ENCANTAMENTO
Quando eu era criança, Minha Mãe costumava me contar histórias sobre Princesas Encantadas.
No meu desconhecer, ficava fascinada, imaginando como seria, na realidade, esse fenômeno – ENCANTAMENTO!
Qual o seu motivo real, a sua função, a sua real necessidade!
Um dia não resisti e, perguntei tudo isso à Minha Mãe. Ela, como sempre, não me deixava sem resposta.
_____ Encantar-se, é desaparecer das nossas vistas, filha!
Questionei.
_____ Assim... feito a Mãe Preta? O Jasmim? A Baleia? O Turco? O Samboga? O Mimoso, e... todos os outros?
Minha Mãe parou de trançar a palha de coqueiro, da qual fazia um abano. Ela percebeu o tremor na minha voz. Sabia que eu estava tentando conter o pranto. Pegou minhas mãos, me olhando profundamente disse.
_____ Mais ou menos! Os seus animaizinhos foram encantados!
_____ Mas eles morreram Mamãe! Você falou que se a gente não os enterrasse, eles... ficariam fedendo e os urubus vinham “puxar”! As Princesas Encantadas da sua história não morreram, não foram enterradas... ou foram?
Minha Mãe riu. Aquele riso solto e cristalino, desatado. Ela sabia que, para me convencer de algo, necessitava ter argumentos muito bem embasados. Encostou sua testa na minha e, me olhando no fundo dos olhos, ainda rindo, falou...
_____Não filha, as Princesas não estão mortas... apenas Encantadas!
E, sabendo que essa resposta não me convenceria, emendou...
_____ Assim... lembra quando viajo?
Acenei afirmativamente, sem deixar de encará-la.
_____Pois então?! Quando você não mais me vê, lá na curva da estrada, é como se eu tivesse me encantado, mas eu não morri, certo?
_____ Mas a Princesa não caminha pela estrada, Mamãe. Ela não desaparece, lá, na curva do caminho! É assim, de repente, puft... e some!
Minha Avó – Sinhá Águeda e Minha Tia – Maria de Nazareth, quase sempre estavam presentes nessas contações de história, e, nessa tarde, elas estavam. Caíram na gargalhada. Minha Avó falou baixinho, apertando as pálpebras gazas, quase fechando os olhos.
_____Agora eu quero ver!
Minha Tia que, igual Minha Avó, quase não falava, disparou...
_____ Vai Lala! Explica pra ela, bem direitinho como é se encantar!!! Eita menina tinhosa... com ela, é tudo: Tim tim por tim tim!
Minha Mãe sorriu e continuou.
_____ É como um Milagre, assim... como quando você fecha os olhos para receber um presente... que é uma surpresa!
_____ Mas presente não é Princesa, Mamãe!
_____ Verdade filha, presente não é Princesa mas, Princesa é presente, assim, como você é um Anjinho de Nossa Senhora das Graças!
_____ Verdade?! Mas eu não tenho asas mamãe!
Minha Mãe desistiu.
_____ Vamos torrar castanhas de caju? Tem um cesto cheinho, lá no paiol! Vamos?
Era a minha fraqueza. Amo castanhas de caju, torradinhas, acompanhadas de um delicioso chá de capim-santo, feito na hora e adoçado com mel de uruçu.
_____ Ebaaaaaa... vamos sim mamãe!
E o interrogatório sobre ENCANTAMENTO acabou. Eu estava ENCANTADA com a ideia de comer as deliciosas castanhas!