A GRANDE HIPOCRISIA SOCIAL(CRISTÃ)- PARTE 2 DE 2
O que é pecado? Alguém pode pecar contra deus? Desde a antiguidade que pecado se lava com dinheiro
*Por Antônio F. Bispo
A ideia do sagrado e a ideia de um deus qualquer podem não ser as mesmas coisas para pessoas diferentes. Alguns conseguem enxergar sacralidade nas coisas simples da vida. Outros tornam sacros e inacessíveis seres do imaginário coletivo, aceitam pesados fardos em nome desses seres, passam a ter uma vida com alto grau de mediocridade, e querem transformar todos ao seu redor em seres iguais a eles.
As boas relações entre povos é algo sagrado que tem sido substituído por ditames de divindades que apodrecem nossas relações e não há nada de divino nisso. Em nome da vontade dos deuses, as pessoas tornam sua própria existência e a de tantos outros laboriosa e conflitante.
Nem tudo que se cultuam como sagrado realmente o é. Não há sacralidade nas loucuras incitadas pelos mais diversos ritos religiosos. Qual a sacralidade de degolar um animal em honra de uma divindade, explorar os recursos financeiros dos ignorantes, ou trazer sob o medo e ameaça milhões de pessoas que são proibidas de dizer o que pensam ou sentem com medo de represálias?
Procurar a diplomacia nas relações, dar pão ao que tem fome, dar de beber ao que tem sede, vestes ao que tem frio e procurar conhecer e dominar suas próprias emoções ou impulsos animalescos, isso sim é sagrado. Isso sim gera resultados proveitosos. Isso sim pode realmente trazer algum tipo de salvação a quem pratica e a outros. Matar ou morrer em nome dos deuses de nada vale a pena! Passar a vida tentando convencer outros a um modo medíocre de ser baseado em crenças vãs também para nada serve. A ideia de deus muda com os interesses locais dos que os representam.
Rastreando o comportamentos das pessoas que vivem suas crenças baseadas apenas em ritos mortos, podemos perceber que a grande maioria, senão todos eles, vivem afundados na irracionalidade, apenas repetindo padrões já estabelecidos e a hipocrisia é o certificado de conquista que exibem como se fosse um troféu. São capazes de coar sementes de alface, e engolirem um coco inteiro, com o coqueiro, palha raiz e tudo mais, sem perceberem o estrago que irão causar a si mesmas e a outros. São capazes de pela conquista de um paraíso vindouro para si, promoverem um inferno atual para tantos outros, e em nome do “deus de amor” promoverem as maiores guerras e desavenças possíveis.
O conceito mais estranho, controverso e antagônico que a sociedade cristã já construiu foi o conceito de pecado. Quando pensam em pecado, pensam sempre em algum possível prejuízo que possam estar causando aos seres ditos imateriais, que supostamente não poderiam ser prejudicados em nada por não terem um corpo capaz de se deteriora. Nunca pensam em pecado como um prejuízo que possam estar causando a uma pessoa real, com sentimentos e emoções reais, e que podem inclusive vir sofrer ou morrer pelas ações inapropriadas dos que dizem ser mensageiros da vida.
Nesse conceito, pensam que podem estar entristecendo a um deus qualquer e sua hierarquia de anjos e santos, mas não pensam que podem estar prejudicando a moral e a honra de uma família. São capazes de destruir a vida financeira e a fonte de sustentabilidade de um pai de família, incentivando doações de valores absurdos para enriquecimento de líderes religiosos por demais gananciosos e acham que isso é um favor aos deuses. Não enxergam que isso sim é um pecado!
São capazes de sair azedando a vida de tantos que de bom grado não se submetam aos ditames de crenças de suas lideranças eclesiásticas, desconsiderando o próprio conceito de livre arbítrio que eles dizem ser uma dádiva do criador.
Conseguem enxergar maldade em tudo e em todos, mas como fantoches, não conseguem perceber a maldade que cometem contra si mesmos, comprando qualquer objeto que foi tornado sacro, juntando um montão de coisas inúteis em suas casas, mentindo a si mesmo que sua vida vai mudar só por que comprou tais bugigangas benzidas.
