O personagem chamado Christian

Era uma vez um príncipe chamado Christian...

Opa história errada, me desculpem acho que acordei com a cabeça nas nuvens.

Esta história fala de um jovem rapaz chamado Christian, ele tem 15 anos, 1,65 cm, cabelo curto castanho escuro, olhos pretos, pele morena, tem uma pinta próxima a boca que é grande e carnuda, sobrancelhas grossas e está no seu segundo ano do ensino médio. Ele era estiloso, descontraído... tanto que em um dia qualquer  no horário do intervalo em sua escola ele esbarrou em uma garota, ela era alta, morena, magra, tinha o cabelo castanho claro e seu tamanho era na altura do ombros, seus olhos também eram castanhos, porém escuros, tinha a boca grande e carnuda  de sorriso meigo, era um ano mais velha que ele pois ela pertencia ao outro  corredor que só ficavam os veteranos, ele a cumprimentou e a única coisa que ele conseguia era olhar para aquele sorriso que era como uma estrela que ilumina o céu a noite. Eles se saudaram tímidos e em seguida Christian foi para o pátio, para junto seus amigos onde costumava passar o intervalo. O pátio era um grande quadrado onde tinha um palco numa ponta e na outra tinha a cantina da escola e a lanchonete, que por sinal vendia as coisas por um preço absurdo no qual o jovem Christian não queria gastar um centavo sequer nela, pois tinha a melhor comida da vida em sua escola e isso era o que importava.

Depois daquele dia, ele sentiu uma enorme vontade de conhecê-la, saber seu nome, puxar assuntos aleatórios e ver aquele sorriso novamente. Mas ele tinha suas limitações e tinha dia que até conseguia puxar  assunto mas em outros ela simplesmente não aparecia, e às vezes a via distante indo para a casa na hora da saída, mas como não tinha muita intimidade com ela não quis gritar e pedir para esperar por ele, mas ele iria falar o quê? Não fazia ideia e isso o deixava pra baixo, porém preferiu prosseguir.

Houve dias em que ela simplesmente se esquivava dele, com o semblante tristonho, outros ele via ela estonteante de alegria, ela era um poço de ministérios e a única coisa que ele conseguia fazer de fato era cumprimentá-la e escrever seus textos em folhas em branco. 

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Ela parecia um furacão, mal sabia ele que estava a ponto de entrar em erupção. De fato ele não a conhecia, ela o admirava muito e até desejou ser bonita para que ele a dissesse que era linda e quem sabe se apaixonarem como num filme de romance que ela a sua vida inteira passara assistindo. Porém sabia que isso não iria acontecer, ela não era bonita, não como as meninas de sua sala, não como as mulheres de sua família e principalmente não como sua mãe que era totalmente diferente de sua aparência, sua mãe era branca com olhos verdes, baixa e loira. Uma verdadeira deusa grega que tivera uma filha problemática, feia e desastrada, que não era notada por ninguém de sua família. Ela quis tanto ser invisível, pelo simples fato de sua vida não ter mais sentido, brilho ou cor, que conseguiu com que ninguém mais a notasse de verdade, ou era aquilo que ela conseguia ver e seus sentimentos se despedaçavam  por dentro.

Os amores platônicos, a ausência de atenção e amor de sua mãe, a falta que fazia ter um pai que ela nunca teve, os bullyings que sofrera na escola desde a quinta série, as brigas intensas com os amigos por coisas que ela considerava importantes mas que os outros não davam a mínima, a vontade de sumir, tudo a sua volta não fazia sentido, só a deixava louca, achou que iria enlouquecer, e passava suas noites chorando por milhares de vezes, por milhares de razões, se sentia inútil, incapaz, feia, não sabia o porquê que ninguém a queria, pois ela tinha tanto para amar mas não era amada nem pela própria mãe e isso a machucava, fazia seu coração sangrar... Ela só queria que tudo aquilo acabasse de uma vez...

Às vezes sonhar a fazia esquecer da dor, e escrever a ajudava a distrair a mente, precisava se distrair, era o jeito, até a hora em que mais odiava, a hora de ir para a casa e voltar para aquele quarto, aquela vida miserável na qual não via uma saída, não via uma motivação pra viver...

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Christian não conseguia tirá-la da cabeça, por mais que ele quisesse seguir em frente, ele simplesmente sabia que poderia fazer mais, ir além do que a sua timidez permitiria, ser ousado e puxar assunto, pegar seu número, trocar mensagens com ela. Decidiu então que não iria mais perder tempo.

No dia seguinte, foi para a escola como de costume e esperou ansiosamente pela hora do intervalo. Quando tocou o sinal, sua primeira reação foi dá um pulo da cadeira e ir em direção a porta da sala que dava para um corredor e após alguns metros da porta que levava ao pátio da escola, ele ficou no lugar de sempre com uns amigos em volta, olhando sempre em direção a porta que dava para o outro corredor onde era a sala daquela garota, no qual não sabia o nome, ficava.

