Eu preciso dizer alguma coisa.

Eu preciso dizer alguma coisa. Deve haver algo a ser dito. Não é possível que eu deva me limitar a adorar os mortos. Alguma mensagem talvez foi esquecida pelo caminho. Posso tentar recuperar alguma coisa, ou desvendar novos segredos, pois não teria sentido existir uma porta inviolável. Mas, mesmo assim, há sempre a possibilidade de abrir por dentro, ou seja, encontrar uma escapatória. Um dia ainda hei de me dedicar a escrever sobre as correntes, essas que apertam os pulsos. Por enquanto, limito-me a pensar sobre as formas de subterfúgio. Isto quer dizer que é hora de elaborar um esquema, ou uma estratégia eficaz. Conheço um senhor que sabe cavar longos túneis, ele poderia vir a ser bastante útil. Tenho um outro amigo que vende armas, seria interessante estarmos preparados caso tenhamos algum inconveniente, ou uma surpresinha indesejada. Sabemos que devemos estar preparados pra tudo. Seremos nós contra os inimigos. Ninguém poderá nos prender em uma jaulinha, nem amarrar nossas mãos. Pelo contrário, a lei será ditada por mim, eu serei o novo Rei. Agora obedeçam às minhas ordens, vamos tomar à cidade: 1) Queimem os monumentos e os presídios, destruam as imagens dos ídolos, derrubem as igrejas e as casa de adoração. 2) Construam uma fortaleza para mim. Quero a melhor casa, situada no lugar mais belo do mundo, onde eu possa viver sem ser perturbado por nenhuma preocupação humana, podendo me sentir livre para viver como um animal, herdeiro de uma fortuna infinita, alimentado por enormes pedaços da carne dos bichos exóticos, tendo a possibilidade de viver a melhor vida. Esse lugar deverá se parecer com um lugar que eu vi uma noite, em um sonho que tive na época em que eu estava preso, na cama, sonhando com a liberdade que hei de conquistar junto à minha tropa que está prestes a entrar lá, passar por essa porta maldita, e tomar tudo que nos pertence e que nunca mais ninguém poderá nos saquear. E, na noite em que a batalhar terminar, e o vencedor for anunciado, hei de dormir o sono dos vencedores.

Carlos Gadamer
Enviado por Carlos Gadamer em 06/12/2017
Código do texto: T6192049
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