Desmascarando os Ideólogos da Educação
Chamo de ideólogos da Educação todos aqueles que vendem discursos sobre a educação pública, o que ela é e deveria ser, sem no entanto apontar soluções ou projetos concretos para isto.
Divido estes ideólogos em duas categorias principais, conforme vou descrever abaixo.
a) Ideólogos Educacionais dos Sistemas Privados
São encontrados facilmente em revistas como a Veja, no Instituto Milênio e em outras organizações voltadas para a defesa de privatização, tipo mercado resolve tudo. Beneficiários diretos são os grandes grupos que fornecem suporte didático e material para escolas particulares.
Eles vendem a ideia de que a escola pública é ruim por que está isenta de relações de mercado. Isto é, em uma empresa os melhores ficam e os piores são demitidos. Os bons professores ficam e os piores demitidos sob pena da empresa escola perder clientes, alunos, para outras de melhor qualidade.
O objetivo deles é que o governo terceirizasse a educação pública. Grandes contratos para que estas empresas administrassem redes públicas. E também para que o governo financiasse a educação privadas através de voucher em que cada aluno escolheria a escola de melhor qualidade - particular é claro.
Um detalhe no discurso deles, muito repetido, é a ideia de boa educação e bom professor. Um bom professor faz a diferença, uma aula boa... Estes bons e boas são pouco definidos e deixados a imaginação de quem le ou ouve estas ideias. O que seria uma boa aula ou um bom professor? O que ele faz especificamente para ser um bom professor? O que tem aquela aula pra ser uma boa aula? Sempre algo subjetivo e vago.
Uma aula boa no interior seria uma aula boa em um grande centro? Uma aula boa em uma periferia seria uma aula boa em uma área de alto poder aquisitivo?
Estes ideólogos educacionais são muito críticos do sistema público. Eles casaram duas ideias bem convenientes ao atribuir o fracasso escolar ao excesso de disciplinas e ao aparelhamento do Ministério da Educação por membros do PT e sua ideologia gramsciana.
Inventaram agora que professor doutrina ao invés de ensinar. Ora, não faltariam dados para comprovar uma prática que ocorreria em escala nacional para uma pesquisa que não se sabe o motivo não existe.
Toda esta desmoralização do professor e da escola pública já vem acompanhada de uma solução: mercado e estado Mínimo.
A experiência destes ideólogos é com escola particular. Onde expectativas e desafios são muito diferentes daqueles encontrados na maioria das escolas brasileiras.
b) Ideólogos Educacionais de Academia
São pesquisadores institucionais, ligados a Universidades Federais em geral, que vendem projetos educacionais a governos mais ligados ao mercado. São projetos na medida certa, que partem da responsabilização dos professores pela baixa qualidade de ensino.
A ideia dos mesmos é mostrar que mesmo que os professores ganhassem bem, sem cobranças e possíveis demissões a qualidade não melhoraria. Nenhum deles propõem ou apresentam projetos necessariamente pedagógicos que operacionalmente ajudaria os professores a reverterem estes quadros.
Basicamente, vendem aos governos interessados a ideia de que a questão não é salário, nem formação continuada e nem competência das secretarias de educação. Vendem a ideia de que a pressão em cima do professor por resultados é a alternativa mais viável para reverter estes quadros.
> Minha visão como sociólogo e professor:
Já trabalhei em diversos lugares como professor de escola pública dos mais carentes aos mais abastados. Eu via em todos estes lugares problemas que variavam conforme as condições sociais e culturais dos alunos.
Via professores, diversas áreas e métodos, tendo os mesmos resultados nos conselhos de classe. Cada um com o melhor que sabe e sem com isto ter resultados muito diferentes entre si.
Via que a complexidade de se ensinar alunos em situação de risco ou muito carentes poderia muito bem ser trabalhada se houvesse pesquisadores e trabalhos que ajudassem estes professores a lidarem com estes alunos e a conhecerem melhor seus mundos.
Muito dinheiro é gasto, bolsas estudantis, bolsas de financiamento de pesquisa, verbas e verbas para pesquisas educacionais e poucos projetos e iniciativas retornam para as escolas em termos de formação do professor e intervenção pedagógica.
Ensinar é mais que dominar conteúdos. É preciso relacionar o que o professor sabe e aprendeu durante sua vida e formação acadêmica com o mundo dos alunos. Falo dos meus 11 anos como professor, você pode ser um Ph D em qualquer coisa, mas não vai ensinar se não conseguir relacionar o que você sabe com o que o aluno sabe.
Aí vem o ponto chave: o que o aluno sabe depende do mundo que ele vive. Deste mundo surge seus interesses e a própria forma de se ver no mundo e construir seus projetos. Sem compreender isto, não se ensina nem se aprende.
Este aspecto antropológico do ensino é algo completamente ignorando pelos Ideólogos das diversas categorias. Quando eles falam do bom professor e da boa aula, sim ambos usam estes termos, eles não tem ideia de que ensinar depende de fazer esta relação.
Um professor não aprende na faculdade a fazer esta relação. Ele aprende sozinho, enfrentando situações e desafios diversos. Se ele topa com realidade muito diferentes da sua e do seu mundo ele terá dificuldades e problemas para ensinar.
Fica a pergunta, os gastos com pesquisa educacional não chegam até este professor, para aperfeiçoar sua formação e para conhecer melhor seu aluno para melhor ensinar, então para que ou quem estão servindo estes gastos?