E QUEM NÃO CRER SERÁ CONDENADO...
Ameaças e coações sempre ajudaram nas “convenções”
Reflexões sobre como possivelmente nasce uma divindade
*Por Antônio F. Bispo
Séculos atrás, homens poderosos ligados ao império romano com interesses diversos reuniram-se para determinar quais características surreais e humanas seriam definidas, aceitas e difundidas acerca do novo personagem mítico que estava sendo construído para ser o novo deus universal no mundo ocidental. Deram a isso o nome de Concílio.
Conciliar, concordar, combinar...O nome veio a calhar para dar uma definição de quem ainda não podia ou não sabia se auto definir.
Um ser todo poderoso, capaz de fazer qualquer coisa pensável e impensável no mundo dos homens e dos deuses, não tinha poder algum de dizer por si mesmo em alto e bom som a todos os cidadãos daquela ocasião e de outras épocas, qual seria sua própria vontade e suas próprias características bem como as definições de seu poder para todas as pessoas que ele desejava se apresentar.
Como estava sendo gerado naquela ocasião, é compreensível que ele ainda não sabia falar por si mesmo e alguém o estava fazendo naquele momento. Ao longo dos séculos também, os “ungidos do senhor” iriam dizer exatamente como ele deveria se comportar em cada uma das casas (com aspectos comerciais) que seriam abertas em seu nome. No início ele não sabia se apresentar, no futuro ele não saberia como agir.
Então para dar forma a esse ser que estava sendo concebido naquele instante, se fez necessário nesse concílio que o retrato falado de sua pessoa fosse feito às escondidas, com uns poucos privilegiados, na base de contradições, contendas, barganhas, ameaças de morte, desejo de poder absoluto e todo tipo sentimentos ruim que o ser humano possa produzir. Dum mar de fel, surgia então o que seria dito ser doce como mel.
De uma leva de pessoas gananciosas, indecisas, manipuladoras, manipuláveis e de interesses próprios, nascia o conceito de uma divindade que seria considerada 3 vezes santo, puro e verdadeiro, de onde procederia toda a justiça e retidão para os povos do mundo inteiro. Um ser divino e perfeito sendo produzido por meros mortais imperfeitos. A “verdade universal” era ali construída sob um conjunto de arquétipos “duvidosos” ou “pagãos” de várias outras crenças que até hoje a “santa igreja” condena.
Homens comuns “deram à luz” a um deus incomum, flexível, maleável e que poderia ser usado como bem entendesse em ocasiões e propósitos distintos. Nessa casa de parto instalada em Nicéia no quarto século de nossa Era, parteiras e parturientes se confundiam em seus papeis pois as que estavam para receber o feto em suas mãos, também estavam compactuando da mesma placenta, alimentando e nutrindo o feto que estava sendo gerado e parido em um período tão curto quanto um fim de semana ensolarado. Uma verdadeira “obra divina”. Somente com os olhos da fé era possível contemplar tal epifania.
Mais difícil ainda era definir “o pai da criança” pois, do cruzamento de várias linhas de pensamento e demandas de variados genitores ele nasceria. O “material genético” que o gerou não veio de um pai só. Além da pomba que dizem ter engravidado sua mãe, teve também a participação de vários pensadores e filósofos daquele período. O humano e o “divino” se juntavam ali para dar forma a um ser que seria objeto de culto e repudio nos mais variados pontos do planeta, além de servir de bandeira principal para promoção de guerras, genocídios e os mais variados tipos abusos e enriquecimento estratégicos das lideranças nos mais variados cantos do planeta onde seu nome é difundido. Como numa franquia de uma grande multinacional, seu nome tornou-se símbolo de poder ou opressão por onde passa.
Depois de gerado naquele concílio, ele seria dividido e criado por vários outros “tios” diferentes ao longo dos séculos seguintes, cada um com interesses e motivos diferentes para difundir os domínios desse novo reino que se estabelecia.
