Sobre as práticas escolares de bullying e seus desdobramentos
Um menino zoado na escola. Olhares tortos e risadas paralelas que aos poucos se transformam em zombaria generalizada. Uma criança magra, outra com sobrepeso, crianças com biótipos todo seus e que por qualquer razão passam a ser motivo de chacota e de perseguição na escola. O rendimento escolar vai caindo vertiginosamente, as relações sociais ficam comprometidas e uma sensação de impotência começa a se abater.
O enredo é sempre o mesmo: agressões escancaradas que são veladas pelo silêncio daqueles que se omitem dos fatos. A escola acaba por vezes responsabilizando a família e a própria vítima, a família por sua vez, condena a escola por não proteger seus pupilos dentro da instituição e ninguém consegue solucionar o problema. Essa incapacidade de solucionar a questão provavelmente sinalize que a culpa não é nem inteiramente da família, nem inteiramente da escola, mas que estamos vivenciando as práticas de bullying crescendo vertiginosamente nas sociedades capitalistas e globalizadas, à margem de todas as tentativas de avanços sociais que os sistemas possam demandar.
A discussão deste tema não deve dicotomizar entre família e escola, mas deve abranger a todos, ampliando-se para que a sociedade reconheça estas práticas como fenômenos sociais específicos que estão surgindo de forma cada vez mais demarcada. Não apenas o campo educacional deve se interessar pelo tema, sendo que estas práticas tangenciam os campos de estudos sociais, de psicologia entre outros. Negligenciar a complexidade que envolve a prática de bullying em reducionismos cômodos tais como dizer: “é coisa de gente à toa”, “coisa de gente que complexada”, “é coisa de gente metida a valentão” entre outras coisas só faz com que a omissão permaneça alimentando estas ocorrências. É preciso sondagem sempre, e aí sim, sondagem de todos os lados, em todos os campos e esferas. É preciso sondagem familiar dos alunos envolvidos na tentativa de traçar um perfil destes alunos o mais fiel possível acerca de suas realidades. Desse modo, atentando para traços peculiares poderão ser traçados planos de intervenção sempre considerando as singularidades que cada um apresenta, aumentando as chances de êxitos nestas intervenções.
Estas medidas discorridas influem na assunção de posturas de uma direção escolar ou de pais de aluno em caso de bullying. Gestores educacionais devem batalharia para que a implantação de projetos sobre bullying sejam permanentes ou mesmo frequentes na escola. Estes projetos além de servirem para prevenção, servem para tentar combater casos pontuais. Por meio deles também (projetos que envolvam o coletivo da escola) podemos abranger também as famílias e criar um canal de comunicação-denúncia de bullying dentro da escola. Isso é algo possível de ser feito desde que o real interesse das partes exista. Identificados os agressores, podem entram em contato com os pais, proceder encaminhamentos para centros de apoio de assistência social ou psicológica (a depender do caso).
Pais de alunos devem buscar saber por que o rendimento escolar de seus filhos está a cair e marcar avaliação psicológica, pois muitas vezes, eles se abrem com um profissional, mas nem sempre com os pais. Confirmada a ocorrência de bullying, entrar em contato com a escola buscando saber das medidas de ações que possam ser adotadas em relação ao agressor, quais condutas poderão obter para sanar tais práticas. Caso a criança/adolescente ainda se sinta inseguro ou caso não venha a reparar em mudanças positivas após o desvelamento do bullying, pode ser conveniente até mesmo uma mudança de escola, desde que se mantenha uma postura vigilante e atenta a qualquer sinal de que isso não ocorra novamente.