Ensaio e Narrativa Sobre o Tempo

Feliz Ano Novo!

Ensaio (e Narrativa) Sobre o Tempo

Este; cujo próprio nome pode ser esperança para uns; desespero para outros; desilusão de muitos, satisfação de alguns, e prazer de uns poucos (dependendo é claro de cada um e da própria situação); estava antes de nós. Está agora, e estará para muito depois de nossa consciência ter-se perdido. Ele marca; registra e situa fatos e acontecimentos. Dos mais insignificantes e passageiros, aos mais importantes e duradouros. Embora seja ele mesmo uma simples contagem em um ininterrupto e infinito passar. Ele marca. Situa e guarda as experiências da própria vida como um todo, e de nossa existência em particular. Situa e memoriza a própria história de tudo e de todos. A minha e a sua. Então não me diga que não teve tempo disso, ou para aquilo. Você o usou para alguma outra coisa e depois alegou que não o teve. Também não me diga ou alegue que o perdeu, ou que ele é um desperdício.

O motivo deste ensaio não é ensinar o tempo; seu valor e importância. Nasceu de um encontro. Uma conversar com alguém que eu muito respeito. E sei e sinto que a recíproca é verdadeira. Exatamente por isso que não posso ignorar seu descaso e desprezo pelas datas. Ora! Elas são o próprio registro na infindável linha ou passar do tempo. Neste encontro; disse-me ele: É só mais uma data. Uma oportunidade para melhorar as vendas. E esta em particular (natal e fim de ano) é uma verdadeira hipocrisia. Discordo! Respondi eu. Defenda! Sou todo ouvidos. Ele me incentivou a continuar.

Antes de prosseguir (eu lhe disse), diga-me meu amigo. Quantos anos você tem? Ao que ele me olhando de soslaio, respondeu. Quarenta e cinco. Mas por que a pergunta? Aproveitei seu embaraço e falta de atenção ao assunto e complementei.

Ai está! Você só sabe disso porque o fato do seu nascimento foi registrado. E esse registro nada mais é do que uma anotação na linha do tempo. Tá mais e quanto o dia das mães, dos pais, do professor, etc. É mero comércio. Todo dia é dia das mães e de tudo mais que se comemora em um único dia. Disse ele.

É apenas um símbolo. Embora tenhamos na cabeça que todo dia devia ser dia de tudo, inclusive das mães, dos pais etc; não é todo dia que abraçamos nossos pais, lhe desejamos felicidade e dizemos o quanto os amamos. E não lhe damos presentes todos os dias. Então foi instituído e aceito um dia para isso. E para tantas outras datas e comemorações. Desabafei.

Está vendo? Comércio, amigo. Comércio! Irritou-se ele.

A data. Esta; e muitas outras; nasceram com outro propósito. O comércio vendo nisso uma oportunidade lucrativa apropriou-se da situação. Isso não a desqualifica ou desvaloriza.

Ele riu e soltou: E o Natal? Esse absurdo de hipocrisia!

E antes que ele dissesse algo do qual eu desconsiderasse o respeito que lhe tenho; corri em defesa do Natal.

Com uma ou outra exceção; por questões culturais e ou religiosas; datas como o Natal e a passagem de ano, não são comemoradas na data instituída e aceita por quase todas as nações do mundo meu amigo. O Natal nada mais é do que uma data simbólica (por dificuldade e provas da verdadeira data) para o nascimento do maior símbolo da cristandade. Ao chamar a data de hipocrisia, tu estás a chamar quem a aceita e a comemora de hipócrita. Estás mesmo disposto a aceitar o peso e a responsabilidade disso? Em sã consciência estás mesmo em condições de apontar o (erro) de quase todas as nações do mundo diante do teu conceito sobre o Natal? Tivestes o teu devidamente registrado. Que autoridade tens de negar o natal de outro; ainda que justificadamente simbólico?

Meu amigo sorveu o último gole de cerveja; apressou-se em pagar, e demonstrando uma inesperada pressa, abraçou-me amavelmente. Despediu-se e foi saindo. Prometendo que nos encontraríamos novamente.

Por sarcasmo ou deboche (não sei qual dos dois eu usei), lhe desejei um Feliz Natal, e um Próspero Ano Novo, enquanto o abraçava.

De bom humor, mas nitidamente constrangido, ele me devolveu. E disse: Passarei dormindo.

Ao que eu emendei: Isto estará registrado no tempo. E completei: Quando alguém lhe perguntar onde, ou com quem você passou o Natal; você o dirá. E isso só será possível porque estará registrado na sua memória que buscará na linha do tempo esse fato. Então entenderá meu amigo; que você mesmo é obrigado a recorrer a data que tanto despreza para justificar e responder a pergunta. Sorri. E Lhe desejei felicidades.

Pense duas, três vezes. Ou quantas vezes forem necessárias, antes de conceituar o tempo e as datas. Os registros da história. Sua própria história não está para além ou aquém da história de todos. Da própria história do mundo e da vida.

Desejo a todos os que visitaram meus textos, e aos demais escritores, poetas e pensadores, Um Ano Novo Repleto de Boas Realizações.

Feliz Ano Novo/Farias Israel

31/12/2017-SP

Farias Israel
Enviado por Farias Israel em 31/12/2017
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