Uns iriam abdicar a todo tipo de riqueza ou prazer normal a qualquer mortal, viver em trapos e farrapos, para ensinar o celibato, a penitencia e o martírio como forma de remissão, enquanto outros desses “tios” iriam construir dinastias, impérios e fortunas, vivendo na luxuria, pregando o reino vindouro enquanto usurpa as posses dos fieis no presente.
Os criadores dessa ideia original, nem poderiam sequer imaginar em quantas vertentes antagônicas e auto anulatórias esse novo bebê iria se dividir ao ser criado por tantos “pais”, e educados por tantos “tios” e “tias” diferentes. Como quase tudo ininteligível ou incompreensível nesse segmento é denominado como sendo um mistério, fica mais “saboroso” e enigmático cada um desses mistérios e quanto mais se divide, mais contraditório se torna.
Mistérios atraem todo tipo de gente. Desde os aflitos, desesperado e abobalhados que gostam de ser iludidos, até os questionadores, que presam pelo argumento cientifico ou que possuem ares de detetives. Esses três últimos citados, nesse segmento não se criam. São perseguidos e eliminados na maioria das vezes. Mas a semente da discórdia em certas situações são o maior legado que eles dão ao mundo. Eles irão se tornar hereges ou heróis a depender da mente que os avaliam.
O que fazer então para intimidar que não acreditasse em um deus nascido depois de um concílio de uma curta temporada? Simples, escreve ai: “E quem não crer será condenado...Assim, o homem será escravo de sua própria consciência, acreditando estar sob um julgo de um ser celestial”!
Desse modo, raptaram de um povo já subjugado, a ideia de um deus indivisível e o dividiram em três. Usaram sacerdotes de deuses “pagãos” com costumes “pagãos” e os fizeram ser cristãos apenas pronunciando algumas “palavras mágicas”. Sacralizaram e divinizaram desde então qualquer objeto, lugar ou pessoa mesmo sendo contra o mandamento do livro que juram ser sagrado. Toda autoridade sob a vida ou morte de qualquer ser vivente nesse planeta foi dada ao chefe maior da igreja, mesmo alegando que é deus quem domina tudo. Tornaram sagrados e inquestionáveis escritos de uma outra cultura e os colocaram acima de qualquer outro livro ou qualquer outra forma de conhecimento humano. Pior de tudo: eles nem sabiam ler o livro que dizia ser sagrado ou eram proibidos de lê-lo em sua totalidade pois afirmavam ser perigoso demais para um mortal ler... Assim conduziram o destino do ocidente por vários séculos.
A busca desenfreada pelo controle da mente e do corpo das pessoas tornou-se o principal objetivo desse grupo que ganhava uma gigantesca proporção pelo uso da força, abuso de poder, corrupção de autoridades e perseguição as minorias. Faziam tudo isso em nome daquele que consagraram como sendo o príncipe da paz e o rei da justiça.
E quem não cresse seria condenado, quem não obedecesse seria destituído de suas posses ou títulos e quem argumentasse contra o conceito já estabelecido dessa divindade teria um tratamento quem nem nos “quintos dos infernos” alguém daria a outro. Assim o “espirito santo” convencia as pessoas, e o “reino de deus” se expandia.
E quem ainda não crer será condenado…Condenado a humilhações, a se retratar em públicos por crimes que nunca cometeu, a se culpar por coisas que nunca fez, e a viver e vagar como eternos dependentes de instituições que andava e ainda na contramão do evangelho qual se propõe a propagar mundo a fora.
A morte, em certas ocasiões era uma dádiva se comparado ao “glorioso presente” que esses representantes de tinham a oferecer aos que de alguma forma demonstravam resistência as imposições forçadas de suas crendices.
Mais de 15 séculos se tem se passado desde o início dessa trajetória, em que um perfil de um personagem foi criado com um proposito, mas que ganhou notoriedade como sendo o de uma figura que realmente teve ou ainda tem as características reais a ele atribuídas.
