POR QUE GOSTAMOS DE NOS ILUDIR?
A MANUTENÇÃO DE ILUSÕES NOS RITOS RELIGIOSOS COMO “VÁLVULA DE ESCAPE”
*Por Antônio F.Bispo
Ficamos deslumbrados quando assistimos a um show de mágica bem executado. Mesmo sabendo que tudo aquilo não é real, que todas as encenações são meros truques bem elaborados pelo mágico, ficamos totalmente maravilhados com o que vemos. Gostamos disso e até pagamos para que o efeito das ilusões provocadas nos traga algum tipo de prazer. De certo modo nosso cérebro não é capaz de distinguir o real do não real. Por isso precisamos fazer uso constante de lógica e da razão identificarmos o real do imaginário.
A criação, aceitação ou manutenção de ilusões fazem parte daquilo que somos até certo ponto, até que o encarar da realidade dos fatos deixe de ser um martírio, algo que nos incomoda e passe a ser algo natural ou prazeroso. A ilusões que criamos ou mantemos são confortáveis para a alma, mas de certo modo podem trazer prejuízos ao corpo ou ao convívio em sociedade, servindo de travas, paredes e muros para a evolução conjunta da raça humana.
Líderes políticos e religiosos mal intencionados não conseguiriam ser quem são ou fazer o que fazem se não fosse pelo fato de que boa parte dos indivíduos de uma sociedade preferem viver antagônicos a realidade dos fatos, nutrindo-se diariamente de fantasias prometidas por aqueles que sabem exatamente o que dizer para manter o povo enfeitiçado. Bajular líderes políticos, religiosos e celebridades ou cultuar seres místicos são os meios mais ensináveis e aprendíveis que muitos adotam, achando que vão se dar bem na vida ou ter sucesso com pouco ou nenhum esforço. Ascenda uma vela a um santo de barro ou faça uma oração a um deus imaginário e tudo se resolve! É o que dizem direta ou indiretamente o tempo inteiro.
Muitos de nós desejamos jamais conhecer os “bastidores da vida”, o modo como alguns “truques de mágicas” são realizados por aqueles que os executam. A grande maioria de nós poderá nutrir uma ira descomunal se por acaso alguém de modo intencional vier a revelar como a vida, as sociedades e os sistemas políticos, religiosos, educacionais e militares funcionam realmente. Alguns mudaram de fase e cresceram exatamente quando flagraram seus pais colocando presentes debaixo da arvore natalina naquela noite mágica cultuada por todos. Para outros porém, esse foi o pior dia de suas vidas pois descobriram que o bom velhinho não existe, e por isso desejam que outras ocasiões como essas jamais aconteçam outra vez, por isso “dormem” o tempo inteiro, para que outras ilusões não venham a se desfazer quando você “acorda no meio da noite”.
Para tais pessoas é como se a própria vida deixasse de fazer sentido quando descobre os “segredos dos mágicos”, ou seja, o modo como realmente as coisas são orquestradas. Melhor acreditar que deus e o diabo vivem em eterna dualidade te protegendo ou te perseguindo, e que todo bem ou mal que acontece no mundo são frutos dessas batalhas infinitas do que encarar a dura realidade de que para cada ação existe uma reação, e a falta de reação em determinados casos produzem várias outras reações diferentes.
Filósofos e pensadores liberais, tem sido desde os primórdios das primeiras civilizações os maiores “inimigos do estado”, para os que cujo trono ainda subsiste pela ignorância alheia. Um desses filósofos do passado foi convidado a tomar cicuta, um tipo de veneno extraído de uma planta, por ser acusado de “corromper” os jovens com sua forma diferente de ver o mundo. Regimes democráticos quando são derrubados e substituídos por ditaduras, a primeira coisa a ser feito é executar, prender ou censurar filósofos, sociólogos, jornalistas ou qualquer pessoa que de modo escrito ou verbal venha trazer de volta a racionalidade do povo iludido por uma propaganda enganosa. Somos atraídos por um discurso bem feito e um propaganda bem montada. Não é à toa, que os políticos que mais conseguem se manter em seus cargos por muito mais tempo mesmo não valendo um tostão são exatamente os que controlam ou influenciam meios de comunicação massiva.
Outros indivíduos porém, alimentam-se diariamente do prazer de descobrir, pesquisar, argumentar, construir, descontruir ou desapegar se for necessário de conceitos já formados e inculcado na mente das pessoas, fazendo com que os tais venham a agir de modo robótico o tempo inteiro. Um conhecido cantor brasileiro dizia preferir ser uma metamorfose sem rumo, do que ter uma opinião pronta sobre tudo. Muitas poucas pessoas seguem essa linha de raciocínio.
