O ANIMAL TECNOLÓGICO E A METAMORFOSE DO REAL

Pesquisando sobre as influências de Franz Kafka no cinema, encontrei um grande cineasta canadense com uma filmografia de fortes referências com as obras kafkianas. Primeiro com o filme “The Fly” (A Mosca), claramente uma adaptação transversal de “A metamorfose”: um cientista cria uma máquina de teletransporte e por um erro acidental transforma-se em uma mosca monstruosa. Mas, agora, prefiro deter-me a uma análise do filme VIDEODROME - A Síndrome do Vídeo (1983) de David Cronenberg, para pensar nosso vício diante de uma tela que emite raios caleidoscópios. Tudo começou com a televisão, um aparelho viciante de recepção de imagens. O que há de desconhecido para nós é que essas imagens televisivas funcionam como a retina do cérebro humano. Entendido isso a partir de David Cronenberg, produtor deste filme nos anos oitenta, é possível fazermos hoje uma releitura do filme, cujo enredo é kafkiano demais para descrê-lo aqui. O alerta central é para a metamorfose da espécie humana em animal tecnológico: a fusão de um smartphone ao corpo (o celular como extensão do corpo físico) e as partículas caleidoscópicas que se fundem com a nossa estrutura cerebral. É curioso observar a nossa realidade, ou o campo óptico que estamos imergidos, pois nada fora deste campo é real, nosso estado de consciência está limitado pelas imagens. Basta um simples olhar ao nosso redor para percebermos que tudo virou imagens, projeções de uma tela; uma pessoa se torna celebridade na mídia a partir de um determinado número de likes e muitas outras bizarrices da tecnologia. Vejam a febre dos STORIES no Instagram (imagens fílmicas de si em doses homeopáticas), a desenfreada febre dos Youtubers e nosso consumo compulsivo por esse material imagético; não é o conteúdo que nos interessa, mas o VÍDEO. A NETFLIX em nossas casas com séries doentias à la “Black Mirror” e a grande WEB como plataforma de imagens que substituiu a Tv tradicional, ou melhor, transferiu a imagem para dispositivos móveis.

David Cronenberg é o anunciador da nova raça tecnológica do “homo sapiens”. Somos dependentes químicos de imagens, consumimos imagens, vídeos, imagens, vídeos, o tempo todo. Em algum momento negaremos tudo isso em graves consequências. Não é um posicionamento contrário aos benefícios da informação visual, mas, talvez, um alerta aos malefícios ao nosso “novo cérebro” fundido, deformado com a máquina, com o VIDEODROME. Temos uma vida administrada pelos sistemas, pelas redes sociais. Kafka e Cronenberg previu toda essa aparelhagem sistemática que consome o homem atual. Toda essa parafernália a nosso serviço está muito distante de nossas reais necessidades humanas. Portanto, declaro na minha rede social MORTE AO VIDEODROME

Ricardo Neto de Oliveira Mota
Enviado por Ricardo Neto de Oliveira Mota em 09/04/2018
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