Sempre pensam no pecado como uma desobediência a deus, algo que pudesse ser feito para entristece-lo, feri-lo ou machuca-lo. Como alguém pode ferir, entristecer, ou machucar um ser imutável? Segundo o sentido da palavra, nada que façamos, ou deixemos de fazer, poderia afetar para o bem ou para o mal suas emoções ou sua personalidade.
Para que serve essa fé? Como realmente alguém pode pecar contra deus a não ser pelo fato de estar causando prejuízo a uma pessoa comum? Que tipo de ser imaterial pode sofrer prejuízos? Em que se baseia o princípio do pecado? No prejuízo que causamos a outros ou no prejuízo que causamos aos deuses? Como pode o indestrutível ser destruído e o imortal vir a morrer por ações que meros mortais executam? Nunca ouviu-se dizer que deus algum tenha morrido por que alguém pecou aqui na terra. Mas seria possível contabilizar dezenas de milhões de pessoas que foram mortas em nome dos deuses ou a mando deles. Isso sim é um grande pecado.
Para os por demais puritanos, que receiam pecar até em pensamentos por pensar coisas contrárias ao que as massas religiosas afirmam ser verdade, informo que não foram em rituais de adorações inúteis que os maiores problemas da humanidade foram resolvidos. Foram nos tribunais por meio de adestrados juristas, oradores e filósofos. Foi na solidão de um laboratório cujo cientista buscava soluções para cura de enfermidades que a fé nunca curou. Foi por meio de legisladores honestos que puseram suas vidas em riscos ao escolher a razão e a verdade dos fatos ao invés da fé para dar o veredicto de uma causa, e foi pelas mãos hábeis de simples pedreiros e tecelões que por meio de técnicas aprendíveis e ensináveis tem se produzido meios para abrigar e acolher nossos corpos para que os mesmos estejam em segurança contra as mais diversas variações climáticas que sofremos e de predadores.
Faça uma lista de quantos problemas sociais já foram resolvidos apenas dando likes em fotos, digitando amém ou com ritos de adoração e verás que a soma de todos eles será igual ou inferior a zero.
Diariamente bilhões de pessoas se mobilizam para resolver suas causas e proverem sua sustentabilidade. Apesar de tudo, muitos sentem-se culpadas se não afirmarem publicamente que o resultado de suas conquistas é a mão de deus que preparou tudo. Depois de você trabalhar, se esforçar, correr riscos, se machucar, se ferir ou se arrebentar, se não der graças a deus, vão te apedrejar! Bandidos e marginais também dizem graças a deus depois de saírem ilesos dos crimes que cometem...
Poderia ele (deus) ter preparado tudo sem que fizéssemos absolutamente nada? Por que não? Tais pessoas nem prestam atenção, que em certos casos, aquilo que se considera como a prosperidade de uns depende da exploração de outros, como pode se notar dos vários tipos de mercadores existentes, incluindo os da fé.
Num mundo de quase 7.5 bilhões de pessoas reais, a maioria ainda vivem fazendo cursos diário sobre etiquetas e bons costumes para relacionamentos com seres do imaginário coletivo. Não gastam nem 10 minutos mensais procurando entender a si mesmo ou comportamento humano e suas relações com o meio ambiente, mas perdem dias e anos, estudando as classes de demônios existentes, o sexo dos anjos, a hierarquias dos seres de luz, os signos dos zodíacos e preocupados por demais em saber quem faz sexo anal, oral, grupal, ou se o seu comportamento individual vai desagradar o líder religioso da comunidade local...
Geralmente os que dizem acreditar em deus afirmam que o ama de todo coração, mas se não fosse pelo medo das condenações proferidas aos desobedientes e as relações de barganhas com estes, nenhum deles praticamente agiriam como agem. Amor verdadeiro sempre será o resultado de uma relação entre duas pessoas que se conhecem, se comunicam e interagem entre si, e nunca o resultado de um monólogo com um ser imaginário que nunca deus as caras. Nos manicômios, esse conceito de amar e conversar diariamente com amigos imaginários tem nomes de loucura. Na vida cotidiana de um cristão tem nome de comunhão com deus.
