Ser e Não Ser
Numerosas são as vezes em que nego interferência relevante das características inatas nas capacidades deliberativa e atuante dos homens. Tantas vezes mais coloco sobre o meio a responsabilidade por tais construções cognitivas, materiais e psicológicas.
Mas para que essa trajetória materialista não mine integralmente nossa individualidade psíquica e espiritual, o que, aliás, não o faz, sou obrigado a reconhecer a existência, a priori, daquilo que somos hoje, porém com uma correção nesse entendimento: existência, a priori, daquilo que podemos vir a ser.
Onde essa correção interfere? Ela nos dá a possibilidade de aceitar características inatas, naturais, mas ainda assim coloca sobre o meio a responsabilidade por selecionar tais características.
Não tenho motivos lógicos ou metafísicos para sugerir uma diferenciação na essência humana, logo, somos todos originados da mesma essência que carrega em si todo o potencial do ser e do fazer. Não há julgamento, ético ou moral, sobre a essência pois ela antecede nosso entendimento sobre tal, a essência não é nada senão essência.
A natureza daquilo que chamamos maldade, por extrair-se da essência, é tão natural quanto a que entendemos por bondade. Mas por ser natural não é necessariamente conveniente; além das condições geográficas é na sociabilidade,principalmente, que ocorrem as seleções daquelas características. Podemos ser bons ou maus, mas independente do que sejamos, foi o meio que selecionou tais características.
Tal pensamento favorece a igualdade humana. Aqueles naturalizadores de capacidades inerentes se equivocam quanto não atribuem aos sucessos a trajetória percorrida pelos vencedores.
Essa visão iguala integralmente cada um dos indivíduos e ao mesmo tempo invoca a individualidade perfeita, pois nenhuma pessoa está sujeita às mesmas excitações nem se relaciona com o mundo da mesma forma.
Somos iguais enquanto "não ser", mas diferentes enquanto "ser", simultaneamente.
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