O PONTO E O UNIVERSO

(Elucubrações filosóficas em um dia chuvoso)

Geometricamente falando o ponto não tem dimensões e sua existência é só uma ideia, em tese. Como ele não tem dimensão alguma, é imensurável e, portanto, sua utilidade é como emulador para dar continuidade a uma das mais belas teorias. Não só não é fisicamente palpável como pode ser entendido como o começo do sem fim. Isso transcende qualquer teoria ou especulação de raciocínio, como se uma base do tudo fosse o nada. Na Geometria Projetiva temos que, se deslocarmos este "nada" descreveremos um trajeto, um movimento do "nada" que traria a primeira dimensão, o comprimento. Se este trajeto for retilíneo, como o próprio nome diz, teremos um segmento de reta que, daí sim, teve um início e teve um fim e podemos medir. Se não for retilíneo, mas imaginarmos uma ligação entre a partida desse ponto ao seu final, no menor espaço imaginável, teremos também o segmento de reta, que é a famosa menor distância entre dois pontos, independente de por onde o ponto, que é o nada, tenha andado. Bom, digamos que se queira aumentar este segmento colocando o segundo ponto bem distante, estaremos nos dirigindo a um novo conceito saindo do segmento para quase que uma reta, pois a noção primitiva de reta é que ela vai até o infinito. O infinito geométrico não pode ser menor que o infinito astronômico, ou, em linguagem poética, vai além da última estrela do firmamento. Se a poesia nos faz entender melhor, pois no seu enlevo nossa alma faz do cérebro coração, também é nela que podemos metamorfosear e nos perder nas quimeras. Voltemos, pois, à nossa massa cefálica, agradecendo a lubrificação poética. Vamos lá: se enviarmos um ponto para o infinito e ficarmos com o outro na mão, este ponto é o inicial e, portanto, teremos representado na trajetória do ponto que enviamos ao infinito somente a metade de uma reta, pois o início dela está em nossa mão. Metade de uma reta ainda é um segmento, em que pese uma de suas extremidades estar no infinito. Mas será mesmo que o ponto que mandamos viajar por não sei quantos milhões de anos luz, que a teoria geométrica reduz a um átimo, vai mesmo encontrar um final para chamar de infinito? E, encontrando ou não, terá como recompensa certa ser o final da metade de uma reta?

Prossigo:

Digamos que o ponto acima tenha chegado ao seu destino; na minha mão tenho o início da metade de uma reta. Então, olho para o lado oposto e envio outro ponto ao outro lado do infinito com o anelo de formar uma reta e ter na minha mão o ponto geométrico correspondente à metade dela. Se estivesse em Física poderia especular a Teoria Quântica ou a da Relatividade, intuitivamente concordando de que o Universo está ou pode estar em expansão... Voltemos à Geometria: se os dois segmentos de reta continuarem ad infinitum, um dia, uma hora, num átimo, irão se encontrar? Se sim, então teremos um círculo e em minha mão estará o início e o fim da reta que vira no infinito um círculo de raio em expansão... E só com esse preâmbulo das simples noções de uma Geometria Primitiva me encanto e dele confirmo que se o Universo está em expansão, senão segundo a Física com total certeza segundo a minha geométrica intuição. E posso concluir que Deus na Geometria, na Física e na Matemática também faz parte dessa dinâmica que não cabe em minha mente e talvez nem em todo o mundão do Universo. É o meu Deus Geométrico.

Armand de Saint Igarapery – Textos no Face e no Recanto das Letras