Tais indivíduos não aquietam-se enquanto não conseguem desvendar os mistérios que envolve uma encenação de um bom “ilusionista” e mesmo assim sua vida não deixará de fazer sentido. Uma grande minoria de nós põe cada vez mais sentido a própria vida desvendando os mistérios do mundo. Para outra grande maioria, manter-se iludido é fundamental para que os tais tenham uma vida normal, livre de perturbações.
Um arqueólogo por exemplo, fica sem fôlego de tanta alegria quando encontra traços de uma civilização que antes era considerada como sendo apenas uma lenda, do mesmo modo que um paleontólogo fica a ponto de explodir de emoção quando encontra uma simples ossada de um animal desconhecido ou um fóssil qualquer de milhões de anos atrás, mesmo sabendo que tal descoberta pode fazer abalar toda a estrutura da qual sua pesquisa foi montada ou até mesmo linhas de pensamento qual a própria biologia em si se baseia. Para tais pessoas, não há problema nenhum em recomeçar do zero se for preciso. Essa é a alegria da vida! Descobrir a realidade e refazer constantemente seus conceitos torna a vida de tais pessoas cada vez mais interessante.
As religiões por sua vez criam mundo fictícios, com personagens e locais que só existem na cabeça de quem os criou, com padrões morais e espirituais inacessíveis, avessos a própria biologia humana e faz com que as pessoas acreditem que tais ilusões sejam reais, sem falar que quase sempre transformam heróis em vilões, vilões em heróis e a grosso modo os “heróis da fé”, são quase sempre pessoas de caráter ou conduta duvidosa, transformados em ungidos e homens de deus por pessoas iguais a eles ou que sofrem da “síndrome do papagaio” e cuja reputação de tais personagens jamais devem ser questionadas pelos membros, mesmo quando suas ações desfizerem do próprio conceito de fé e justiça pregado por eles mesmos.
Tais indivíduos inseridos nesses sistemas religiosos passam a viver a vida baseado apenas em duas preocupações vitais: agradar a deus e fugir do diabo. O mais frustrante para os que vivem assim é notar, que segundo a própria bíblia, deus é um cara muito aborrecido, de personalidade explosiva, mal resolvido, que se irrita com qualquer coisa, e que de fato é impossível prever com exatidão até que ponto podemos estar agradando-o ou desagradando-o, se levarmos em conta os exemplos citados no próprio “livro sagrado” de como ele recompensava seus servos. A uns eles abençoava mesmo sendo mal, trapaceiro e ganancioso. A outros ele mesmo afirma ter matado, mesmo fazendo o que fora exigido que fosse feito ou por que tiveram dúvidas em certos momentos da caminhada de servidão. Provoque desordens sociais e seja sanguinário e seja louvado como foi Davi e Josué. Procure a ordem social coletiva e o bem de todos e seja punido como foi Coré, Datã e Abirão! É muita confusão...
O conceito de bom e mau é tão confuso quanto o próprio conceito de deus o é na maioria das vezes. Com dinheiro, amizades corrompidas e um bom contador de histórias, o vilão vira mocinho rapidinho em qualquer agrupamento que venere esse deus mesopotâmico quando a história for repassada ao público.
Sendo assim, no nível de mentalidade mantida nos agrupamento religiosos, toda vez que não estamos agradando a deus, é por que automaticamente já estamos sendo usados pelo diabo e passível das punições previstas pela bíblia, pela denominação religiosa qual o indivíduo estar inserido e principalmente pelo grau de arrogância, inveja, ganancia ou ignorância do líder que lhe preside.
Deus nessas casas praticamente nada faz, apenas assiste tudo! Deixa apenas que seus representantes deem vasão as suas maldades ou criatividades e recebe o louvor por isso. Há inclusive dezenas de pregações e cânticos entre esses grupos religiosos afirmando que se ele fizer algo ele é deus e se nada fizer continua sendo deus do mesmo jeito! Muito bom ser deus assim! Qualquer um poderia impetrar para si tais atributos e não faria diferença algum e poderia também ser chamado de deus, já que a inercia parece ser o princípio de sua personalidade.
O fato de um fiel não saber ao certo qual a verdadeira vontade desse deus ou como fugir de suas punições ensinadas por esses grupos, já é por si só uma tortura infinita para as almas dos que ainda em vida se lançam em infernos mentais, preocupando-se até a exaustão em servi-lo e não ser enganado pelo mal.
Não se iluda: os dois mil anos de história da igreja provam que para ser considerado santo ou pecador depende mais do seu poder financeiro, de sua influência social e seu grau de submissão as lideranças, do que propriamente por suas ações pessoais.
