma presença misteriosa chamada Shehiná. A doutrina que se oculta sob o nome de Shehiná (ou Shekináh) é oriunda do Antigo Testamento e sua origem se encontra nas instruções que Deus dá a Moisés para a construção do Tabernáculo e a Arca da Aliança. Essas instruções tratam da instituição de um centro religioso e espiritual entre os israelitas, no qual a presença divina se realizaria de forma positiva e constante. Esse centro teria se cristalizado na construção da Arca da Aliança e do Tabernáculo, e mais tarde na edificação do Templo de Salomão. Por isso é que se diz que o Templo de Jerusalém foi construído segundo proporções imitativas do próprio universo, para ser efetivamente um lugar propício para a presença divina no mundo, ou seja, para que Deus pudesse estar, como presença real, entre os homens.
Por isso a Shehiná (presença divina no mundo) é sempre representada como “Luz” (Domus Lucis, Portae Lucis, Janua Lux, Fiat Lux etc) expressões essas que os ritos maçônicos têm conservado na simbologia da letra G (geometria), que na tradição maçônica se representa pela letra hebraica Yod. Esse conceito também estaria representado no Hexagrama da Criação, desenvolvido pelos pitagóricos, o qual é construído com séries harmônicas presentes nas chaves esotéricas da Geometria e da Música. Não é outra a razão pela qual essas duas disciplinas são tão caras aos maçons, pois na tradição maçônica, Deus constrói o universo usando a escala diatônica, que incorpora o som, a forma e o número.[2]
Essa tradição, que se refere á construção do Tabernáculo e do Templo de Salomão, talvez seja os resquícios da memória da ciência arcana que informava à construção dos antigos templos, o que, diga-se a bem verdade, não foi uma técnica desenvolvida pelos israelitas, mas apenas idealizada por eles naquilo que se revela como arte maçônica. Pois como se sabe, os templos da antiguidade eram construídos com proporções geométricas deduzidas segundo conhecimentos de astrologia, os quais eram reproduzidos na estrutura e na conformação desses edifícios, sempre com a intenção de proporcionar um canal de comunicação entre o deus a quem ele era dedicado e o povo que o cultuava. Arquitetura, religião, Igreja, Geometria, Música, astrologia. Todos substantivos femininos.
O que ressalta, em tudo isso, é que o mundo, para existir, precisa de um princípio feminino para se manifestar. Por isso, em todas as cosmogonias, o universo nasce da conjunção entre o feminino e o masculino, mas é sempre o feminino que o faz nascer. Na Árvore da Vida da Cabala, por exemplo, o princípio feminino é representado pela séfira Binah, enquanto na cosmogonia gnóstica ela é Sofia, a mãe da sabedoria, que para os egípcios era a deusa Ísis, para os gregos a deusa Hera, para os romanos Ceres, para os babilônios Ishtar, para os maias Ixel, e assim por diante. Por isso o antropólogo Bachofen defendeu, em seu famoso ensaio, que as primitivas civilizações eram governadas pelo principio feminino.(3) Ele tinha razão, porquanto a maioria das antigas civilizações mantinham a cadeia do poder centrada no elemento feminino. Os reis eram escolhidos pelo casamento entre um príncipe e a princesa do trono, a qual, geralmente era a própria irmã do príncipe. Essa tradição tinha uma justificativa muito lógica: só a mulher pode garantir a certeza da pureza do sangue do herdeiro. Assim, nasceu a tradição do culto ao sagrado feminino, já que sem a presença de uma mulher no fenômeno da criação, esta não existe.
O culto á mulher, como símbolo do sagrado feminino, projetou-se inclusive na literatura medieval e tornou-se um dos principais gêneros literários da época. É revelador que esse tipo de literatura tenha nascido justamente na Provença, ou seja, no chamado território do Languedoc. A poesia provençal parece ter tido origem nas tradições populares cantadas em prosa e versos por artistas ambulantes, que iam de cidade em cidade e se apresentavam em feiras e recitais organizados por nobres senhores, para distrair convidados em seus serões. Desenvolveu-se, nesse tipo de manifestação artística, uma forma de lirismo quase religioso, no qual o amor do cavaleiro por sua dama afirmava-se como um culto, quase uma religião. O trovador, na Corte e na literatura, comportava-se em relação à sua dama como se fosse um vassalo em relação ao seu senhor, ao qual devia homenagem, fidelidade e socorro em caso de perigo, combatendo e morrendo por ela, se necessário. Não se tratava de uma relação sentimental de envolvimento físico, mas sim de uma relação de caráter espiritual, na qual a dama escolhida era uma espécie de ídolo, um objeto de adoração, onde o próprio nome da amada devia ser mantido em segredo. A este ideal romântico correspondia um tipo idealizado de mulher que mais se assemelhava á uma deusa, uma ninfa, uma fada, algo muito além de uma criatura de carne e osso. A Laura dos poemas de Petrarca, a Beatriz de Dante, a Isolda de Tristão, a Guinevere dos contos da Távola Redonda, a caricata Dulcinéia do Dom Quixote, são exemplos dessa simbologia do “sagrado feminino”, que a literatura provençal imortalizou. Registre-se que o declínio da literatura provençal ocorreu principalmente em razão da repressão movida pela Igreja de Roma contra os cátaros, que acabou envolvendo todo o povo do Languedoc e arruinou um grande número de nobres dessa região. É de lembrar-se também que tanto a literatura provençal, que idealizava o valente cavaleiro e seu amor platônico, quanto a tradição cavalheiresca de honrar o “sagrado feminino” nunca foi bem visto pela Igreja e sempre sofreu as mais ácidas críticas do clero.[4] Mas isso, como se sabe, só aconteceu em virtude de a Igreja Romana ter adotado o princípio patriarcal em sua doutrina, princípio esse que foi inaugurado com a teologia judaico-cristã, que introduziu na religião a ideia de que Deus era masculino ( o deus da Bíblia) e relegou à mulher à um papel secundário na História e despiu-a da espiritualidade que os antigos consagravam à mulher, como sendo a Terra-Mãe, a Natureza, de cujo ventre tudo é gerado.
Mas isso,nós sabemos, foi consequência de uma espúria política de dominação, pois como vimos, sem um princípio feminino para gerar a criação, o universo nem sequer existiria.