Após algum tempo tocou o sinal para entrar então ele percebeu que de duas uma, ou ela não tinha ido para a aula ou ficara na sala na hora do intervalo. Agora era se concentrar na aula e esperar a hora de ir embora para que a esperança de vê-la ainda estivesse viva. Quando a sua aula acabou, ele arrumou suas coisas e foi embora observando cada pessoa ao seu redor e ainda tendo esperança em vê-la hoje, contudo ela não tinha ido a aula hoje.  Foi para casa e sentou-se logo em frente ao computador e deu uma de "stalker", porém como não sabia seu nome sua busca seria mais complicada, contudo ele tinha tempo e paciência de sobra, e começou a vascular os perfis de alguns amigos que tinha e que sabia que era do ano dela. Depois de alguns minutos não obteve sucesso, então decidiu comer e escrever uma poesia que pairava em seu coração na qual a inspiração sem dúvidas era ela, a garota sem nome.

No outro dia, acordou atrasado e saiu correndo, atropelando as coisas até, em direção a escola. Ao passar pelo portão de entrada esbarrou em uma menina e derrubou seu caderno e livros com o esbarrão, pediu desculpas e logo pegou seu caderno que estava aberto e que dava para ver seu nome, endereço, etc. Leu em silêncio o nome Dryka e logo fechou e devolveu seu caderno, agora olhando para a menina, opa é ela! Sua cara de surpresa era notável assim como o da garota, que agora sabia o nome. Sorriu para ela e pediu desculpas novamente e foi puxando assunto até a hora de se separarem no pátio onde cada um iria para seu corredor distinto.  

E seu dia havia se transformado como num piscar de olhos, seu humor imediatamente mudou, a aula parecia mais interessante, mais viva. E teve dificuldades em prestar atenção pois seus pensamentos iam direto para ela, mas ele tinha outros objetivos além do amor por isso se esforçou até conseguir focar novamente. Estava abarrotado de trabalhos, mas antes de pensar neles ouviu o sinal da hora do intervalo e se animou, dessa vez esperou os amigos, fez cara de marrento, e esperou para vê-la com aquele sorriso novamente. Na fila da cantina ela o viu e foi comprimentá-lo, tiveram um breve diálogo e combinaram de se encontrar no portão após às aulas.

No portão da escola ele a esperava ansiosamente, pensava se era normal ficar ansioso e nervoso, se sentia um idiota, mas era algo mais forte do que sua masculinidade. Ela saiu e eles foram andando e conversando distraidamente. Ele comentou de relance sobre ela ter faltado um dia desses, ela tentou se esquivar do comentário dando uma resposta engraçada, mas ele guardou para si a observação que fizera disso, talvez ela estivesse com problemas, devo ganhar sua confiança, sermos amigos, quem sabe ela não se abre em algum momento. Ele a acompanhou em um trecho do seu caminho para casa e depois seguiu o seu, mas antes disso tinha pego seu número o que era um grande avanço para um dia só.

Naquela noite o jovem Christian sonhou, e no seu sonho estava ela, tão linda em um terraço de um prédio bem alto, com um vestido grande estonteante que favorecia a cor de sua pele e o cabelo preso de um lado, mas em seu rosto haviam lágrimas e maquiagem borrada por elas, seu olhar era de dor, e a única coisa que ela disse foi "Me salve, Chris" e pulou para a morte. Christian acordou encharcado de suor, afastou o cobertor e sentou-se na cama ainda bêbado de sono e horrorizado com o sonho..

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Dias se passaram e ele conseguiu ganhar sua confiança, sua amizade e já conversavam sobre várias coisas. Descobriu que ela também escrevia e que amava poesia e coisas românticas. Também sabia que ela se sentia insegura com sua aparência e que até então nunca havia recebido um elogio sincero de um garoto apaixonado, e que ainda sonhava com o seu príncipe encantado e tudo mais. Em uma conversa em que ela estava se sentindo mal, com um humor péssimo, ela disse que era aquilo que ninguém queria, um lixo descartado, porém no impulso disse a ela que ele a queria, mas isso era estranho vindo dele, mas ela concordou porque tinha chegado a conclusão de que todos dizem coisas da boca pra fora e não do que vem do coração de fato. E ele não soube como fazê-la acreditar, por isso a deixou sentir sua tristeza por hoje, mas daria um jeito de mostrar a ela que estava errada.

Numa quarta-feira, eles estavam sentados numa praça conversando após a escola e rabiscavam em uma folha de caderno, Christian não fazia ideia do quanto aquela garota tinha se tornado importante para a vida dele, como tinha o feito mudar, mas ela sabia que ele não a aguentaria por muito tempo, devido as suas crises e mudanças de humor, mas ainda sim ele era importância para sua vida e o quanto ele a distraía de suas dores e lamentações. Então inesperadamente eles tocaram suas mãos sem querer e ela o olhou vermelha e pediram-se desculpas ao mesmo tempo e riram disso se sentindo bobos, e então ele sente que quer tocá-la, que precisa tocá-la mais uma vez e segura sua mão e olha em seus olhos...

