Ensaio Sobre a Exposição do MASP 2017 - Uma Experiência, um Diálogo
Este é na verdade um relato sobre minha visita ao MASP, neste sábado, dia 21 de outubro de 2017, a convite da professora da USP Lília Schwarz, com quem mantive contato por e-mail, por meio da plataforma Lattes.
Devido a diversos acontecimentos ligados à arte e a questões polêmicas nestes últimos meses, no Brasil, decidi avaliar e investigar por mim mesmo as circunstâncias
deste momento, a fim de compreender os dois lados.
Quero deixar bem claro que não sou a favor de pedofilia, zoofilia ou exposição de crianças a tais coisas, o que não foi o caso desta exposição específica, devido à classificação etária. No entanto, busquei saber por mim mesmo o que ocorria para tentar entender este momento.
Segue, portanto, meu relato.
Olá, professora. Fiquei devendo uma resposta acerca da exposição do MASP e quero aproveitar este e-mail para falar sobre isso.
Cheguei no local às 11:00 e já subi para a referida mostra no piso de cima. Foi fácil localizar até por causa da fila. Porém, como o local estava muito cheio, foi difícil andar por ali e preferi voltar mais tarde.
Tive a oportunidade de passar pela parte do piso superior, nos cavaletes de vidro. Nossa, que lugar maravilhoso! Lina Bo Bardi devia estar inspirada quando teve a ideia de expor quadros daquele jeito! Tirei tantas fotos que até perdi a conta.
Foi impressionante assistir a mostra das Guerrilla Girls. Fiquei impressionado ao ver que elas comparam números de artistas em exposição pelo mundo todo, e em quantidade, o Museu de Arte de São Paulo ganha em quantidade de mulheres expostas em relação a alguns baluartes da categoria na Europa e Estados Unidos, mesmo quase 30 anos depois.
Não deixa de ser irônico que, no piso de baixo, havia a mostra do Pedro Correa, com diversas imagens femininas. É uma mostra bonita, parabéns ao museu por oferecer este contraste.
Mas para mim o que marcou para sempre foi a mostra principal. Queira dizer, professora, que foi algo que está gravado na minha cabeça e me faz pensar até agora. O que vi ali nesta exposição foi algo que não julgo negativamente, mas não estava preparado.
O efeito da Histórias da Sexualidade foi para mim igual a um soco no estômago. Por quê? Fiquei impressionado ao ver ali, na minha frente, tantas obras que em outro contexto teriam uma conotação totalmente diferente. E aí, fiquei pensando: o belo na arte não é o mais importante, e sim, o que você quer transmitir, o efeito. Ela teve um efeito poderosíssimo porque consegui perceber o que aqueles artistas queriam transmitir.
Não era mera pornografia ou incitação ao crime: era DENÚNCIA. Eu senti nitidamente que aquelas pessoas não queriam que esquecêssemos que existem pessoas marginalizadas, sofredoras, que precisam de apoio e ajuda, e infelizmente são marginalizadas por todos.
Ao invés de julgar travestis e prostitutas, o que me deixa horrorizado são os pais de família, os homens, usuários destes serviços que, na maioria das vezes, são extremamente degradantes para os que os oferecem.
A história por trás da bailarina de Degas* simplesmente partiu meu coração. Acredito que não seja um local para crianças, mas como pode alguém condenar uma exposição crítica que expõe as vísceras da sociedade usando-as como desculpa sem entender que há jovens passando pelo mesmo no dia a dia?
É preciso que eu diga que sou religioso e, mesmo assim, não chegue a me sentir ofendido. Pelo contrário: sinto-me mais responsável pelos meus princípios e mais pronto para defender quem quer que seja. Como diz Voltaire: discordo do que você diz, mas defendo atá a morte seu desejo de dizê-lo.
Dito isto, acho que já falei demais... Muito obrigado por este convite. Eu repetiria a viagem e, um dia, quero lhe agradecer à altura por tal oportunidade!
* A obra aqui mencionada é a escultura Bailarina de Quatorze Anos, do francês Edgar Degas. A história conta que a modelo era uma menina cuja família (mãe e irmã) se prostituíam na França do século XIX. É provável que tenha seguido o mesmo caminho.