Um deus que usa o castigo e recompensa como premissa de seus relacionamentos não pode de modo algum dizer que é amado. É apenas temido e o medo é apenas um estado temporário de espirito. Perdendo-se o medo desse deus, perde-se o amor por ele. A barganha também é ainda um estado mais baixo, pois leva a pessoa se vender ou vender o que quer que seja em troca de migalhas. A religiosidade comum ensina as pessoas a viverem sob o medo ou barganha e chamam isso de amor a deus.
No reino da construção de pecado e da hipocrisia cristã, vemos os grandes moralistas (ou abobalhados da fé) considerando ações isoladas como sendo mais prejudiciais do que ações com efeito coletivo e destrutivo. Até jornalista famoso, que no alto de sua arrogância, chega atribuir as causas de todos os problemas sociais de nosso país, ás pessoas que não acreditam em deus, sem nem se dar conta, que estar assumindo publicamente que a fé de mais de 95% da população que acredita em deus tem efeito inferior a não crença de menos de 5% que diz não reverenciá-lo. O que esperava-se ser uma ação louvável, é apenas mais uma expressão máxima do ridículo que as pessoas cometem em nome do invisível e do improvável.
A exemplo da grande hipocrisia dos que usam apenas os ditames da fé para regerem suas vidas, vemos como os tais fazem julgamento absurdos, e saem distribuindo sentenças a tudo e a todos o tempo inteiro, não apenas baseados “pecado” que poderiam estar causando a outros, mas no pecado, segundo a visão do que diz a sua fé ou seu grupo de pessoas com mentalidade mesquinhas.
Como exemplo dessas hipocrisias podemos citar o caso de duas pessoas do mesmo sexo, ambas livres e descomprometidas, que trancados sozinhos em seus quartos exprimem sua sexualidade, sem se expor ou expor a ninguém, causando “prejuízo” apenas a eles mesmos (se isso for um prejuízo). A hipocrisia cristã social baseado apenas na fé, diz que esse ato é uma abominação horrenda aos olhos de deus, e quando descobertos querem crucificá-los a todo custo, pois isso é imoral, inaceitável, intolerável, indecente, o princípio da ira divina, a razão pela qual deus estar constantemente irado com a humanidade, e tal, e tal...
Para quem já estudou os princípios da psicologia freudiana, é possível pensar que todo cristão por demais moralista, que se incomoda com a sexualidade alheia é um homossexual disfarçado, que procura projetar no outro de modo claro, aquilo que ele interiormente tem sido as ocultas. Agora vejam como os tais encaram o que realmente causa prejuízo e dão sentenças mais leves para situações mais “pesadas”, principalmente se for relativo a alguma pessoa de destaque em seu grupo.
Tais pessoas (hipócritas), que julgam a homossexualidade como a causa primordial dos males do mundo, não veem que pessoas casadas, comprometidas, heterossexuais, cristãs, que fizeram votos de fidelidade diante de um altar, que vivem afundados diariamente em ritos religiosos e que as escondidas ou as claras, vivem a trair os seus conjugues, destruindo várias outras uniões estáveis, sendo pivô de desconfiança ou desarmonia nos lares, causam mais prejuízo moral e financeiro para tantas outras famílias por meios dos escândalos, divisão de bens e falência de negócios (quando se há), trazendo um prejuízo em escala “tissunamica” por não honrar os votos de fidelidades feitos publicamente.
A mesma sociedade de cristã (hipócrita) considera uma traição, com baixaria, escândalos, brigas, ameaças de morte e todo tipo de conflito, mais tolerável e aceitável do que saber que alguém fez uso indevido do canal excretor ou da vulva. Há uma readmissão e tolerância bem mais rápida no segundo caso do que no primeiro. Na concepção destes, os que cometem os delitos do segundo caso citado, basta só dobrar o joelho e pedir perdão a deus, ascender uma vela para um santo qualquer, ou falar em línguas estranhas numa igreja evangélica que está tudo resolvido!