Em ajuntamento as pessoas criam leis, criam a ordem, criam o caos e criam também os deuses e demônios que povoarão o imaginário coletivo. Uma “verdade inventada”, repetida diversas vezes ao dia por milhares de pessoas anos á fio, dar-se-á a impressão de ser uma verdade inquestionável, principalmente se vier acompanhado de uma ameaça de morte e condenação. Assaltantes também convencem “gentilmente” as pessoas a darem seus pertences usando frases ameaçadoras.
Com ameaças constantes é possível manter simultaneamente a ideia de um deus imortal capaz de morrer. Um ser indivisível capaz de se dividir. Um deus de amor incondicional mas que criou o inferno para lançar lá os que não o aceite. Uma mulher que simultaneamente é filha e mãe de deus ao mesmo tempo. Um deus capaz de repreender ou enfrentar qualquer tipo de mal, mas que não consegue tirar de sua vida o devorador se tu não pagar os 10% de tudo que você ganha ao seu representante. Um ser que apesar de onipotente, onisciente e onipresente, parece estar alheio a tudo que de mal acontece no mundo, mas seus olhos e ira estão voltado exclusivamente para os homossexuais, ateus e não dizimistas. E quem não crer assim é um herege, e será condenado...
Será que o “reino de deus” seria o mesmo sem o uso de ameaças constantes as pessoas ou sem a prerrogativa de coagi-las publicamente a terem um comportamento de ovelhas? Óbvio que não! O “espirito santo” que convencia as pessoas ao cristianismo na idade média, é o mesmo que “convence” hoje muita gente ao islamismo. Deus e seus representantes nesses casos te amarão até o dia em que questionares. O questionamento muda todo o roteiro do amor de deus e todo o roteiro das finanças de seus representantes.
Desse modo, você pode passar 50 anos de sua vida em uma igreja cumprindo á risca tudo que lhe foi exigido, sendo capacho de pessoas mal resolvidas, mal esclarecidas ou mal intencionadas e ser “amado” por todos eles, mas um simples questionamento acerca do comportamento do líder ou dos fundamentos de sua própria fé fará ruir tudo, e de servo de deus, você passa a ser filho do capeta num estalar de dedos. Ser mudo, surdo, cego e trouxa é a receita de sucesso para qualquer um que veja em um “ungido do senhor” como o ser capaz de decidir o destino de sua vida atual e vindoura.
O “reino de deus” e a construção do patrimônio pessoal dos que representam esse mesmo reino tem sempre algo em comum: dependem do medo, da ganancia ou da ignorância das fieis. Retire do “reino de deus” a probabilidade de enriquecimento e poder dos líderes sobre os liderados e esse reino murchará e secará. Sem a divisão do lucro e do poder entre os que lideram o povo, o “reino de deus” perde todo o sentido. Com o questionamentos ele nem se quer teria vingado, ou seria um outro tipo de movimento atualmente.
Quando um indivíduo se liberta dessa linha de raciocínio, de que precisa de um intermediador humano para conduzir sua vida a um paraíso celestial ou coisa do tipo, ele tem de ser automaticamente demonizado, para que não perturbe as finanças e os domínios territoriais dos que dizem representar essa divindade.
Todo domínio começa na mente de um fiel e é na mente deste mesmo que ele termina. Um homem liberto é um homem que conduzirá outro a liberdade, do mesmo modo que um capataz bem pago levará tantos outros à escravidão sem nem se dar conta de que também é um escravo.
Se há um presente que uma pessoa possa dar a si mesma, esse presente se chama a busca pelo conhecimento. Enquanto tivermos a ilusão de que pessoas comuns possam se auto intitular representantes de uma divindade com objetivos espúrios, o crescimento das desigualdades sociais irá sempre aumentar.
Quando os homens passarem a se ver de igual para igual e rejeitar a corrupção e barganha em forma de culto aos deuses como meio para se sobrepor sobre os demais, os que dizem ser representante de uma divindade terão de produzir algo realmente útil e necessário a uma sociedade para obter seu sustento ou fortuna.
Até lá, não deixemos que ameaças fantásticas afetem nossa realidade!
Saúde e sanidade a todos
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.
Texto escrito em 10/5/18