Não queime seus neurônios se culpando por pecados que nunca cometeu ou se punindo a si mesmo com pesadas penitencias e sacrifícios corporais no intuito de ser considerado santo ou “gente boa” pela igreja. Homicidas, prostitutas, ditadores e genocidas conseguem esses títulos bem mais fáceis que você, inclusive podem ter seus nomes inscritos nos círculos de heróis da fé, de santos canonizados, ou serem enterrados no vaticano ou em qualquer terra santa mesmo passando uma vida inteira cometendo coisas que a igreja condena.
Seja honesto, ande em retidão e mantenha elevado padrões morais por ser bom para você mesmo, e não na intenção de ser apreciado pelos que dizem ser representantes dos deus. A maioria deles só dirão algo positivo ao seu respeito se de certa forma puder tirar proveito de ti, caso contrário, você não passará de um “filho cão”, “herege”, “pessoa sem deus” e um “condenado ao inferno” se não se submeteres a ele. Seu grau de justiça ou moralidade não significa nada para eles. Seus recursos sim!
Nessas relações de corrupção, não há méritos e nem conquistas e sim negócios! Você o teme, o reverencia, oferece seus recursos, seu corpo ou seu tempo útil para ele fazer uso e eles te chamam de santo, ungido do senhor ou homem de deus. Você impõe limite e respeito nessa relação e tudo muda!
Toda relação com os deuses por sí só já é uma relação de corrupção, pois pessoas comuns desejam levar vantagens sobre os demais por oferecer sacrifícios aos deuses e seus representantes. Os líderes religiosos costumam manter o mesmo critério em suas relações pessoais também. Você vale o que tem a oferecer. A história que se preocupam com sua alma é apenas outra ilusão vendida por eles.
A cereja do bolo dos que vivem nessa vida louca, preocupados em agradar aos deuses consiste em saber que praticamente toda igreja condena ou rejeita o rito de culto alheio, fazendo com que seus fiéis sejam criaturas eternamente confusas, pois vivem a questionar se estão ou não fazendo o certo de modo certo já que outras pessoas fazem diferente e também dizem estar servindo ao mesmo deus, ou tornando tais pessoas arrogantes o bastantes para julgarem a si mesmas escolhidas e destinadas a um paraíso fictício enquanto todas as demais pessoas no mundo receberão o castigo eterno só por terem se juntado a um grupinho de pessoas de mente medíocre e atribulada, que cumprem determinado rito religioso julgando ser esse o mais certo de todos. Esse modelo de crença, quando não torna o indivíduo paranoico o deixa arrogante, ou os dois ao mesmo tempo.
Nos recintos produzido pela cega fé, é proibido evoluir, mudar de fase, avançar ou querer saber além daquilo que a hierarquia de “ungidos” e gurus dizem ser a verdade absoluta e universal. É proibido olhar por trás das cortinas para ver como tudo acontece. Pessoas de vários segmentos religiosos cristãos por exemplo pagam entre 10 a 30% mensalmente de tudo quanto ganham para serem iludidas e permanecerem na ilusão que são melhores que os outros e vão para um lugar melhor ou que serão ricas sem trabalhar e que terão uma boa saúde mesmo tendo uma vida sedentária e sem educação alimentar apropriada.
Todo o conceito de verdade nesses grupos vem “mastigado” pelos líderes e dado aos fiéis como sendo um pão quentinho que desce dos céus. Mais de 1500 anos de história sobre a idades das trevas produzidas no ocidente justamente por aqueles que diziam ser os guia de acesso aos seres de luz não foi o suficiente para fazer com que nossa sociedade adotasse uma outra postura referente aos líderes religiosos que proíbem o uso da razão, da lógica e do bom senso. A submissão cega a tais pessoas ainda é moeda de troca para ascender em alguns níveis sociais.
Pessoas que dependem desses sistemas para se auto afirmarem, se deixam convencer que são miseráveis pecadoras destinadas a perdição e que homens iguais a eles mesmos (ou em certos casos piores ainda), podem intermediar essa redenção com jesus cristo, um tipo de homem-deus fruto da junção de personalidades de deuses de várias crenças diferentes e que por meio de rituais inúteis e linhas de pensamentos que se contradizem o tempo inteiro podem alcançar perdão de pecados que nunca cometeram
O que essas pessoas mais temem é de conhecer a realidade e de saberem que elas mesmas são responsáveis por seus destinos e não os deuses. Transferir nossas responsabilidades a seres do imaginário coletivo é uma forma que pessoas não evoluídas encontram para não conduzirem a própria vida e não serem responsáveis por suas ações. Assim, se tornam agressivas ou possessivas cada vez que tem os pés molhados na praia, cujas águas levam ao oceano da verdade e do conhecimento. É bem mais fácil dizer a si mesmas “deus estar no controle de minha vida” do que dizer “sou responsável por minhas ações, meu fracasso ou meu sucesso”!
CONTINUA...
Texto escrito em 28/1/18
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.