Anjo renegado
Minha queda foi quando me afastei do caminho.
A quem poderia escolher?
Usei de meu livre arbítrio e desci ao pico dos montes.
A queda foi quando alcancei o chão e feri meus calcanhares.
Asas quebradas, antes alvas, agora manchadas pela terra.
Toda a minha santidade foi sendo tomada como se minhas vestes fossem rasgadas e partidas ao meio.
A humanidade suplicava por misericórdia e pedia por clemência. Eis que de repente, senti-me humano como eles.
Se uma vez elevei-me sobre as nuvens, agora saltava e caminhava pelas rochas. Me vi acorrentado por essas amarras. Quis interceder pelos homens, enxugar suas lágrimas, curar suas dores, me compadeci de seu sofrimento.
Os céus me perdoem.
Agora pertenço aos renegados, que, como eu, olharam pelos homens, e pelas criancinhas, e pelos pequeninos, e pelos enfermos, e pelos andarilhos, e pelos amaldiçoados, e pelos injustiçados, e pelos que estavam prestes a perecer em batalha, e pelos que se deram por vencidos, e pelos que foram jogados aos cães, e pelos corações corrompidos pelo desamor mas que certa vez amaram ferrenhamente, e pelos incautos, e pelos perseguidos e por todos aqueles que não conheceram a compaixão e não tiveram o amor semeado em seus corações.
Nos quatro cantos da terra, lá estarei embainhando minha espada e levando esperança aos desesperançosos. Meus poderes de cura serão para acalmar os espíritos daqueles que estão cansados e perjurados.
Sou eu, anjo renegado.