Que hipocrisia dos infernos! Condenam-se uma pessoa por expressar sua sexualidade de modo individual e não prejudicial a ninguém e chamam isso de pecado grave, mas são capazes de perdoar, amar, esquecer e paparicar uma outra pessoa que usando a mesma sexualidade de modo leviano e intencional, causou prejuízos financeiros e emocionais incalculáveis, com efeito duradouro a inúmeras pessoas.
Essa moralidade causa nojo em qualquer pessoa que ainda faça uso de seus neurónios! O conceito de pecado cristão segundo os que vivem apenas de rituais mortos, em certos casos fede mais do que lixo hospitalar. Vale lembrar que não existe tamanho de pecado que um bom dízimo não possa apagar e que não existe “história suja” que não possa ser reescrita de modo heroico caso você seja uma pessoa influente. Tudo só depende de quanto você pode pagar por isso, ou o quanto os tais podem se beneficiar de sua pessoa ou de sua imagem.
Vale lembrar que na maioria dos casos, os que mantem algum tipo de relacionamento homo afetivo, não fizeram votos de fidelidade diante de público nenhum, exatamente com receio de serem destratados socialmente por toda uma vida, enquanto os cristãos heteros, que tem o adultério como hábitos constantes, fizeram votos de fidelidade diante de todos, inclusive das divindades e juraram que se respeitariam e se amariam acima de tudo, sem falar que a maioria dos votos feitos por estes só valem na saúde e na riqueza, por que na pobreza, na velhice e na doença, acaba sempre um dos dois dando um pé na bunda do outro. Nesses casos quando o valor em questão é muito alto, encomendam-se até a morte contratada para abreviar o tempo para usufruir do patrimônio coletivo de forma individual. Com a cara de pau, ainda vão ao velório chorar, ou entregar os dízimos, resultados do lucro de algo tão imoral quanto esse.
Perguntem a qualquer cristão o que é pecado, e cada um vai falar sobre pecado, como sendo algo que possivelmente pudesse desagradar a deus. Vão citar sem saber, vário artigos do estatuto da própria igreja e dizer que isso é pecado. Vão dizer que é por que deus fica triste, por que ofende a deus, por que deus não quer, etc. Vão rodar, rodar e rodar sem nem sequer saber definir o conceito de pecado e no final das contas irão remeter ao fato que seja algo que possa envergonhar, entristecer, denegrir ou ferir a imagem de deus.
Agora vejam: Extorquir o povo, iludir, cultivar a ignorância, cobrar pelo que foi dito que seria de graça, perseguir, denegrir, caluniar ou difamar qualquer um que não se dobre ao seu conceito de verdade. Isso sim seria um pecado, mas os tais não enxergam assim.
Muitos morrem, adoecem, ou passam toda suas vidas deprimidos, preocupados por demais em saber se estão ou não pecando, se estão ou não agradando a deus, se estão ou não agradando as lideranças. Difícil definir o que realmente agrada a deus se usarmos a bíblia contra a própria bíblia comparando o novo e o antigo testamento. Difícil dizer o que é pecado nesse oceano tenebroso da hipocrisia e do interesse financeiro dos que dizem servir ou representar a deus. Quanto a questão de estar agradando as lideranças, isso é mais fácil. Basta apenas definir o que você tem a oferecer, ou como eles podem te usar. Você não precisa ser justo, santo, ou fiel para agradar a maioria das lideranças. Só precisa ser capacho! Quando decidires não ser mais, tudo que você fez será considerado nulo.
Se puderes de alguma forma ter utilidade para os mercadores da fé o conceito de pecado ou desagradar a deus não importa. Se não tiveres meio de ser explorado ou manipulado, prepare-se para acertar as contas com deus no dia do juízo! Nunca se esqueçam qual o objetivo de um rebanho. Nunca se esqueça o que faz uma ovelha!
Saúde e sanidade a todos!
Texto escrito em 31/10/17
*Antônio F. Bispo é graduando em jornalismo, Bacharel em Teologia, estudante de religiões e filosofia.