Sobre a vida

E então a gente olha para o céu, observa a impressionante quantidade de estrelas, e se pergunta se há algum outro lugar do Universo com vida. Com isso, estamos a dizer que nada daquilo que observamos na noite estrelada é igual à vida.

Podem estrelas surgirem e desaparecerem, podem planetas se chocarem ou serem engolidos, podem cometas atravessarem a nossa órbita, podem asteroides se deslocarem até a Terra e causar uma destruição em massa, podem buracos negros sugarem tudo, tudo, até a própria luz, mas nada disso é igual à vida.

Por isso buscamos os alienígenas, mesmo que seja apenas uma bactéria. O ideal, no entanto, é que haja vida complexa e inteligente como a nossa – achamos que somente nesse caso se pode justificar a existência do Universo, somente através da vida, e da vida como a nossa.

Nada do que vemos em uma noite estrelada é vida. Nada do que o Hubble conseguiu observar é vida. Temos a vida como melhor que a não-vida, e disso resulta a nossa profunda indiferença, a superioridade com que nos dirigimos a tudo aquilo que não respira e onde não bate um coração.

Como somos a vida, não temos motivo para achar que partilhamos da mesma natureza do que não tem vida. Somos outra coisa, e o que não tem vida só nos diz respeito na medida em que afeta a nossa própria vida – razão de ser do Cosmos.

Não se trata de um novo animismo, não se trata de atribuir, a todas as forças e todos os entes sem vida, um espírito a animá-los, mas a de reconhecer que todas as coisas comungam do mesmo mistério e são parte de uma mesma, impressionante e inexplicável, viagem cósmica.

Não se trata, igualmente, de outro panteísmo, de divinizar cada pedacinho da natureza do que nos cerca, mas a de compreender que tudo, desde o começo, está tão inter-relacionado que a simples separação do que é vida já não nos diz muito.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 22/01/2018
Reeditado em 22/01/2018
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