À Arte, a justiça! Ainda que cega.
Quando o português chegou
Debaixo duma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.
Oswald de Andrade
Se o índio tivesse despido o português, a polêmica do MAM teria sido evitada.
Por esses dias ando a perguntar-me se as pessoas que vivem em comunidades que não usam roupas nunca se tocam a não ser de forma erótica.
Quanto à Arte, essa é reflexo da alma humana ou da consciência humana. Ou não?
Assim, ela não precisa e não existe para ser bela ou bonita. Ela é expressão, simplesmente.
De amor, dor, ódio, indignação... seja o que for. Ou não for.
É contestação... é celebração... é reflexão... ou não.
A arte pode ser a ausência provocativa,
A deselegância que incomoda,
A beleza que inunda,
A delicadeza que sensibiliza,
A agressividade que repulsa.
Arte é vida. É morte.
Arte é, simplesmente, humanidade.
Não expressar algo concretamente, por meio da Arte, não significa que isso deixará de existir.
E talvez isso seja o mais difícil. Saber que o que acontece todos os dias dentro de muitos lares, não são crianças tocando articulações de homens nus, mas homens nus tocando acima e abaixo de articulações de crianças, e tantos ou tantas fingem não saber...
Parece-me que a concretude de certas coisas estão provocando por ser espelho da perversidade da mente de quem a olha.
E haja remedinho e terapia para dar conta de tantos probleminhas. Cure seu preconceito, sua perversão, seu machismo, sua ignorância, sua xenofobia, seu racismo e tudo o mais que turva seu olhar.
Não é a Arte que perdeu a sua essência, foram seus olhos que cegaram quando passaram a enxergar através dos mesmos olhos vendados da justiça!
Lisandra Pingo