E diz :"você é linda sabia, devia parar de se torturar assim"— ela não tem coragem de olhá-lo nos olhos, reprovando com a cabeça seu  elogio este contendo para não começar  a chorar, respira fundo —.

E diz: "não consigo acreditar"- visivelmente se sentindo tortura por aquele momento.

Ele segura seu queixo e levanta-o forçando ela a olhá-lo e diz:" mas devia".

Então a beija, um beijo tímido, terno e doce, suas mãos acariciando seu rosto quente, e ela não consegue fazer nada além de retribuir o beijo, mas sem toques. Quando ele a olha vê seu rosto corado, e ela só consegui dizer uma coisa antes de ir.

— Você não deveria ter feito isso - E sai.

Desde então ela evitava ele, até que o ano letivo acabou, ela se formou e ele nunca mais a viu.

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Anos depois, eles se reencontram nas redes sociais e começaram a conversar, e aos poucos voltaram a ser amigos. Agora Dryka está terminando sua faculdade de Letras assim como Christian de História, ela se tornou uma mulher ainda mais linda do que era mais nova e Christian também se tornou um homem bonito, apesar de parecer não ter mudado tanto assim, mas amadureceu e se tornou um homem charmoso. Dryka estava solteira, havia terminado o namoro fazia alguns meses e Christian era divorciado, não teve filhos e ficou feliz em saber que aquela paixão da juventude voltara a bater forte em seu peito, mas se conteve não querendo se precipitar como da última vez. 

Decidiu convidá-la para sair e relembrar os velhos tempos e talvez conseguir sua remissão por ter dado aquele beijo que causou a separação dos dois, na qual ele nunca se esqueceu.

Foi numa tarde de sábado que o encontro aconteceu, o dia estava esplêndido, com o sol radiante e o céu bem azul com aquela brisa de verão. Eles combinaram de se encontrar no parque da cidade, fazer um piquenique e conversar sobre a vida. Dryka chegou primeiro como sempre ela era ansiosa e mais que pontual, Christian chegou uns dez minutinhos depois que ela, estenderam um lençol na grama verdinha e se sentaram e começaram a conversar.

— Então como você está? - Dryka falou distraidamente.

— Estou bem, obrigado. E você? - disse lhe sorrindo.

— Ah tirando a noite mal dormida estou bem. Hoje está um dia lindo, não é mesmo? - então sorriu e Christian pode rever aquele belo sorriso inesquecível.

— Com certeza. Bem queria te pedir perdão por aquele beijo anos atrás, não sabia que iria te magoar e fazer com que se afastasse de mim. - Ele disse meio inseguro, com medo de que ela fugisse mais uma vez.

Houve um minuto de silêncio, isso a pegou de surpresa e inevitavelmente a deixou sem resposta naquele instante.

— Bem... - Dryka começou a falar mas não achava as palavras certas. - Tudo bem, eu estava passando por uma situação difícil e o que eu menos queria naquele momento era um coração ainda mais ferido, entende?

— Entendo bem. Mas fico feliz que você tenha aceitado o meu convite e ter voltado a falar comigo. 

— Ah! Todo mundo merece a segunda chance.

E conversaram por horas e horas, riram, se divertiram e no final o passeio foi melhor que o esperado tanto para Christian quanto para Dryka. E daquele dia em diante a amizade daqueles dois nunca mais foi a mesma, talvez a idade os tenha amadurecido. Com suas vidas encaminhadas e por fazerem parte da área da educação, constantemente debatiam sobre algumas questões pertinentes e confusas. Viviam trocando mensagens e saindo no final de semana para vários lugares, e o mais interessante de tudo isso é que foi algo tão natural que nenhum dos dois percebeu até o momento.

Um ano depois, Dryka estava desesperada ao telefone, e Christian sabia que algo ruim tinha acontecido e foi ao seu encontro em seu apartamento, chegando lá a encontrou aos prantos e com uns cinco testes de gravidez espalhados no chão da sala e ela estava sentada no chão também, sem conseguir ao menos erguer os olhos e olhar para Christian. Ele se aproximou dela e a envolveu num abraço apertado que cheirava conforto e segurança, e quando ela finalmente se recuperou, disse apenas uma palavra que mudaria definitivamente a vida dos dois, seja para pior ou melhor.

— Christian, eu estou grávida! - e voltou a chorar.

Fim

Adriádna Herciliani
Enviado por Adriádna Herciliani em 29/12/2017
Reeditado em 11/12/2019
Código do texto: T6211214
Classificação de conteúdo: seguro
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