A Beligerância e a Loucura

Essa minha relutância em aceitar algumas coisas como elas são, me torna por vezes um ser beligerante. Mas já até desisti de tentar entender, ou de me fazer entender. Que seja como tem que ser, que pensem sobre mim o que quiserem pensar. Se algum dia calhar de eu estar com vontade tamanha para querer me explicar, melhor, senão, que seja assim, como queiram.

Eu não tenho pretensão alguma de ser influente, tornar-se “destaque” dá muito trabalho, não é fácil ser popular. Sua vida e suas ações ganham proporções imensas, que nem Deus consegue mensurar. Ser destaque é sujeitar-se à vigilância constante de quem nem se importa deveras com você.

Eu mesma sempre tenho que guerrear comigo, ora para ser mais submissa, ora para ser mais incisiva. Penso que não ter uma consciência aguçada e impetuosa, torne bem mais fácil o viver. Eu já me deparei e debati demais com os problemas que até cansei, mesma coisa que tentar remar contra a maré... Desnecessário.

Esses meus trejeitos irritantes, essa minha inquietude d’alma, me fazem pensar que algo interno quer se manifestar de forma agressiva, e entra em luta com a parte ainda “racional”... Como se fosse possível. Mas sim, tenho conseguido lograr êxito nestas lutas metafísicas e alheias à minha compreensão.

Meu modo de falar sobre mim parece meio alucinado, mas não sou considerada louca nesta cultura e geração. Ao menos ainda não me enclausuraram num manicômio e atestaram, segundo seus próprios métodos enigmáticos, a existência de minha loucura. Ou pode ser que minha loucura não lhes faça mal, por isso não se importunaram ainda. Ainda.

Vivemos dias conturbados, dias em que a minha esperança na humanidade está se esvaindo, dias em que as pessoas se orgulham de se comportarem retrogradamente, humilham-se e humilham uns aos outros, em nome de uma ideologia que pode ser revogada num futuro próximo. Lutam e relutam em nome do nada, e não avaliam a própria consciência. “Que será consciência?” - dizem.

Pessoas que agem como seres desprezíveis, representantes públicos que só vêem o próprio bem-estar. Representantes religiosos que agem como CEO de corporações empresariais, que só visam o “lucro terreno”, e esqueceram-se do que significa amor incondicional. Humanos que não respeitam outros humanos, crianças que são pisoteadas por adultos. Adultos torpes que se interessam por relações sórdidas com bebês. Pais que matam seus filhos e ainda os comem como se fosse um pedaço de filé.

Eu ainda deveria me sentir mal em não ter mais fé em nós? Ou será que se parássemos para pensar, desligados da tecnologia e da futilidade não veríamos o mundo terrível que está lá fora?

Por outro lado sei que, já que nada nos resta, o mínimo que podemos fazer é tentar amenizar nossa dor, que essas futilidades (as quais eu também gosto, não me isento de forma alguma) nos traz uma sensação de bem-estar. Essa sensação de bem-estar momentâneo é que nos prova (assim o pensamos) que não estamos loucos. Os loucos são aqueles que chegaram a patamar tal da consciência de mundo, que lhes fora impossível retroceder e conviver em homogenia com os demais. Mas nós, como somos muitos, os condenamos a reclusão e ao veredito da loucura. Como se guerrear e matar uns aos outros não o fosse. Viva nossas futilidades que nos fazem tão sadios e tão senhores de nós mesmos.