Vida que segue
Meia noite e quarenta. Ele desce do ônibus, a mochila nas costas. Os passos arrastados, um olhar mórbido, a voz não sai. Entra em casa. Acende uma luz. Um copo de leite e um micro-ondas sobre um frigobar. Goles grandes. Tira os sapatos. Se joga numa cama de solteiro. Um quarto miúdo. Uma TV na parede. Um banheiro pequeno. Cinco e dez da madrugada. O som desperta para o dia duro. Banho frio. Se arruma às pressas. A mochila nas costas. Caminha bambo. Um ônibus lotado. Em pé por duas horas e meia. Desce no Centro. Caminha mais meia hora. A rotina não se renova. Nem apresenta um leve mudar de ares. São oito e quinze. Bate o ponto. Educado diz:
“Bom dia”.
“O senhor está atrasado”.